Realizada no último dia 30 de junho, a abertura de capital da plataforma de mobilidade chinesa Didi, dona do aplicativo 99 no Brasil, na Bolsa de Nova York, foi bem recebida pelos investidores. No IPO, bem-sucedido, o grupo captou US$ 4,4 bilhões e foi avaliado em US$ 67 bilhões.
Os dias seguintes à oferta trouxeram, porém, uma sucessão de novos capítulos no cerco do governo chinês às companhias de tecnologia do país, tendo o IPO da Didi como estopim.
Entre outras ações, o grupo foi impedido de cadastrar novos usuários e o seu app foi retirado das lojas de aplicativos locais. E, como resultado, viu suas ações despencarem no mercado americano.
Agora, no entanto, a perspectiva é de que a ofensiva afete não apenas o balanço e os papéis da Didi. Mas também, todas as empresas chinesas que enxergam o mercado de capitais dos Estados Unidos e de outros países como uma fonte de recursos, além dos bancos e investidores envolvidos nesses processos.
Em um dos desdobramentos mais recentes dessa ofensiva, o Conselho de Estado chinês informou, em comunicado, que as regras do sistema de listagem de empresas locais no exterior serão atualizadas e que os fluxos de dados entre as fronteiras também estarão sujeitos a mais restrições.
Nesse cenário, uma das medidas que estão sendo avaliadas é a exigência de que as empresas com planos de acessar mercados como Estados Unidos e Hong Kong tenham de passar pelo crivo dos órgãos reguladores chineses.
Na leitura do mercado, a mensagem foi clara. As autoridades chinesas devem endurecer e inibir os IPOs no exterior, assim como ampliar a supervisão sobre as empresas já listadas em outros países. E, por consequência, gerar perdas substanciais a um segmento extremamente lucrativo em Wall Street.
Para se ter uma ideia, os IPOs de empresas do país da Grande Muralha já levantaram um total de US$ 106 bilhões na Nasdaq e na Bolsa de Nova York, segundo a consultoria Refinitiy. O maior deles, 3m 2014, quando o Alibaba captou US$ 25 bilhões.
Em outra ponta, os dados mostram que os bancos de investimento arrecadaram aproximadamente US$ 24 bilhões com ofertas de companhias chinesas nos últimos 18 meses.
Atualmente, há pelo menos 248 empresas chinesas listadas nas bolsas de valores dos Estados Unidos, de acordo com um levantamento recente da US China Economic and Security Review Commission. Essas companhias representam um valor de mercado total de US$ 2,1 trilhões.
No acumulado desse ano, 37 empresas chinesas já recorreram à abertura de capital em alguma bolsa de valores dos Estados Unidos. Nesses processos, essas companhias levantaram um total de US$ 12,9 bilhões.
No fim de abril, cerca de 60 companhias do país mantinham planos de acessar o mercado de capitais americano, segundo informações divulgadas pela Bolsa de Nova York. Entre as empresas que figuram, até o momento, nessa lista, estão a Lalamove, de logística, e o aplicativo de podcasts Ximalaya.
A expectativa, no entanto, é de que muitos desses processos fiquem pelo caminho. “Algumas empresas chinesas estão definitivamente repensando se deveriam ir para os Estados Unidos”, disse um executivo de um banco americano de investimentos ouvido pelo Financial Times.
“Qualquer negócio teria que ser feito com um grande desconto”, ressaltou, também ao jornal britânico, o sócio de grande escritório de advocacia dos Estados Unidos.