Há um velho ditado que diz que enquanto alguns choram, outros vendem lenços. Ou melhor, vendiam.
Os lenços umedecidos desinfetantes estão deixando um vazio enorme nas prateleiras de varejistas americanos desde o começo da pandemia. E sua falta tem sido sentida até na bolsa de valores, onde as ações das fabricantes dispararam porque tudo o que é produzido é vendido como água.
No início de março, quando a onda do novo coronavírus chegou ao Estados Unidos, a corrida em massa aos supermercados desafiou toda a cadeia de fornecimento do país. E os itens de limpeza e higiene pessoal foram os principais alvos dessa "nova" demanda.
Passado os primeiros meses, papéis higiênicos e toalhas, alguns dos mais "cobiçados", voltaram à normalidade, mas ninguém mais viu e ninguém mais vê os "benditos" lenços umedecidos desinfetantes.
"Já procurei no Target, Ralph's, Walmart e até na CVS, mas não tive sorte em nenhum deles. Para contornar essa falta, tive que apelar para uma solução líquida e um papel toalha comum", diz Rick Calan ao NeoFeed.
Proprietário de um estúdio de pilates em Los Angeles, ele contava com os lenços umedecidos para cumprir com os novos protocolos de segurança, que pede que os aparelhos compartilhados sejam desinfetados entre o uso de um aluno e outro.
Mesmo na internet, o produto é um "achado". Na Amazon, as marcas mais comuns e baratas estão esgotadas e há pouca disponibilidade para as opções premium, que custam pelo menos duas vezes mais.
Em geral, uma embalagem de lenços umedecidos é vendida entre US$ 3 e US$ 4 nos mercados. Mas há usuários anunciando o produto em sites de e-commerce por quase US$ 22, em uma prática de lucro abusiva bastante criticada em meio à pandemia.
Uma das empresas mais famosas nesse segmento, a Clorox, revelou que a procura por seus lenços umedecidos desinfetantes disparou 500%, mas que só foi possível aumentar em 40% a produção, mesmo com a fábrica operando 24 horas por dia.
Avaliada em US$ 28,8 bilhões, a Clorox disparou quase 47% na Nasdaq desde janeiro e sua cotação atingiu a máxima histórica, com seus papéis vendidos a US$ 229,22.
Não será fácil equalizar a oferta e a demanda. Isso porque há carência de matéria-prima. O mesmo tecido usado na confecção desses produtos são empregados na fabricação dos chamados "equipamentos proteção individuais", como máscaras, aventais médicos e lenços umedecidos hospitalares, materiais prioritários em tempos de pandemia.
A Lysol, outra marca no setor, também sente as "dores" da escassez dos tecidos, mas encontra alívio na bolsa de valores. A Reckitt Benckiser, o conglomerado no qual Lysol faz parte, avançou 53% desde março deste ano e já vale US$ 70,2 bilhões.
Vendida no Whole Foods, da Amazon, a fabricante Seventh Generation, famosa por produtos mais ecológicos, relata que a produção e entrega de lenços umedecidos desinfetantes da empresa, no primeiro semestre de 2020, já é 63% maior que a registrada em 2019.
Além de ampliar as equipes, as jornadas de trabalho e reduzir o tempo de "descanso" das máquinas, a Seventh Generation tem flexibilizado algumas de suas regras, como ignorar padrões de cor para suas embalagens e até adotar outros recipientes para dar conta da demanda.
Apesar dos esforços, o diretor de supply chain da companhia, Jim Barch, afirma que a rota de recuperação desses itens deve ser "mais demorada e que talvez só seja normalizada em 2021".
No caso específico da Seventh Generation, a curva é mais demorada porque o tecido de polipropileno utilizado pela companhia tem de ser aprovado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e o número de material alternativo é bastante limitado.
Para outras empresas, que não adotam esse "selo verde", a expectativa é que o alívio chegue em agosto, quando o consumo deve voltar ao patamar normal de antes da pandemia.
Mas essa estimativa é colocada em xeque pelo vice-presidente de logística da linha de cuidados familiar P&G, Rick McLeod, que tem a marca Microban 24. Para ele, essa demanda alta veio para ficar.
"Se restasse alguma dúvida de que esses lenços umedecidos desinfetantes eram essenciais para que as pessoas se sintam seguras em suas casas, agora não resta mais", afirmou McLeod à CNBC.
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