Anunciado no último dia 30 de março, o arcabouço fiscal dividiu opiniões. De um lado, houve otimismo com os sinais emitidos pela equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De outro, não faltaram críticas em relação a possíveis inconsistências embutidas no plano proposto.
Perto de completar duas semanas dessa divulgação, a primeira corrente parece ganhar força nesse debate. E essa onda foi reforçada por um nome de peso na manhã desta quarta-feira, 12 de abril, dando mais uma amostra de que o mercado começa a aceitar o novo pacote, mesmo que com restrições.
“Houve uma certa cacofonia no início do governo sobre qual era a direção que as coisas estavam indo”, disse André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, durante o BTG Together, evento promovido pelo banco.
Na sequência, ele discorreu sobre o novo arcabouço. “Estou lendo esse lançamento como uma rearrumação numa direção mais esperada pelos mercados no período pré-eleitoral, de disciplina e juízo”, afirmou. “Ele tem algumas sutilezas que, para mim, são mais importantes ainda do que a medida em si.”
Como uma primeira “entrelinha” positiva, Esteves citou que o pacote sugere um superávit primário moderado, que cabe no orçamento do país, abrindo caminho para dados fiscais para este ano acima das expectativas do mercado.
“Por si só, o arcabouço tem o objetivo e a consequência de tirar o risco de cauda do Brasil ir numa trajetória insustentável de dívida e andar numa direção Argentina ou coisa parecida”, observou Esteves.
Em um segundo ponto, também conectado à cacofonia que enxergou no início do novo governo, o sócio do BTG destacou a importância do que ele classificou como o apoio explícito do presidente Lula ao arcabouço fiscal, dando sinal verde para a divulgação e com elogios ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Acho que, na verdade, é isso que está por trás das melhoras no mercado ontem”, afirmou, em uma referência a alta de 4,29% do Ibovespa no fechamento do pregão da terça-feira, 11 de abril. “E o mercado vai melhorar de novo hoje no Brasil e tem muito a ver com isso.”
A terceira sutileza, na visão de Esteves, são as pequenas modificações e correções que vêm sendo feitas no pacote desde o seu lançamento, a partir de sugestões e comentários de economistas e outros agentes do mercado.
“Várias janelas estão sendo corrigidas, o que mostra que o Ministério da Fazenda está sabendo ouvir observações construtivas vindo de todos os lados”, disse. “Isso é uma enorme qualidade, pois sempre tem alguém que sabe mais do que a gente.”
No saldo entre prós e contras, outros atores do mercado também começam a avaliar o arcabouço sob um viés mais favorável, mesmo que com restrições. Esse é o caso, por exemplo, da Verde Asset Management.
“Não temos os detalhes ainda, então muito do que se analisa até aqui foi a partir desses
parâmetros e declarações de membros do governo, mas o arcabouço consegue ser ao mesmo tempo pior do que o necessário e melhor que o temido”, ressaltou a gestora, em relatório divulgado ontem.
Um tom semelhante foi adotado por Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Integrada, em entrevista concedida ao NeoFeed. Na conversa, ele disse que, embora tenha seus problemas, o arcabouço é um ponto de partida.
“O arcabouço não saiu tão bom quanto parecia ser, mas não foi um desastre. Ficou dentro daquilo que é considerado factível. Tenho uma visão mais positiva do que negativa porque poderia vir algo bem mais frouxo”, afirmou Loyola.