Desde 2016 à frente da loja AD.STUDIO, no Rio, Paloma Danemberg, de 38 anos, vem dando uma sacudida na percepção que se tem de móveis e objetos antigos, que ela restaura e para os quais sugere novos usos em projetos de interiores contemporâneos.
Um engradado de bebidas vira, por exemplo, um revisteiro. Baús se tornam mesas laterais ou de centro. Emoldurados, pôsteres de publicidade e cartazes de cinema, dos anos 1950 e 1960, ganham as paredes quase com status de arte.
A curadoria e ressignificação dessas peças é mérito da criatividade de Paloma, que ainda neste primeiro semestre de 2023 inaugura a primeira filial de sua loja, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, cidade onde mora há um ano. O ofício, por sinal, está em seu DNA.
Paloma é a terceira geração de uma família dedicada ao antiquariato, iniciado por seu avô e levado adiante por seu pai, Arnaldo Danemberg, veterano com mais de quatro décadas dedicadas ao estudo, à coleção e comercialização de antiguidades.
Ainda hoje, pai e filha fazem juntos as viagens de garimpo pela Europa, que Paloma experimentou pela primeira vez aos 12 anos. Arnaldo a levou a um leilão da Sotheby’s, na Inglaterra, e alertou que ela poderia fazer tudo, salvo levantar uma mão. Naquele contexto, o gesto significaria dar um lance para tentar arrematar o item que estivesse sendo exibido.
Arnaldo havia marcado os lotes de sua preferência e arrematou um a um, consecutivamente, com uma Paloma contida e silente a seu lado. Exceto quando ele conquistou o quarto e último lote: a menina não se conteve e soltou um sonoro “iuhu”. “O leiloeiro olhou para minha cara sem entender aquela espontaneidade, de uma criança que parecia estar no Maracanã”, conta Paloma ao NeoFeed.
Sua memória mais marcante dessas jornadas, no entanto, é de 2011, quando Paloma tinha 27 anos e estava em Bordeaux, a cidade francesa onde a família mantém sua base de operação na Europa, a saber, um galpão e um caminhão, a bordo do qual cruzam o continente atrás de raridades em leilões, feiras, castelos etc. À época, Arnaldo estava em busca de uma opalina Charles X, um vaso neoclássico francês. Ele já desistira de procurar a peça, voltara para o hotel, mas a filha insistiu em investigar mais.
“Fiquei rodando, rodando, e meu pai sempre falou que eu era um ‘cão farejador’. Realmente olho onde ninguém está olhando”, conta Paloma, que acabou avistando um exemplar, dentro de um armário, mas, por ser um objeto de grande valor, ela preferiu não comprar, para não correr o risco de, como neófita, não acertar. No entanto, fez fotos com o celular, correu de volta para o hotel e bateu à porta do quarto de seu pai, perguntando se aquela era a opalina que ele cobiçava.
“Hoje nasce uma antiquária”, respondeu Arnaldo, naquele momento, segundo a empresária. “E ele disse que não era apenas por tê-la encontrado, mas por não ter desistido dela. Aquilo para mim foi um marco. Tudo que veio depois só foi possível por causa desse achado”.
A trajetória da empresária no ofício teve, porém, alguns desvios. Diferentemente do que muitos costumam crer, ressalta a própria Paloma, ela não se formou em arquitetura, belas artes ou design de interiores. Mas sim em jornalismo, na PUC/Rio, um curso que a levou a uma trajetória de sete anos em televisão.
No Brasil, estagiou no Canal Futura, no departamento de compra e venda internacional de programação. Faltando um semestre para terminar a faculdade, trancou o curso e foi para Barcelona, fazer uma especialização em produção de TV e cinema. Lá trabalhou na Cromossoma, a principal fornecedora de animações para o Futura na época, como a “Bruxa Onilda”. Da Espanha, vendia desenhos para o mundo todo.
“Viajei para Cannes, encontrei o Silvio Santos numa feira, acabei ficando três anos, voltei para não ser jubilada da faculdade e porque não queria me expatriar completamente”, conta. Novamente no Rio, Paloma encerrou sua carreira em TV no canal Multishow, fazendo produção e direção de alguns programas.
Quando Arnaldo completou 30 anos de atividade, ele queria não somente dar continuidade, mas também crescer. “Então minha mãe e ele perguntaram se não era a hora de eu tentar assumir o negócio da família, se fazia sentido”, lembra.
Aos 27 anos, Paloma se tornou gerente geral da empresa. “Foi realmente uma mudança de 180º. Em princípio, eu fui para um mundo muito distante de tudo aquilo que eu estava vivendo”, conta Paloma, que então fez um MBA de negócios na Fundação Getúlio Vargas.
Seu pai tinha à época o desejo de migrar para São Paulo, onde em 2015 abriu a Arnaldo Danemberg Collection. Três anos depois, fechou o antiquário do Rio, que ficava no Edifício Chopin, ao lado do Copacabana Palace. O AD.STUDIO surgiu dentro da loja de seu pai, como uma espécie de linha, “com um olhar diferente para aquele negócio”, diz.
A ideia era oferecer peças vintage, “com valores para todos os bolsos”, a serem combinadas pelos compradores ou por arquitetos com móveis e objetos contemporâneos, ou em composições que ela mesma propunha ao cliente. As peças decorativas começam em R$ 380.
De uma linha, o AD.STUDIO se tornou uma pop-up store no Shopping Leblon, que funcionou por dez meses, sete a mais do que o inicialmente planejado. Em 2019, Paloma abriu ali mesmo a sua concept store, um sucesso entre publicitários, advogados, profissionais do mercado financeiro, médicos, mas sobretudo artistas.
Suas peças, na maioria dos séculos XIX e XX, pertencem a universos variados – automobilismo, esporte, gastronomia, aviação, farmácia e medicina, entre outros – e atraem muito o público masculino. Um de seus achados recentes preferidos são luminárias de minas da Europa Central, que ela garimpou na Espanha, e viraram um de seus best-sellers.
As propostas de Paloma têm sido tão exitosas que se desdobraram em colaborações com outras marcas, como Isabela Capeto e Granado. As viagens com o pai continuam, agora menos longas para ela, que além de viver na ponte aérea, tem uma filha pequena para cuidar, Rafaela, de 7 anos.
Cinco anos a menos que a empresária quando teve sua primeira experiência no universo de antiguidades, no leilão inglês. Um tempo já meio distante, mas de onde Paloma guarda a inquietação, o entusiasmo e o olhar lúdico para coisas do passado que ganham novo sentido no presente.