O neurocirurgião americano Thomas Oxley conseguiu atrair a atenção de dois investidores para sua Synchron. Nesta quinta-feira, 15 de dezembro, a startup de neurotecnologia recebeu um aporte de US$ 75 milhões. Participaram da rodada, a Bezos Expeditions, empresa de venture capital de Jeff Bezos, o dono da Amazon, e a Gates Frontier, de Bill Gates, o cofundador da Microsoft.
Contribuíram também a ARCH Ventures Partner e a Khosla Ventures. Com esses últimos cheques, o total já recebido pela Synchron chega a US$ 145 milhões.
A empresa desenvolve dispositivos cerebrais capazes de transformar pensamentos em ação, as chamadas interfaces cérebro-computador (BCIs, na sigla em inglês). Cerca de 100 milhões de pessoas no mundo poderiam se beneficiar da tecnologia. São pacientes que, pelas mais diversas razões, perderam os movimentos das mãos, braços e pernas e não conseguem se comunicar adequadamente.
Fundada em 2016, no Brooklyn, a empresa é a única, até agora, a receber o O.K. do governo dos Estados Unidos para testar sua tecnologia em humanos. Em julho, o gadget desenvolvido por Oxley foi implantado em um homem portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA). Na Austrália, cinco outras pessoas, em condições semelhantes, já receberam o dispositivo da Synchron.
As conversas entre o neurocirurgião nova-iorquino e Bezos começaram em um jantar março. Oxley saiu daquele encontro em Ojai, na Califórnia, com a promessa de que o fundador da Amazon investiria em sua startup. Para o contato com Bill Gates, o médico contou com a ajuda de um amigo em comum, o capitalista de risco Vinod Khosla.
A neurotecnologia despertou a atenção das empresas de venture capital em 2016, quando Elon Musk lançou a Neuralink. Desde então, o dono da Testa, da SpaceX e do Twitter arrecadou cerca de US$ 375 milhões em investimentos para a sua empresa.
Apesar dos cheques mais polpudos, para frustração de Musk, a Neuralink ainda não recebeu o aval das agências regulatórias para testar sua BCI em humanos. O início das pesquisas estava previsto para o segundo semestre de 2022, mas foi adiado.
Nos últimos dias, Musk tem dito que, no início do próximo ano, os dispositivos da Neuralink serão implantados nos primeiros pacientes. Por enquanto, os gadgets só foram testados em uma porca e em um macaco.
A menos invasiva entre todas as tecnologias de BCI, o sistema da Synchron não requer cirurgia – o que confere à startup uma enorme vantagem em relação à concorrência, tanto do ponto de vista da segurança do paciente quanto do custo do dispositivo.
Por uma pequena incisão na jugular do paciente, um tubo minúsculo de platina chega aos principais vasos sanguíneos do cérebro, por uma pequena incisão na jugular do voluntário.
Fixado no tórax do paciente, um transmissor bluetooth transmite os impulsos nervosos do cérebro para o computador e a máquina os decodifica, convertendo pensamentos em ação. A um custo de US$ 30 mil a US$ 50 mil, com o Stentrode, como o gadget foi batizado, os pacientes conseguem se comunicar por meio de texto –a uma velocidade de 20 palavras por minuto.
No ano passado, segundo o PitchBook, os aportes no setor cresceram quase 60% em relação a 2020. Foram de US$ 194,35 milhões para US$ 467 milhões. Em 2019, não chegaram a US$ 135 milhões.
Globalmente, os dispositivos capazes de transformar pensamento em ação movimentam US$ 1,74 bilhão, segundo a consultoria americana Grand View Research. Até 2030, devem chegar a US$ 6,18 bilhões, a uma taxa de crescimento anual de 17,2%.