Quando a Universal Music vendeu uma fatia de 10% para um consórcio liderado pela chinesa Tencent em dezembro do ano passado, o mercado foi surpreendido pela avaliação da companhia: US$ 33 bilhões.
Agora, em fevereiro, foi a vez da Warner Music surpreender o mercado. A companhia confirmou, no começo de fevereiro, que pretende abrir o seu capital.
A reestreia da Warner Music em Wall Street, depois de ter seu capital fechado em 2011, quando foi comprada por US$ 3,3 bilhões pela Access Industries, do ucraniano Leonardo Blavatnik, é mais um sinal de que a indústria fonográfica está voltando às paradas de sucesso.
Em 2000, a indústria fonográfica atingiu seu auge, quando faturou US$ 23,8 bilhões. Desde então, as receitas começam a cair. O setor não soube se adaptar às mudanças do mercado e resolveu lutar nos tribunais contra serviços de pirataria, como o Naspers, em vez de digitalizar seus produtos.
O resultado foi que, em 2010, o faturamento global do setor tinha caído para US$ 15,1 bilhões. Até 2015, a indústria ficou nesse patamar, como um caranguejo andando de lado.
Mas a partir de 2015, as coisas começaram a mudar. E depois de um longo inverno, o setor voltou a crescer - lentamente, é verdade. Dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês) mostraram um avanço de 3,5% em 2015, o primeiro depois de muitos anos de queda. Em 2018, o dado mais recente, o faturamento da indústria fonográfica atingiu US$ 19,1 bilhões.
Boa parte desse avanço deve-se aos serviços de streaming, como Spotify, Apple Music, Amazon Music e Deezer. Nos Estados Unidos, eles representam 80% da receita do setor. Globalmente, a fatia está perto de 50%, segundo a IFPI. As gravadoras ganham uma remuneração toda vez em que uma música de seu catálogo é ouvida pelos usuários.
“Se tivessem me perguntado, há dez anos, eu não pensaria em dizer isso, mas agora, para um gestor, os ativos de música são relativamente sólidos e seguros para acrescentar ao seu portfólio”, afirmou Mark Mulligan, diretor da empresa de pesquisa londrina MIDiA Research, em uma entrevista à Variety.
É neste contexto que a Warner Music quer voltar a Wall Street, numa oferta liderada por Morgan Stanley, Credit Suisse e Goldman Sachs.
De acordo com prospecto apresentado aos investidores, a gravadora, que tem no seu catálogo artistas do calibre de Ed Sheeran, Bruno Mars e Cardi B, informou lucro de US$ 258 milhões no ano fiscal de 2019. O faturamento saltou de US$ 3,6 bilhões, em 2017, para US$ 4,5 bilhões, em 2019.
A companhia aposta que os serviços de streamings vão fazer com que os consumidores ouçam cada vez mais músicas. Um estudo da IFPI apurou que os usuários ouviram, em média, 18 horas de música por semana em 2019. A média é ainda maior se levarmos em conta apenas os millennials (pessoas com idade entre 23 e 38 anos), que ouviram 29,7 horas de música por semana.
De acordo com os dados da Warner Music, a rapidez em se adaptar a esse ambiente virtual, fechando acordos pioneiros com empresas como Apple e YouTube, foram cruciais para a gravadora manter a liderança no setor.
"Nos adaptamos ao streaming mais rapidamente do que qualquer outro grande player do setor e, em 2016, fomos o primeiro grande conglomerado fonográfico a reportar o streaming como sendo o maior responsável percentual de nossa receita com música", diz um trecho do documento.
A empresa explica ainda que 25% de sua receita vem da venda de mídias físicas; 14%, de shows e performances; e 2% com a comercialização de licenças de músicas para videogames, comerciais, filmes e afins.
A IFPI estimava o número de assinantes pagos de serviços de streaming em 255 milhões em 2018. Mas há ainda muito espaço para crescer. Menos de 8% dos 3,2 bilhões de smartphones no mundo estão cadastrados junto a uma empresa da área.
Citado 18 vezes no documento, o Brasil parece ser um mercado importante para a Warner Music, que explora novos mercados apostando em talentos locais. Por aqui, a Warner Music conta com a Anitta como um case de sucesso.
A Warner Music também fez aquisições que a posicionarem bem neste novo mundo digital. Em 2018, por exemplo, ela comprou a Sodatone, empresa de dados que oferece insights sobre o possível sucesso de artistas e suas canções.
Pouco depois, foi a vez da aquisição da UPROXX, empresa de produção de vídeo com foco em conteúdo jovem. Na esteira das compras, a Warner também levou a Songkick, usada pelos usuários para "descobrir" novos artistas.
Mas como todo disco tem seu lado B, o IPO da Warner Music também conta com questões que podem afugentar os investidores. Uma delas é sua dívida de US$ 3 bilhões. A outra são as ações que serão vendidas no IPO, que não darão direito a voto.
Sem data ainda para começar a vender suas ações, são dois fatores que podem desafinar o IPO da Warner Music em Wall Street.
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