Neste sábado, dia 11 de setembro, a Petz completa um ano de seu IPO na B3, oferta na qual captou R$ 3 bilhões. E a rede de pet shops tem, de fato, o que comemorar. Em 12 meses, suas ações valorizaram 96,2% e seu valor de mercado saltou de R$ 5,1 bilhões para R$ 10,6 bilhões.

Os avanços em digitalização e na pegada multicanal ajudam a explicar, em boa medida, o desempenho nesse passado recente. Mas, à parte do varejo, outra frente em gestação desponta como um dos negócios que podem destravar muito mais valor para a operação: o braço de saúde animal Seres.

Sem fazer alarde, a Petz está criando um ecossistema nos moldes de gigantes como a Rede D’Or e a Dasa, mas no mundo dos pets. Desde o IPO, a Seres saiu de 7 para 12 hospitais e de 99 para 126 centros veterinários. E, dando sequência a essa trilha, prepara a entrada em laboratórios e planos de saúde.

“Somos os primeiros consolidadores de uma estratégia de hospital veterinário nacional e já estamos pensando nessa integração vertical”, diz Sergio Zimerman, fundador e CEO da Petz, ao NeoFeed. “Estamos construindo esse negócio de forma silenciosa, mas, ao mesmo tempo, bastante intensa.”

Dois números dão um termômetro do que está em jogo nessa estratégia no curto prazo. Segundo uma projeção do Instituto Pet Brasil, em 2021, os serviços veterinários vão movimentar R$ 4,6 bilhões no mercado brasileiro, um crescimento de 18% sobre o ano passado.

“Existe um movimento consistente de humanização dos pets e, naturalmente, os cuidados de saúde e de prevenção acompanham essa evolução”, afirma Zimerman. “E a pandemia reforçou essa tendência, pois os tutores, em casa, passaram a prestar ainda mais atenção nos pets.”

Ao encontro desse contexto, as unidades da marca contam com instalações separadas para atendimentos de cães e gatos em áreas como oncologia, cardiologia, dermatologia, ortopedia e odontologia.

O portfólio inclui desde vacinação, check-up e orientação nutricional até procedimentos mais complexos, com estruturas como centros cirúrgicos, alas de reabilitação e salas para quimioterapia e tomografia. Parte das unidades funciona 24 horas e oferece ainda atendimento domiciliar.

Mais do que construir uma rede com presença nacional, algo inédito em um segmento extremamente pulverizado, tanto no varejo como em saúde, uma das apostas da Petz para ganhar terreno e diferenciar a Seres são os hospitais veterinários, que concentram essa oferta em sua plenitude.

Dentro dessa estratégia, os passos mais recentes foram dados em julho, com hospitais em Fortaleza (CE) e no bairro de Santa Cecília, na região central de São Paulo. Hoje, as unidades estão distribuídas em 9 estados, em cidades como Salvador, Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Natal e Vitória.

No médio prazo, a ideia é ter ao menos um hospital em cada capital. Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG) são alguns dos próximos pontos no mapa em avaliação. Para consolidar essa expansão com mais velocidade, o maior entrave, segundo Zimerman, é a falta de mão de obra especializada.

Sergio Zimerman, fundador e CEO da Petz

Seja em hospitais ou em centros veterinários, a ampliação da Seres estará sempre associada a uma loja da Petz. “Isso abre a possibilidade de vendas cruzadas”, diz ele. “Temos o cliente por inteiro e a rentabilidade é muito maior.”

Atualmente, a Petz tem 143 lojas no País, das quais 18 foram abertas em 2021. As duas mais recentes, em Manaus (AM) e Palmas (TO), marcaram a entrada da empresa na região Norte. O plano é fechar o ano com mais de 30 inaugurações no total.

Uma vez que a capilaridade da Seres esteja consolidada, o passo seguinte será entrar em laboratórios. E, em seguida, lançar o plano de saúde. O grupo está fechando um contrato com uma consultoria, de nome não revelado, para identificar a melhor forma de executar esses movimentos.

“Estamos começando a desenvolver essa nova etapa”, diz Zimerman. “Ainda não definimos como iremos fazer. O que nós sabemos é que queremos e precisamos avançar para tornar esse ecossistema completo”

A Petz já tem, no entanto, alguns parâmetros e hipóteses como ponto de partida. No caso dos planos de saúde, a orientação é oferecer uma alternativa capaz de democratizar o acesso aos serviços ofertados, com pagamentos mensais.

No que diz respeito aos laboratórios, uma possibilidade é acelerar a estreia no segmento por meio de aquisições. “Nossa impressão é de que existe muito espaço para profissionalizar esse mercado”, afirma. “Mas essa é uma das respostas que vamos buscar em parceria com a consultoria.”

Na dianteira

Enquanto a Petz estuda como dar seus próximos passos em saúde animal, há quem enxergue boas perspectivas no caminho já percorrido pela Seres. Esse pilar foi um dos pontos destacados em um relatório recente do Bank of America.

“Continuamos a enxergar uma oportunidade considerável na construção de uma rede maior de hospitais e clínicas veterinárias e na adição de elementos de telemedicina ou na exploração de outros temas de saúde”, escreveram os analistas Robert Aguilar, Melissa Byun e Guilherme Vilela.

Com base no resultado da empresa no segundo trimestre, o banco reiterou a recomendação de compra e o preço-alvo da ação em R$ 31. O papel fechou o pregão da quinta-feira em R$ 26,98.

Entre abril e junho, a receita líquida da Petz cresceu 58,7%, para R$ 505,7 milhões. O grupo não divulgou o número referente a Seres, mas destacou que a receita da unidade avançou 50% na comparação anual.

“O avanço da Seres faz todo sentido no conceito de one stop shop da Petz”, diz Eduardo Yamashita, COO da consultoria Gouvêa Ecosystem. “O segmento de saúde animal tem um potencial enorme, mas ainda é inexplorado no País, e eles têm capital e capacidade para integrar e consolidar essa cadeia.”

Yamashita faz, porém, uma ressalva. “Esse é um mercado regulado, com uma dinâmica diferente do varejo”, observa. “Grandes redes do varejo, de outros segmentos, fizeram movimentos semelhantes além do seu core. E muitas delas falharam.”

A despeito dos riscos, a Petz não é a única do setor a seguir nessa jornada, mas o fato é que a empresa largou na frente da sua maior concorrente, a Cobasi. Com o caixa reforçado por um aporte de R$ 300 milhões do fundo de private equity Kinea, em abril, a companhia prepara sua entrada em saúde animal.

A Petz, por sua vez, também está se mexendo em seu negócio tradicional. Nesse espaço, um dos destaques recentes foi o pontapé na estratégia inorgânica do grupo. A primeira aquisição veio em junho, com a Cansei de Ser Gato, plataforma digital de conteúdo e produtos para gatos.

Entre abril e junho, a receita líquida da Petz cresceu 58,7%, para R$ 505,7 milhões

Já em agosto, a empresa anunciou a compra da Zee.Dog, por R$ 715 milhões. Conhecida como “a Nike do mercado pet”, a startup brasileira tem como uma de suas fortalezas a presença global, com seus produtos e acessórios distribuídos em quase 50 países.

À espera da aprovação dessa aquisição pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Petz já enxerga oportunidades na integração da Cansei de Ser Gato às operações e canais internacionais da Zee.Dog.

Com o aguardado sinal verde do Cade, no curto prazo, uma das primeiras iniciativas será a incorporação da Zee.Now, braço de entregas expressas da Zee.Dog. A partir dessa operação, a Petz projeta bons ganhos nos prazos de delivery dos pedidos realizados em seus canais digitais.

O e-commerce e o aplicativo da marca foram um dos destaques no segundo trimestre. Esses canais responderam por 29,7% do faturamento total da Petz no período. Já as vendas sob o conceito de multicanal representaram 86% da receita bruta de R$ 181,2 milhões do digital entre abril e junho.

“No roadshow do IPO, já tínhamos muitas boas histórias no digital e no omnichannel para contar, tanto que dissemos que a Seres não precisava ser precificada naquele momento”, diz Zimerman. “Mas agora que estamos confortáveis nessas duas frentes, chegou a hora de a Seres ficar sob os holofotes.”