Em um ano que promete ser desafiador para os principais nomes do varejo de roupas brasileiro, diante dos efeitos do escândalo da Americanas, a situação da macroeconomia e a chegada da Shein ao País, os executivos da Renner acreditam que estão preparados para as emoções de 2023.
“Nos últimos anos, enfrentamos uma série de desafios externos, mas seguimos evoluindo”, disse Fabio Faccio, CEO da Renner, em teleconferência com analistas e investidores nesta sexta-feira, dia 17 de fevereiro. “Nossas expectativas são de crescimento e ganhos de margem ao longo do ano.”
O discurso otimista de Faccio para 2023 se apoiou em duas frentes. A primeira é em relação aos ajustes que estão sendo feitos nas operações e na expectativa de retomada do varejo e da divisão financeira.
Segundo ele, os primeiros dados a respeito das vendas mostram que as vendas estão vindo em linha com o esperado, depois que o desempenho do quarto trimestre teve um resultado abaixo do esperado pelos analistas. A receita líquida de varejo caiu 0,2% em base anual, a R$ 3,5 bilhões.
No fim do ano passado, a Renner viu questões extraordinárias, como temperaturas mais baixas e a redução de fluxo de clientes por conta das eleições e da Copa do Mundo, se juntarem aos efeitos da crise macroeconômica. As vendas “mesmas lojas”, que consideram o desempenho de unidades em funcionamento há mais de 12 meses, recuaram 2,5% no quarto trimestre.
Com os efeitos extraordinários fora do caminho, a Renner espera que o arrefecimento dos custos ajude a compensar a perda de renda da população. Isso permitirá ajustar os preços dos produtos, com recuperação de margens.
“Neste momento, estamos vendo uma pressão de custos ao contrário, com o preço do frete caindo, a matéria-prima mostrando sinais de queda e a indústria com capacidade maior de produção frente a demanda vista no varejo em geral”, disse Faccio.
Em sua divisão financeira, onde a piora das condições econômicas, fizeram com que as perdas em créditos, líquidas das recuperações, crescessem 2,2 vezes em relação ao quarto trimestre de 2021, os executivos afirmaram que ajustes no processo de concessão de crédito resultarão em “safras” melhores.
“Apesar dos resultados abaixo do esperado, a gestão de risco que tomamos em 2022 vai permitir uma situação melhor em 2023”, disse Daniel Martins, CFO da Renner. “O primeiro semestre ainda permanecerá pressionado, mas seguimos confiantes na recuperação a partir da segunda metade de 2023.”
O segundo pilar que sustenta o otimismo da Renner é em relação aos investimentos que vêm sendo feitos nos últimos anos. Um dos destaques é o centro de distribuição (CD) da empresa em Cabreúva, no interior de São Paulo, que é visto como essencial para a estratégia de omnicanalidade.
Outra aposta da companhia é a inauguração de lojas em cidades em que ainda não está presente. O plano envolve abrir 102 novas unidades nos próximos quatro anos. “O que vai fazer diferença a partir de 2023 é a possibilidade de ganhar escala”, afirmou o CFO.
Esses dois investimentos devem permitir à Renner manter sua posição competitiva no momento em que a chinesa Shein vem explorando o mercado, em busca de fornecedores de roupas no País.
Segundo uma pesquisa realizada pela Aster Capital, uma gestora long-only com mais de R$ 600 milhões de ativos sob gestão, a Shein movimentou R$ 7,1 bilhões no Brasil no ano passado, tornando-se um pesadelo para as principais varejistas de moda do País
Para Martins, a chegada de nomes como Shein pode colocar a competição em pé de igualdade, considerando que o modelo de importação traz diferenças de tributação para atores locais e globais. “Estaremos competindo nas mesmas condições, com a desvantagem de preços que existe atualmente deixando de existir”, disse o CFO.
Outro destaque competitivo ressaltado na teleconferência foi a questão da posição financeira da Renner, num momento em que as linhas de crédito para as varejistas estão prejudicadas por conta do episódio Americanas.
“Temos R$ 3,5 bilhões em caixa, o que nos dá grande conforto para continuar acelerando, investindo e evoluindo num ambiente mais desafiador para várias empresas”, afirmou Faccio. “E temos tranquilidade através da nossa geração de resultados para avançar de maneira sólida e consistente.”
Ainda que tenha buscado se diferenciar, a Renner decidiu divulgar os dados a respeito de risco sacado no release de resultados, algo que não fez nos últimos trimestres, embora a informação conste nas notas explicativas das demonstrações financeiras. Ao fim de 2022, o montante referente a este tipo de operação somou R$ 78,8 milhões, representando 5% da conta de fornecedores.
A Renner fechou o quarto trimestre com um lucro líquido de R$ 481,8 milhões, alta de 16% em relação ao quarto trimestre de 2021. A receita líquida cresceu 3,7%, para R$ 4 bilhões, e o Ebitda subiu 17%, a R$ 884,5 milhões.
Por volta das 14h56, as ações da Renner subiam 1,19%, a R$ 19,61. Em 12 meses, elas acumulam queda de 26%, levando o valor de mercado a R$ 19,1 bilhões.