Desde que a Creditas surgiu em 2012, uma das perguntas mais frequentes feitas ao fundador e CEO, Sergio Furio, é quando a companhia especializada em empréstimos com garantias dará lucro.
Durante muito tempo, ele se esquivava de dar um prazo para isso acontecer. Mas os ajustes promovidos na operação, combinados com a perspectiva de acomodação do cenário econômico, fazem com que Furio arrisque uma previsão.
“Temos um caminho muito claro para ter o breakeven no final do ano e estamos superotimistas”, diz Furio ao NeoFeed. “E a estratégia é muito clara, não tem segredo.”
No caso, a estratégia passa por executar o plano de melhora da rentabilidade, desenvolvido há um ano, que busca melhorar a margem bruta. Depois da compressão vista entre o segundo semestre de 2021 e o começo de 2022, a expectativa é a de que a margem feche este ano perto de 40%. Ela encerrou o quarto trimestre em 14,8%.
A margem deve se beneficiar da combinação da postura mais conservadora na concessão de crédito, com a reprecificação da carteira, juntamente com os efeitos da manutenção da Taxa Selic.
Segundo Furio, a perspectiva de manutenção do juro básico da economia em 13,75% ao ano abre caminho para a margem continuar crescendo - movimentos de alta prejudicam os custos de financiamento da Creditas.
“Se tivermos uma queda da Selic em 2023, os resultados serão ainda melhores, mas estamos assumindo que ela permanecerá estável”, diz o CEO. “É um vento favorável que vamos experimentar.”
Furio cita ainda os ajustes que a Creditas está fazendo nas operações como um fator que ajudará na obtenção do breakeven ao final do ano.
O movimento mais recente e significativo foi revelado na segunda-feira, 20 de março, na Creditas Auto, plataforma de compra e venda de veículos. A companhia decidiu desativar sua operação interna de recondicionamento de veículos, o que resultou na demissão de 95 pessoas.
“Estamos passando a operar num modelo asset light, atuando na intermediação da compra e venda, não tendo que segurar no meu inventário”, diz o CEO da Creditas. “É uma operação que consome menos caixa e em meio a juros altos não temos que carregar no balanço um custo financeiro.”
Segundo ele, o ajuste vem sendo realizado desde o ano passado e resultou numa diminuição no estoque de automóveis de 4 mil para 700. O número de lojas será reduzido de seis para três nos próximos meses e o serviço de recondicionamento será feito por terceiros. “Com isso, conseguiremos ser mais eficientes e ter menos capex”, diz ele.
Do auto para o imóvel
Não há previsão de ajustes em outras linhas de negócios da companhia para 2023, nem de lançar novas verticais de atuação.
“Ele (Creditas Auto) era o único produto que a gente tinha consumo de capital alto”, diz Furio. “O restante dos produtos estão super bem ajeitados, e com os juros estáveis, eles devem voar.”
Junto com a perspectiva de bom desempenho dos principais produtos, a Creditas também está otimista com as novas linhas que lançou. Uma delas é a plataforma financeira formada com a Zap+, divisão da OLX que congrega os portais Zap, VivaReal e OLX Imóveis, em que a Creditas disponibiliza serviços como crédito para aquisição, antecipação de venda e home equity.
No caso do Andbank Brasil, em que a Creditas comprou a licença bancária numa operação avaliada em R$ 500 milhões, para ter uma fonte alternativa de captação de recursos, a empresa ainda está esperando a aprovação do Banco Central. A expectativa é integrar a operação até o final do ano.
“Temos um acordo comercial com eles, em que fazemos transações com os créditos, emissão de depósitos, mas sem consolidar na Creditas”, diz.
A Creditas fechou o quarto trimestre com prejuízo líquido de R$ 208,6 milhões, 42,5% melhor que o desempenho apurado no mesmo intervalo de 2021. A receita cresceu 39,4%, para R$ 500,2 milhões, com a carteira de crédito alcançando R$ 5,8 bilhões, alta de 57,3%.