A Equinor, gigante norueguesa do setor de energia, anunciou uma revisão de suas metas para geração renovável até 2030, com corte de 50% do orçamento previsto para o segmento e aumento de sua atuação no setor de petróleo e gás.
O anúncio foi feito pelo presidente da Equinor, Anders Opedal, durante apresentação dos resultados do último trimestre de 2024 e da estratégia para os próximos anos da empresa.
Ele ocorre um mês após outras multinacionais, como Shell, BP, Chevron e Exxon, abandonarem promessas de migrar para energia renovável e ampliarem investimentos em combustíveis fósseis. A tendência de reduzir a aposta na transição energética também está se espalhando para outros setores.
Nos Estados Unidos, gestores de fundos sustentáveis estão revisando o portfólio após virem saídas recordes dessa classe de ativos em 2024 – o que contrasta com fundos convencionais, que registraram cerca de US$ 300 bilhões em entradas somente no quarto trimestre.
A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de paralisar o programa de incentivo de transição energética da gestão anterior e apostar nos combustíveis fósseis levou várias empresas a suspenderem investimentos em energia renovável, em especial nos segmentos que exigem grande aporte de capital, como eólica offshore e hidrogênio verde.
O movimento levanta a questão se as grandes empresas estão revisando sua agenda verde devido à pressão política de Trump ou apenas porque os custos da transição energética estão alto demais a ponto de inviabilizarem boa parte dos projetos previstos no médio prazo.
De acordo com Opedal, da Equinor, fatores como inflação, incertezas regulatórias e problemas na cadeia de suprimento estão elevando custos e reduzindo o ritmo da transição energética.
“Nós nos adaptamos a essa realidade, tanto enfrentando quanto priorizando investimentos para maximizar retornos”, disse Opedal, referindo-se à aposta em combustíveis fósseis, acrescentando que a transição energética deve ser “equilibrada e financeiramente sustentável”.
Com a redução de 50% do orçamento, os investimentos em energia renovável e soluções de baixo carbono da Equinor devem ficar em torno de US$ 5 bilhões entre 2025 e 2027. Atualmente, a empresa tem 2,4 gigawatts (GWs) instalados e mais 4,5 GWs em desenvolvimento para geração renovável.
A Equinor registrou aumento de 51% na produção de energia por fontes renováveis em 2024. Mesmo com esse avanço, esse segmento da empresa teve prejuízo líquido de US$ 200 milhões no quarto trimestre do ano passado. Considerando todo o ano de 2024, o prejuízo foi de US$ 676 milhões, contra US$ 757 milhões em 2023.
A estratégia da Equinor de investir mais em óleo e gás passa pelos resultados ruins do ano passado neste segmento. A produção no último trimestre de 2024, de 2 milhões de barris diários, teve contração de 6% na base anual. O lucro líquido da empresa em 2024 foi de US$ 8,82 bilhões, queda de 26% em relação aos resultados de 2023.
No final do ano, a gigante holandesa Shell já havia anunciado que não vai mais investir em eólicas offshore e hidrogênio verde.
A petroleira tem 7,9 GW em projetos potenciais de eólicas offshore na América do Norte, Europa, Reino Unido e Ásia, além de 17 GW em pedidos de licenciamento ambiental protocolados junto ao Ibama, no Brasil.
A justificativa para o recuo da agenda verde envolve o aumento nos custos de produção, dificuldades na cadeia de suprimento e os prazos mais alongados dos projetos.
“Quando você expande uma nova indústria, você lida com desafios que talvez você não identificava antes”, disse esta semana o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa. “O custo para desenvolver um projeto cresceu demais.”
Clima pessimista
O clima mais pessimista em relação à transição energética começa a contagiar outras empresas e setores.
A Raízen - referência global em bioenergia, fruto de uma joint-venture da Cosan com a Shell – viu suas ações na B3 registrarem uma queda histórica de 7,65% na quarta-feira, 5 de fevereiro, na esteira de uma série de más notícias com seu ambicioso projeto de construção de 20 usinas de etanol de cana de segunda geração até 2030.
O etanol celulósico, produzido a partir de bagaço de cana, é considerado uma alternativa mais limpa, mas os incentivos esperados para combustíveis sustentáveis, como o etanol, não se concretizaram nos EUA e na União Europeia, dois dos maiores mercados em vista pela empresa.
Nos EUA, pesou a decisão de Trump em fortalecer a cadeia do petróleo. Mais recentemente, a União Europeia ergueu barreiras ao etanol de segunda geração, minando de vez a expectativa da Raízen.
A empresa demitiu boa parte de sua equipe de sustentabilidade logo após a saída, no ano passado, do então CEO da companhia, Ricardo Mussa.
O alerta também soou no mercado financeiro americano, impactado pelos resultados ruins nos últimos nove trimestres dos chamados fundos sustentáveis, que apoiam investimentos na transição energética, numa mostra de que o segmento já vinha perdendo aderência antes da eleição de Trump.
Apenas 10 novos fundos sustentáveis foram lançados nos EUA em 2024, bem abaixo dos números de três dígitos vistos em 2021 e 2022. Do total existente, 60 foram liquidados, 11 foram fundidos em outros fundos e 24 abandonaram os mandatos ESG.
Mesmo na Europa, onde essa classe de ativos sempre teve maior receptividade, os números não são bons. As entradas totalizaram US$ 18,5 bilhões no quarto trimestre e US$ 52,4 bilhões no ano – muito pouco diante dos mais de US$ 500 bilhões registrados em 2021.