(Reportagem atualizada às 11h45 após o encerramento do leilão das ações da Vale)
A Cosan vendeu toda a sua participação na Vale. A companhia de Rubens Ometto liquidou em bloco de cerca de 4,1% da participação que detém na mineradora. A notícia do leilão foi publicada primeiro pelo Valor Econômico e depois confirmada pelo NeoFeed.
A ação da Vale fechou o pregão de quarta-feira, 15 de janeiro, aos R$ 52,60. O bloco oferecido pela Cosan começou o leilão com um desconto de 3,75%. A operação aconteceu às 11 horas de quinta, 16, com preço inicial de R$ 50,63.
Em menos de meia hora o mercado absorveu 173,1 milhões de papéis da Vale. Com a operação, a Cosan levantou R$ 9,06 bilhões. O montante ficou abaixo da expectativa de R$ 10 bilhões pretendidos pela companhia, mas acima dos R$ 8,5 bilhões esperados com o desconto no início do leilão. As ações da Vale detidas pela Cosan foram negociadas a R$ 52,29 - um "desconto final" de 0,59%.
Fontes de mercado disseram ao NeoFeed que Ometto estava entre os compradores, "na física". Indagada, a Cosan não confirmou e nem negou. Em outubro de 2022, quando a Cosan montou a posição minoritária na Vale, Ometto disse que comprou as ações da mineradora na hora certa porque estavam baratas, pois a empresa detinha “ativos bons, líquidos, irreplicáveis”.
O leilão foi coordenado pelo J.P. Morgan. “Sempre acreditei no Brasil e por isso invisto aqui. A Vale é um ativo extraordinário e confio muito na nova gestão. Entretanto, o patamar atual da taxa de juros nos obriga reduzir a alavancagem da Cosan. Na minha trajetória de empreendedor, fui ficando mais pragmático. Já passei por muito e aprendi que o foco deve ser na disciplina financeira para podermos continuar crescendo”, diz Rubens Ometto.
O CEO da Cosan, Marcelo Martins, foi na mesma linha. "Foi uma decisão pragmática e estritamente financeira. Considerando a atual taxa de juros no Brasil, ficou difícil apostar em uma valorização expressiva do mercado acionário. A Vale é um ativo de altíssima qualidade e muita liquidez, e a Cosan está em uma trajetória clara de redução de alavacagem", disse Martins.
Os dois anos de “trade” com a Vale resultaram em perdas significativas para a Cosan. Desde a aquisição de 4,9% de participação na mineradora, em outubro de 2022, a holding viu as ações da empresa investida recuarem 20%. Na época, Ometto disse que comprou as ações da mineradora na hora certa porque estavam baratas, pois a empresa detinha “ativos bons, líquidos, irreplicáveis”.
Considerando essa venda e a realizada em abril de 2024, a Cosan acumulou um saldo negativo próximo a R$ 3,3 bilhões devido à desvalorização dos papéis. Incluindo os juros sobre a dívida contraída para a compra da participação na Vale, a operação gerou um prejuízo próximo a R$ 5 bilhões, segundo fontes do mercado.
Redução da alavancagem
Em abril do ano passado, a Cosan já tinha vendido um lote de ações da Vale para fazer caixa. Ao longo do segundo semestre, o mercado especulava que a gigante do setor sucroalcooleiro faria uma operação para se desfazer de toda a sua participação e reduzir o endividamento.
Os R$ 9,06 bilhões levantados com a venda da participação na Vale serão usados na íntegra para reduzir o endividamento. A dívida bruta da Cosan, que estava em R$ 24,2 bilhões no encerramento do terceiro trimestre de 2024 vai ser reduzida em 40%, para algo perto de R$ 14 bilhões.
No balanço do terceiro trimestre, a empresa estava com uma alavancagem de 2,9 vezes. A dívida líquida estava em R$ 59,7 bilhões - um aumento de 59% sobre o terceiro trimestre de 2023.
Houve um crescimento da relação dívida líquida sobre Ebitda na comparação com o trimestre anterior (2,7x) como reflexo do maior consumo de caixa da Raízen em razão da sazonalidade de início de safra, e da Compass, pelo pagamento de dividendos e aquisição da Compagas.
A Cosan tinha uma posição de caixa de R$ 2,5 bilhões, segundo o último balanço. O prazo médio de amortização da dívida era de 6,4 anos e o próximo desembolso será de R$ 2,5 bilhões em 2027 (valor principal, sem considerar os juros e a marcação a mercado).
Mas a própria Cosan informava no balanço que, ao retornar o efeito das ações da Vale na posição de caixa, a alavancagem era de 2,4x. Sem a posição da empresa na mineradora, a dívida líquida seria reduzida, naquele momento, para R$ 48,5 bilhões - com base no valor da ação da Vale no fechamento do terceiro trimestre.