Para o bem ou para o mal uma coisa puxa outra, reza a crença popular que se aplica com precisão ao Brasil de hoje. Para o lado do bem.
A boa notícia esperada e confirmada, de interrupção da alta do juro pelo Federal Reserve (Fed) que incentiva a flexibilização da política monetária no Brasil, foi atropelada por informação ainda melhor: a melhora da perspectiva para o país anunciada, também na quarta-feira, 14 de junho, pela S&P Global Ratings.
O crescimento da economia no 1º trimestre bem acima do esperado, de 1,9% na comparação com o período anterior, deu um empurrão nas projeções de especialistas e nos investidores.
Deixou o Brasil melhor na foto e a agência de classificação de risco de crédito não foi insensível a este resultado. Inclusive, porque, a exemplo das suas concorrentes mais próximas – Moody’s Investors Service e Fitch Ratings – vê na perspectiva de expansão econômica um gatilho para a melhora fiscal.
O processo de desinflação flagrante nos preços do atacado e em transmissão ao varejo, tampouco, passou despercebido, inclusive, por facilitar o ajuste da política de juros que mantém a Selic em 13,75% há quase um ano e sob tiroteio cerrado do governo e do setor privado.
O corolário focado pelas três principais agências de rating do mundo é de leitura simples: o crescimento sustentado potencializa a arrecadação que, combinada a uma política de disciplina orçamentária, alimenta expectativas positivas de investidores e tende a impulsionar um ciclo virtuoso de resultados.
Em curso há cerca de duas semanas e com reflexo na escalada do Ibovespa e no tombo do dólar, o rebalanceamento de carteiras de ativos foi acentuado na quarta-feira, 14 de junho, com a decisão do Fed de sustar a alta de juros que durou 15 meses e ajudou a trazer a inflação para 4% em maio.
Na mesma quarta-feira, no fim do dia, a melhora da S&P quanto ao cenário brasileiro, em que pese alertas sobre a política fiscal, acelerou a queda dos juros futuros, favoreceu ainda mais o desempenho do Ibovespa e patrocinou valorização adicional do real ante o dólar.
A conspiração contra a inflação
Considerando que juro e câmbio são preços fundamentais da economia, as variações desses ativos têm consequência macroeconômicas que beneficiam o país no olhar do investidor financeiro e o investidor na economia real.
E o dólar, em desvalorização em termos globais e também no Brasil, conspira a favor de maior controle da inflação. Bom para o BC de Campos Neto.
Juros em queda, sobretudo em prazos mais longos, facilitam a tomada de crédito, podem trazer algum alívio à inadimplência e, de quebra, chamam estrangeiros às aplicações financeiras locais que asseguram remuneração, por ora, incomparável às praticadas nas maiores economias do mundo.
Os estrangeiros têm interesse em travar ganhos generosos enquanto é tempo porque a perspectiva de queda da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é inquestionável. E não está tão longe quanto sugeriu Roberto Campos Neto, presidente do BC, na segunda-feira, 12 de junho.
O Comitê reúne-se na terça e quarta-feira, 20 e 21 de junho, e a expectativa é de manutenção da Selic em 13,75%. Parte do mercado, porém, não descarta o início da flexibilização monetária no encontro de 1 e 2 de agosto – em julho o Copom não se reúne; outra parte vê a primeira redução da taxa em setembro.
Essa é a aposta do Itaú Unibanco que classifica a queda recente da inflação corrente como um evento “importante”. Vale lembrar que, além das deflações sucessivas de índices no atacado, o IPCA e maio caiu a 3,94% em 12 meses.
Para o departamento de pesquisa macroeconômica do Itaú, chefiado pelo ex-BC Mario Mesquita, o Copom deve cortar o juro em 0,25 ponto percentual, portanto para 13,50%, em setembro e promover mais dois cortes – de 0,50 ponto cada – nas reuniões de novembro e dezembro.
Nessa toada, a taxa fecharia o ano em 12,50%. Em 2024, a Selic declinaria a 10%, em função de uma desinflação lenta dos preços de serviços.
Em sua revisão de cenário, onde elevou a projeção para o PIB deste ano, de 1,4% para 2,3% devido ao fôlego inesperado da economia no 1º trimestre, o Itaú faz relevante alerta.
E destaca que suas projeções consideram que o Conselho Monetário Nacional (CMN) manterá a meta de inflação em 3% em 2023, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, e mudará de ano calendário para meta contínua o processo de verificação dos resultados.
“O CMN não deverá impor um horizonte ao BC para atingir a meta. Isso deverá ajudar a reduzir as expectativas inflacionárias e, assim, viabilizar a antecipação do início da descompressão da política monetária para setembro”, observa o Itaú em relatório.
Um convite aos IPOs
Ainda no embalo das boas notícias que cultivam outras, a bolsa de valores positiva é um convite a emissões primárias ou subsequentes de ações como instrumento de financiamento de capital e para fortalecimento do mercado de capitais, meta das autoridades econômicas de todos os governos brasileiros dos últimos anos e também do governo Lula em sua 3ª edição.
O Ibovespa luta para chegar e ultrapassar 120.000 pontos e acumula valorização superior a 9% em junho e quase 17% no 2º trimestre. O rali anima o mercado, mas não distrai a atenção voltada à Brasília, onde o arcabouço fiscal tramita no Senado.
A votação da âncora fiscal deve ocorrer na terça-feira, 20 de junho – primeiro dia da reunião do Copom que será concluída na quarta, 21 de junho. Se alterado, o projeto deve retornar à Câmara. As perspectivas parecem favoráveis ao governo. Mas há muita água para rolar debaixo da ponte.