Controlada pela família Moreira Salles, acionista de empresas como Itaú Unibanco e Alpargatas, a CBMM detém 80% do mercado global de nióbio, metal cujo uso se concentra, especialmente, na siderurgia, para dar liga e resistência ao aço.

Apesar dessa posição confortável, a empresa não tem medido esforços para encontrar novas aplicações para o material. O uso em baterias de carros elétricos é uma das principais vias dessa jornada. E nesta terça-feira, 24 de agosto, a companhia dá um novo passo na busca para adicionar mais toneladas ao seu portfólio.

Em informação antecipada com exclusividade ao NeoFeed, a CBMM está liderando uma rodada de investimentos de R$ 72 milhões por uma fatia de 13% na Echion, startup britânica fruto de um spin-off da Universidade de Cambridge e que desenvolve materiais avançados para baterias de íons de lítio.

O fundo britânico BGF também integra a rodada, que conta ainda com a participação de outros nomes que já investiam na operação. Até então, a Echion havia captado £ 3,1 milhões (aproximadamente R$ 22,7 milhões) junto aos fundos Newable Ventures, Parkwalk Advisors e Origin Capital.

“A Echion tem uma tecnologia inovadora, um time de peso e um modelo de negócio atrativo, de licenciamento”, diz Rodrigo Amado, head de novos negócios da CBMM, ao NeoFeed. “E já faz parte de diferentes elos do ecossistema de eletrificação, o que pode acelerar o desenvolvimento de alianças.”

As duas empresas se aproximaram há um ano. “Para nós, ficou claro que a melhor maneira de entregar o que o mercado quer era desenvolver tecnologias baseadas no nióbio”, diz Jean de La Verpilliere, cofundador e CEO da Echion. “E a CBMM era o parceiro natural para se trabalhar. Só existe uma empresa com experiência e capacidade de produção de milhares de toneladas de nióbio.”

A Echion começou a ser gestada quando La Verpilliere cursava o doutorado na Universidade de Cambridge. Em 2017, a tese sobre baterias de carregamento rápido virou negócio e, com o aporte liderado pela CBMM, ganha um novo fôlego, especialmente em suas equipes de engenharia e da área comercial.

Jean de La Verpilliere, cofundador e CEO da Echion

Hoje, a Echion mantém projetos com operações como a Vantage Power, empresa de sistemas híbridos e elétricos da americana Allison Tranmissions, para o desenvolvimento de tecnologias para baterias para uso em ônibus híbridos e elétricos.

Outra iniciativa envolvendo o nióbio é uma parceria com a indústria química britânica Johnson Matthey. Segundo La Verpilliere, nos próximos meses, a Echion deverá ter mais anúncios com alguns dos maiores fabricantes de células de bateria e montadoras.

“Eles têm casos reais de testes e estão com pedidos de compra”, afirma Amado, da CBMM. Ele ressalta que o ciclo normal de desenvolvimento da CBMM gira entre 8 anos e 10 anos. “Nosso objetivo é reduzir esse go to market para dois anos a três anos e, nesse período, alcançar uma escala razoável de vendas.”

Carga ultrarrápida

Um dos grandes apelos da parceria é a premissa, já validada em testes, de que as baterias com óxido de nióbio são mais seguras e permitem um carregamento ultrarrápido, em 6 minutos, com uma autonomia de 350 quilômetros, contra uma média de recarga entre 3 horas e 8 horas de uma bateria tradicional.

“Toda a indústria está se movendo na direção da eletrificação e as baterias são o elemento chave nessa equação”, afirma Milad Kalume, analista da consultoria Jato Dynamics. “Nesse contexto, a questão da recarga rápida é crucial e a combinação entre lítio e nióbio tem se mostrado muito positiva.”

Dados da EV Volumes dão uma medida da evolução desse mercado. Segundo a consultoria, foram vendidos globalmente 2,65 milhões de carros elétricos no primeiro semestre de 2021, um crescimento de 168% na comparação com igual período, um ano antes. Para o ano consolidado, a projeção é de um total de vendas de 6,4 milhões de unidades, o que representaria um salto de 98% sobre 2020.

Atenta a esse cenário, a CBMM tem uma série de outras iniciativas em andamento. Além da Echion, a companhia prevê novos aportes em startups com modelos relacionados ao desenvolvimento de aplicações para baterias.

Rodrigo Amado, head de novos negócios da CBMM

“Não vamos parar por aí”, diz Amado. “Temos mais dois investimentos que podemos fechar ainda nesse ano.” Antes da Echion, a CBMM já havia investido US$ 2,5 milhões, em 2019, por uma participação de 25% na 2DM, startup especializada em grafeno e um spin-off da Universidade de Cingapura.

Em paralelo, a companhia mantém mais de 40 parcerias com universidades, instituições de pesquisa e empresas em todo o mundo. Essa lista inclui instituições como a Hanyang University, da Coreia do Sul, e a Georgia Tech, dos Estados Unidos.

Os acordos também envolvem a colaboração com empresas como a Toshiba. Essa parceria passa por conversas com montadoras japonesas, como Suzuki, Nissan e Toyota, para a realização de testes com a bateria que usa o óxido de nióbio.

Nesse ano, além de ampliar em cerca de 60% os recursos destinados ao seu Programa de Baterias, para R$ 60 milhões, a CBMM investiu R$ 14 milhões em uma planta-piloto para o desenvolvimento de tecnologias de nióbio para as baterias elétricas, instalada em Araxá (MG).

“Temos um pacote de aplicações em fase de prova de conceito e de valor em clientes finais”, observa Amado. “O potencial é imenso e nós projetamos que essa linha de baterias possa representar mais de 30% das nossas receitas em 2030.”

Hoje, 90% da operação da CBMM está relacionada à área de siderurgia. Em 2020, a empresa apurou uma receita líquida de R$ 6,9 bilhões, com lucro líquido de R$ 2,5 bilhões e um Ebitda de R$ 5,1 bilhões. No período, a empresa contabilizou uma venda total de 72 mil toneladas em produtos de nióbio.