O Nissan Leaf, o carro elétrico da montadora japonesa, foi lançado em 2010 como uma das grandes apostas da empresa no futuro da indústria automobilística. Desde então, já vendeu mais de 400 mil unidades, se tornando o automóvel elétrico mais comercializado do mundo, e abriu as portas para outros carros da marca que usam a mesma tecnologia.
Mas, curiosamente, a companhia não tinha esse tipo de produto por aqui. É algo que vai mudar a partir de quinta-feira, 18 de julho, quando lança oficialmente o modelo no País. “Vamos trazer entre 100 e 200 unidades por ano”, diz Marco Silva, presidente da Nissan do Brasil, com exclusividade ao NeoFeed. “Dependendo do resultado, pode chegar a até 500 unidades por ano.”
Os modelos serão importados da Inglaterra e o preço será bem salgado. No fim do ano passado, quando foi apresentado no Salão do Automóvel, ele foi comercializado em um processo de pré-venda por R$ 178,4 mil. Agora, quem quiser comprar o Nissan Leaf terá de desembolsar R$ 195 mil.
O modelo, com autonomia de 389 km em áreas urbanas e motor de 147 cavalos de potência, será vendido em cinco cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Florianópolis – apenas as que têm “infraestrutura” instalada para esse tipo de carro.
Há quem discorde dessa tese. “O Brasil ainda não está preparado para receber grandes volumes de carros elétricos”, diz Paulo Cardamone, Chief Strategy Officer (CSO) da Bright Consulting, consultoria especializada na indústria automobilística.
Os números também mostram que esse é um segmento de nicho, de pouco volume e de preços bem elevados. Apesar do crescimento constante, ele acontece sobre uma base muito pequena. Dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), mostram que, em 2012, foram vendidos 117 automóveis elétricos e, no ano passado, o número chegou a 3.970 carros.
Nos primeiros cinco meses de 2019, o dado mais recente disponível, foram vendidas 1.562 unidades, 78 a menos do que no mesmo período do ano passado. Indagado sobre a representatividade do mercado, o presidente da Nissan explica que enxerga “o lançamento do Leaf como um grande passo estratégico para o negócio da eletrificação”. Está claro, entretanto, que o principal objetivo é posicionar a Nissan neste segmento.
É mais um trabalho de branding do que comercial. Afinal, as pesquisas apontam que os carros elétricos representarão 40% da frota mundial até 2030. “No Brasil, não acredito que chegue a 10%”, diz Cardamone, da Bright Consulting. Independentemente disso, será um mercado de respeito no futuro.
Tecnologia global
Um futuro que já se faz presente no Japão, a terra natal da Nissan. Lá, a montadora vende o Leaf, que é 100% elétrico, e dispõe de modelos como o Note, carro que usa a tecnologia e-Power. Ele é considerado um híbrido, pois é movimentado por um motor elétrico cujas baterias são carregadas por um motor a combustão. No ano passado, foram vendidas 136 mil unidades do Note.
No país oriental, a companhia traçou um plano para que, em breve, os carros sejam usados inclusive para abastecer as casas. O movimento do veículo é transformado em energia e, plugado em uma residência, o automóvel seria capaz de fornecer luz por até três dias.
Isso mostra o quanto a empresa japonesa adotou a eletrificação como bandeira. “Essa é a decisão que tomamos e o caminho que escolhemos”, diz Silva, da Nissan. “Vamos partir para a eletrificação em todo o globo.”
No Brasil, a companhia firmou uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para desenvolver um modelo de célula de combustível abastecida pelo etanol. O etanol, na verdade, produz hidrogênio por meio de uma reação química. O elemento abastece a célula de combustível que gera a eletricidade necessária para movimentar o carro.
Choque no PIB
Fabricar um carro elétrico no País ainda é um sonho distante. Mas o Brasil é hoje um dos principais mercados para a montadora japonesa. No ano passado, a empresa inaugurou um centro de design na cidade de São Paulo. Foi o primeiro da América Latina e o nono da companhia no mundo.
Nos últimos cinco anos, desde a inauguração da fábrica de Resende (RJ), a matriz investiu R$ 2,6 bilhões na operação local e, nos próximos meses, deve anunciar os novos investimentos na unidade, que trabalha em dois turnos e deve partir para um terceiro turno.
Por aqui, a Nissan fabrica modelos como o SUV compacto Kicks, o compacto March e o sedan compacto Versa. Até hoje, já foram produzidos mais de 300 mil carros na planta industrial. Novos modelos devem ser anunciados em breve – no mercado, a aposta é que a definição virá em outubro.
Até hoje, já foram produzidos mais de 300 mil carros na fábrica da Nissan em Resende (RJ)
De acordo com a Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), foram produzidos 1,474 milhão de veículos no primeiro semestre deste ano – uma alta de 2,8% em comparação com o mesmo período do ano passado.
As vendas de veículos novos no primeiro semestre atingiram 1,17 milhão de unidades, 12,1% a mais do que no mesmo período do ano passado. Apesar desses números, as exportações caíram 41,5% em relação ao primeiro semestre do ano passado, sobretudo por conta da crise na Argentina. Foram vendidos 221,9 mil carros para o exterior.
Nesse cenário, a Nissan, que licenciou 91 mil veículos no ano passado, espera crescer 15% no País. O presidente da companhia, entretanto, ainda está em alerta. Espera um choque na economia brasileira para que ela se movimente e caminhe perto da indústria automobilística. “O setor deve crescer 10% até o fim do ano. Já o País, está aquém do que todos esperavam. Esse descasamento vai prejudicar. O PIB precisa crescer”, diz Silva.
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