Na última recessão, a crise financeira global de 2008, startups como o aplicativo de transporte Uber e o site de hospedagem Airbnb nasceram para ganhar o mundo e o coração e as mentes de milhões de usuários.
A crise do coronavírus, por sua vez, está sendo um duro baque para a economia do bico (gig economy), como chamam alguns, ou a economia compartilhada (sharing economy), como preferem outros.
As duas estrelas desse movimento demitiram milhares de funcionários por conta da pandemia da Covid-19. O Airbnb, por exemplo, cortou 1,9 mil funcionários, cerca de 25% de sua força de trabalho. O Uber demitiu 3,7 mil empregados, aproximadamente 17% de seu staff.
Mas existe uma startup, até então menos reluzente, que está conseguindo não só passar por essa crise, como está ganhando cada vez mais musculatura.
É a Instacart, startup especializada na entrega de compras de supermercados, que já levantou US$ 1,9 bilhão de investimentos com fundos de venture capital como Tiger Global, Sequoia Capital e Andreessen Horowitz e foi avaliada em US$ 7,8 bilhões.
A companhia está observando um boom em seus serviços. E, no meio desta pandemia, está negociando um novo aporte dos investidores atuais que a está avaliando entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões, segundo o The Information, site que cobre os bastidores do Vale do Silício.
Segundo a reportagem, a Instacart, que atua em mais de 5 mil cidades nos EUA e tem também operação no Canadá, tem US$ 800 milhões em caixa e está decidindo se vai prosseguir ou não com esse aporte.
“A Instacart não comenta rumores de mercado e vai seguir focada em servir como a tábua de salvação para seus consumidores e trabalhadores após a Covid-19”, informou a startup.
Com o aumento do desemprego nos Estados Unidos, que atingiu 20,5 milhões de americanos em abril, o número de shoppers, como são chamadas as pessoas que fazem as compras nos supermercados, saltou de 180 mil para 500 mil desde o início da pandemia. E deverá chegar a 750 mil, durante o verão no Hemisfério Norte.
Em uma entrevista à Bloomberg, o CEO da Instacart, Apoorva Mehta, disse que a companhia já entregou mais produtos alimentares esse ano do que previa até o fim de 2022. Neste ano, a previsão é movimentar US$ 35 bilhões em compras.
Nas duas primeiras semanas de abril, a Instacart movimentou estimados US$ 700 milhões em mercadorias, um aumento de 450% sobre dezembro do ano passado. Estima-se que a companhia teria tido um lucro de US$ 10 milhões em abril.
O serviço da Instacart é semelhante ao que faz o Rappi na América Latina ou ao Supermercado Now, comprado pelo Submarino. A Uber também comprou a startup colombiana Cornershop e passou a atuar com entregas de supermercados.
Ao mesmo tempo em que a Instacart brilha, a Uber busca saídas para sua crise. A empresa nunca foi lucrativa e está sofrendo ainda mais por conta da pandemia.
Uma das alternativas é a compra da Grubhub, que uniria os dois maiores serviços de entrega de comida dos Estados Unidos – a Uber tem a Uber Eats.
As duas empresas estão negociando uma fusão. Mas ainda é incerto se vão conseguir concluir o acordo. Ambas têm capital aberto. A Grubhub vale US$ 4,4 bilhões, enquanto a Uber é avaliada em US$ 54 bilhões.
Nova estrela, velhos problemas
Assim como boa parte das empresas da economia compartilhada, a Instacart também sofre com críticas de seus "trabalhadores", que reclamam das condições de trabalho e da falta de assistência.
No final de março, os "shoppers" da Instacart entraram em greve devido às condições de trabalho, exigindo que a empresa lhes fornecesse pagamento de risco e equipamentos de proteção.
A Instacart atendeu algumas de demandas, fornecendo álcool em gel para as mãos. A startup anunciou também uma política de pagamento para trabalhadores afetados pela Covid-19. Mas alguns dos shoppers alegam que têm dificuldades de serem compensados.
Um problema que não é exclusivo da Instacart. Trabalhadores de outras empresas da economia compartilhada, como Uber e Lyft, também relatam dificuldade de acessar fundos para se tratar do coronavírus.