Há cerca de dois anos, a XP decidiu resgatar um elemento intimamente ligado aos primeiros anos da operação e que foi se perdendo à medida que a empresa ganhava corpo no mercado financeiro: a educação. Agora, a companhia dá o seu passo mais ambicioso nessa reconexão com suas origens.
Nesta segunda-feira, 27 de junho, o grupo fundado por Guilherme Benchimol anuncia o lançamento oficial da faculdade XP. A iniciativa, que integra a XP Educação, amplia o olhar da empresa no setor ao ir além do DNA da XP em educação financeira.
O projeto nasce com um grande foco na formação de profissionais de tecnologia, por meio de MBAs e cursos livres, e da oferta inicial de cinco cursos de graduação, nas áreas de Sistemas de Informação, Ciência de Dados, Análise de Desenvolvimento de Sistemas, Banco de Dados e Defesa Cibernética.
“Nossa ideia é atender, basicamente, duas grandes dores”, diz Paulo de Tarso, CEO da XP Educação, em entrevista ao NeoFeed. “A dificuldade das empresas em contratar e reter profissionais de tecnologia e, ao mesmo tempo, a qualidade da formação nessa área hoje no Brasil.”
Não faltam números para ilustrar o potencial do mercado a ser explorado pela XP Educação. Entre os dados mais recentes, um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) prevê um déficit no País de 530 mil profissionais na área até 2025.
Mais que ajudar a preencher essa lacuna, um dos grandes interesses da XP é suprir sua própria demanda, diante da carência e, por consequência, da disputa cada vez mais acirrada por esse perfil no mercado brasileiro.
Assim, a XP buscou inspiração no conceito de employer university, difundido por big techs como Amazon e Google, e, no País, por nomes como o Hospital Albert Einstein. Essas e outras empresas têm braços de educação para atender suas carências e formar profissionais já alinhados com suas culturas.
Com essa orientação, a metodologia da graduação será baseada em projetos e desafios práticos e reais ligados à operação da XP. E, a partir de cursos 100% digitais, a ideia é apostar no formato adotado no dia a dia da empresa, com muitos profissionais trabalhando remotamente, de diferentes localidades.
“Nossa graduação vai beber muito desses modelos e vai emular, de verdade, um ambiente profissional”, diz Tarso. “Estamos olhando quatro, cinco anos à frente. A ideia é engajar esse profissional já durante a sua formação e isso inclui a possibilidade da oferta de estágios na XP.”
A XP já aportou mais de R$ 100 milhões no projeto, que começou a ser formatado há um ano. Além da equipe de mais de 100 profissionais, essa cifra inclui a compra do Instituto de Gestão em Tecnologia da Informação (IGTI), no fim de 2021, que abriu caminho para o ingresso no mercado de ensino superior.
Na graduação, serão selecionados 400 alunos por semestre, sendo 200 vagas afirmativas, voltadas a minorias. Os editais irão incluir questionários, bootcamps, desafios práticos e provas para avaliar a capacidade de aprendizado e de adaptação dos candidatos ao modelo “anywhere” da XP.
Um dos grandes apelos do projeto é o fato de os cursos de graduação serem 100% subsidiados pela XP. Ou seja, não haverá mensalidades. “Queremos buscar talentos em todo o País e isso poderia ser uma barreira, já que vamos competir com as faculdades públicas em muitos desses locais”, diz o executivo.
Para sustentar esse modelo, a XP Educação aposta nas receitas geradas pelas mais de 20 opções pagas de MBAs e pelos cursos livres. Com 79 cursos nas áreas de tecnologia, inovação e finanças, essa última oferta poderá ser acessada por meio de uma assinatura mensal no valor de R$ 65.
“Essa plataforma de educação continuada também será ofertada para empresas, a começar pela própria XP”, diz Tarso. Com essas estratégias, a projeção da XP Educação é fechar 2022 com 10 mil assinantes na plataforma.
Da mesma forma, a conexão dos alunos com estágios e empregos não estará restrita ao universo do grupo. Além de futuras parcerias com outras companhias, esse radar inclui as demandas de profissionais das startups investidas pela própria XP.
A faculdade XP não é a única iniciativa de olho nesse gap de profissionais de tecnologia. O leque de opções envolve, inclusive, uma startup desse portfólio de investidas da XP. Trata-se da Trybe, edtech de cursos de formação em tecnologia que já atraiu mais de R$ 150 milhões em aportes.
Entretanto, o projeto que mais se equipara em termos de ambição é o Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), que envolve um nome já bem conhecido da XP em disputas relacionadas a outros segmentos de mercado.
Com a proposta de ser uma espécie de MIT brasileiro, a Inteli foi criada por André Esteves e outros sócios do BTG Pactual, em 2021, a partir de um aporte de R$ 200 milhões. A universidade investe, entre outros modelos, na oferta de bolsas patrocinadas por empresas como MRV, Gerdau e o próprio BTG.