Há uma semana, a candidatura de Joe Biden estava perto do colapso. Com resultados frustrantes em Iowa, New Hampshire e Nevada, o ex-vice-presidente de Barack Obama viu sua campanha afundar em descrença ao mesmo tempo em que observava o rival Bernie Sanders se destacar.
Depois de perder em Iowa, a campanha do americano de 77 anos flertava com a possibilidade de jogar a toalha. O próprio Biden parecia acreditar que suas chances eram reduzidas, tanto que, em New Hampshire, ele começou seu discurso dizendo "provavelmente vou perder aqui também".
Mas, em poucos dias, Biden saiu de uma constrangedora renúncia à candidatura para a liderança democrata na corrida presidencial americana. A “sorte” dele começou a mudar com o anúncio de apoio do deputado Jim Clyburn.
O parlamentar da Carolina do Sul é considerado a maior liderança negra do Congresso americano e foi fundamental para a vitória arrebatadora naquele estado, no sábado, 29 de fevereiro.
A Carolina do Sul é um Estado historicamente republicano, que pouco pesa nas eleições gerais, mas que é expressivo para a decisão democrata, por apontar o que pensam os eleitores mais "conservadores".
A campanha de Biden ganhou outro impulso quando, 48 horas depois da vitória na Carolina do Sul, Biden viu dois rivais na disputa, Pete Buttigieg e Amy Klobuchar, renunciarem à corrida presidencial no Partido Democrata e declararem apoio à sua candidatura.
A ressurreição de Biden como uma alternativa moderada no Partido Democrata se concretizou com os resultados da Super-Terça, quando importantes Estados americanos fazem suas primárias.
Embora Sanders tenha vencido na populosa Califórnia, Biden levou alguns estados-chaves, como Minnesota e Virgínia, que são considerados swing states, que ora votam pelos democratas, ora pelos republicanos. São esses estados "pêndulos" que podem definir o rumo das eleições.
Nesta quarta-feira, 4 de março, o magnata Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, deixou também a disputa pela Casa Branca, depois de gastar US$ 500 milhões, e declarou seu apoio em Biden.
Com isso, estava consolidada a ascensão de Biden. Em poucos dias, o ex-vice-presidente saiu de uma campanha derrotada e conseguiu unir o centro moderado do Partido Democrata para derrotar Bernie Sanders, considerado um candidato com ideais radicais.
Biden surge também como favorito nas próximas primárias. No Estado de Washington, ele se encaminha a ganhar. Em Michigan, ele também tem fortes chances de vitória.
Os apoios dos últimos dias também fortaleceram Biden entre os eleitores negros e latinos, o segundo grupo mais populoso a votar nos Estados Unidos.
Natural da Pensilvânia, Biden, que foi senador de Delaware entre os anos de 1973 e 2009, tem uma plataforma que, de certa forma, agrada gregos e troianos.
O democrata, por exemplo, se colocou a favor do Secure Fence Act, em 2006. A proposição pedia a construção de barreiras adicionais na fronteira com o México. No ano seguinte, ele foi contra medida que liberava carteira de motorista a imigrantes ilegais.
Favorável ao Acordo de Paris, que convoca nações a se comprometerem em ações pontuais contra a mudança climática, Biden é contra o Green New Deal, defendida por Sanders, que tem propostas mais "radicais" e que poderiam afetar a economia.
Católico, o ex-vice-presidente é favorável ao casamento homossexual e ao uso recreativo, e regulamentado, da maconha. Para a educação, a proposta do candidato é implementar um plano de US$ 750 bilhões que permitiria que todo cidadão americano tenha acesso gratuito a dois anos em faculdades estaduais.
Quanto à política externa, ele deve manter a linha experimentada por Obama, que propôs um acordo com Irã e aliados para limitar a proliferação de programas nucleares – negociação revogada pela administração de Trump.
Para continuar firme na corrida eleitoral, Biden levantou, só no último trimestre de 2019, cerca de US$ 22 milhões com doadores de todos os estados. De acordo com a equipe do candidato, 97% das doações não atingem a marca de US$ 200, e um terço das colaborações são abaixo dos US$ 25.
Na Califórnia, todos contra Trump
Adesivos de "eu votei" eram vistos pelas ruas de toda Califórnia na terça-feira, 3 de fevereiro. Homens e mulheres traziam os dizeres colados em suas roupas ao andarem por mercados, bancos, escritórios e até academias. O voto, nos Estados Unidos, não é obrigatório, mas o senso de urgência entre os californianos é inédito.
"Por favor, votem! Vote com o seu coração e com o seu instinto enquanto ainda temos muitas opções, porque, em novembro, teremos apenas uma escolha: qualquer um que estiver concorrendo contra Trump", pedia Dara Cohen aos amigos, em sua rede social.
Nascida em Nova York, mas morando em Los Angeles há mais de dez anos, Dara acredita que as eleições de 2020 têm uma importância sem precedente. "O futuro do país está em jogo", declarou.
Estado mais populoso dos Estados Unidos, com cerca de 40 milhões de habitantes, a Califórnia é historicamente democrata. E, neste ano, não deve surpreender.
O candidato Bernie Sanders levou a nomeação dos 415 delegados disponíveis, já que o sistema eleitoral americano não é direto, como o brasileiro. O número de votos das pessoas não necessariamente garante a candidatura. São os delegados estaduais quem elegem o vencedor.
É esse sistema indireto que faz com que boa parcela dos americanos sequer expressem suas vontades pelo voto. A enfermeira Mary Lee Melder, de 39 anos, é uma delas. "Para ser sincera, não me sinto representada por nenhuma das opções, tanto dos Democratas, quanto dos Republicanos", declara Melder.
Assim como nas últimas eleições, Mary Lee vai se abster do processo eleitoral de 2020, mas acompanhando tudo como mera "espectadora", acredita que Joe Biden talvez seja a opção mais razoável.
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