Em março de 2021, Antonio Cassio deixou o posto de CEO do IRB, um ano depois de iniciar um turnaround no problemático grupo de resseguros, com uma certeza. Após uma carreira de mais de 40 anos à frente de empresas como Mapfre, Zurich e Generali, aceitar um novo convite para liderar uma operação não era uma opção.

A decisão foi acompanhada de dois planos, já que uma aposentadoria estava fora de cogitação e era preciso “ocupar o cérebro”. O primeiro foi matricular-se no mestrado de Neurociência na PUC-RS. O segundo, montar uma seguradora no segmento de funerais.

Vinte meses depois, Cassio cumpre as últimas etapas do mestrado. A jornada como empreendedor, porém, está só começando e bem distante dos funerais. Batizado de +Pet, seu novo projeto é uma startup que nasceu com um aporte de R$ 65 milhões e a ambição de criar um ecossistema de saúde para pets.

“Esse é um dos meus grandes projetos e um dos meus principais sonhos para o futuro”, diz Cassio, investidor e sócio-responsável pela +Pet, ao NeoFeed. “Nosso plano é construir uma operação avaliada em R$ 1 bilhão no prazo de sete a dez anos.”

Cassio que, entre outras atividades, segue como presidente do board do IRB, não está sozinho nessa empreitada. Outros sócios ajudaram a criar e a estruturar o negócio, e também injetarem os recursos para viabilizar a operação, que começou a ser desenhada no fim de 2020.

A lista inclui Pablo Teixeira e Moisés Carvalho, sócios da Buriti, grupo goiano de empreendimentos imobiliários; o empresário Antônio Bahia; o médico Leonardo Tolentino; e o veterinário Hebert Justo, ambos também de Goiás.

Capital do estado, Goiânia foi escolhida como ponto de partida da startup. Em outubro de 2021, a +Pet abriu seu primeiro hospital na cidade. Entre outros recursos, a unidade tem mais de 70 leitos, UTI, atendimento 24 horas e capacidade de realizar mais de 250 cirurgias por mês.

No sábado, 12 de novembro, a empresa ampliou sua pegada ao inaugurar um segundo hospital em Brasília (DF). Agora, seu mapa de operações inclui essas estruturas e mais quatro clínicas na capital federal, em Goiânia, Aparecida de Goiânia (GO) e Campinas (SP).

A abertura em Brasília integra o plano de investir R$ 50 milhões para chegar a dez hospitais até 2024 e reforça o caminho escolhido pela +Pet para avançar no setor. Esse trajeto encontra uma intersecção com um modelo que vem sendo adotado por grandes players no mercado tradicional de saúde: a verticalização.

Antonio Cassio dos Santos, investidor e sócio-responsável pela +Pet

Os hospitais da rede também irão abrigar laboratórios de exames como tomografia, ultrassom e raio-x, além de farmácias e uma área de pet shop. A empresa já planeja adicionar serviços de telemedicina e de cremação a esse pacote.

“Esses hospitais também nascem dentro de um conceito totalmente humanizado”, observa Cassio. “O tutor vai ter espaços à disposição para descansar e trabalhar caso queira ficar durante o período de internação do seu pet.”

O papel das clínicas que irão compor a rede será cuidar dos atendimentos de menor complexidade. A +Pet decidirá pelas aberturas à medida que os hospitais ganharem maturação e registrarem baixos níveis de ociosidade.

Para amarrar todo esse modelo, a empresa criou um plano de saúde com cinco opções disponíveis e mensalidades que vão de R$ 99,90 a R$ 269,90. Basicamente, a diferença entre essas modalidades é a taxa de coparticipação fixada em determinados procedimentos.

Existe ainda uma alternativa para reduzir os valores pagos nas mensalidades. Ao optar por um dos planos, o cliente passa a ter acesso à Coins Pet+, uma parceria com o marketplace Cofry, outro negócio no qual Cassio tem participação.

A plataforma reúne mais de 35 milhões de produtos e 800 parceiros, entre eles Amazon, Carrefour, Americanas, Fast Shop, Booking.com e Casas Bahia. Além de itens com descontos, a cada compra, o usuário recebe créditos em cashback para serem usados no pagamento dos planos de saúde da +Pet.

Expansão

Com previsão de inauguração no primeiro trimestre de 2023, o terceiro hospital será instalado em Campinas (SP). A escolha das próximas praças que irão receber novas unidades seguirá a tese adotada desde o início pela startup.

Em Brasília, por exemplo, pesquisas identificaram que 55% das famílias com renda superior a R$ 8 mil têm animais de estimação ou pretendem adotar ou comprar um nos próximos 12 meses. Desse total, 39% manifestaram a intenção de investir em um plano de saúde.

“Não vamos pescar no mar aberto, nosso modelo é de aquário”, diz Cassio. “Vamos focar em cidades que combinem pouca concorrência, uma base de pelo menos 50 mil pets e um bom potencial socioeconômico.”

Esse olhar inclui regiões como Sul e Nordeste e não exclui aquisições para acelerar o processo. Em outubro, a +Pet fechou seu primeiro ano de operação com 2,5 mil pets segurados. “Nossa projeção conservadora é chegar a 60 mil segurados em 2024, com uma receita em torno de R$ 100 milhões”, diz Cassio.

O plano da +Pet é chegar a uma rede de dez hospitais até 2024

Outros números alimentam esses planos. O mercado brasileiro de pet saltou de um faturamento de R$ 35,3 bilhões, em 2019, para R$ 51,7 bilhões, em 2021. O segmento de serviços veterinários movimentou R$ 5,4 bilhões, enquanto a venda de medicamentos gerou R$ 5,8 bilhões.

De olho nesse mercado, quem também caminha para a verticalização é a Petz. Hoje, com a marca Seres, o grupo tem 17 hospitais e 151 centros veterinários, e planeja iniciar um projeto-piloto de plano de saúde no primeiro semestre de 2023.

A Petlove é mais um nome no segmento. Em março, a empresa comprou a Nofaro, de planos de saúde pet. Um ano antes, passou a operar a Health for Pet, que foi rebatizada de Porto.Pet, após receber um investimento da Porto.

Esse cenário envolve ainda empresas tradicionais, como a Qualicorp que, há um ano, lançou o Assistência Pet, e startups que já nasceram focadas no segmento, como a Plamev Pet, que já levantou recursos junto a fundos como FIR Capital, Health Invest, Duxx e VS1 Capital.