Pouco mais de um mês depois de receber um cheque de R$ 580 milhões em uma rodada pré-IPO liderada pelo Softbank, a Omie pôs a sua máquina de M&A para funcionar.
A startup que desenvolve um software de gestão na nuvem para pequenas e médias empresas está comprando a Devi Tecnologia, dona de um sistema de computação em nuvem para frente de loja (PDVs), marcando sua entrada no segmento de varejo, área em que vai disputar mercado com a Linx.
“A lógica dessa aquisição é a complementariedade do produto com a nossa solução”, afirma Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie, com exclusividade ao NeoFeed. “Nos próximos 30 dias, devemos anunciar mais uma ou duas aquisições.”
A transação, que envolve dinheiro e ações, não teve seu valor revelado. Essa é a segunda aquisição da história da Omie. Em novembro do ano passado, a startup adquiriu a Mintegra, que, como o próprio nome diz, integra marketplaces e lojas virtuais, automatizando fluxos de controle de estoque e geração de pedidos de vendas.
A Devi Tecnologia, cuja sede fica em Americana, no interior de São Paulo, conta com 1,5 mil clientes, sendo que 67% deles já usam a solução online da Omie. A Devi faz parte da Omie Store, um marketplace com mais de 60 soluções complementares de diversas verticais que podem ser integradas nativamente ao software de gestão online da Omie.
“A Omie Store é a minha piscina de M&As”, diz Lombardo. “Outras soluções verticais do marketplace que tiverem um bom desempenho em termos de produto e de integração são fortes candidatas a entrar na nossa mira de fusões e aquisições.” De acordo com Lombardo, a Omie está olhando os setores de saúde, food service e de transporte, além de outras soluções da área de varejo.
A Omie vai incorporar os 15 funcionários da Devi, incluindo o fundador Lucas Souza. O plano é manter a operação de forma separada, aumentando a equipe e injetando recursos para o desenvolvimento da solução e a integrando ainda mais com a Omie.
O próximo passo, diz Lombardo, é acelerar o desenvolvimento de uma opção de “PDV mobile”, que permitirá vender, emitir cupom fiscal e se comunicar com a retaguarda em tempo real através de smartphones e tablets. Assim como a Omie, a Devi tem uma solução cujo modelo de negócio é o pagamento de uma mensalidade, que começa a partir de R$ 89,90.
Além do ERP
Fundada em 2013 por Lombardo e Rafael Olmos, a Omie se concentrou desde então no desenvolvimento de uma solução de gestão na nuvem voltada a aspectos financeiros, cujo principal canal de vendas são os contadores.
Atualmente, a startup conta com 73 mil clientes e movimenta, mensalmente, R$ 12 bilhões em documentos fiscais faturados por seus usuários. Esse número deve crescer ainda mais por conta de uma parceria com o Itaú, no portal Meu Negócio, que deu acesso à companhia a 1,5 milhão de PMEs que possuem algum relacionamento com o Itaú Unibanco.
Com a aquisição, a Omie dá mais um passo para expandir sua atuação para além do seu nicho principal. A startup até teve um módulo de varejo em seus primórdios. Mas abandonou a ideia quando chegou à conclusão de que o segmento era amplo demais.
A Omie conta com 73 mil clientes e movimenta, mensalmente, R$ 12 bilhões em documentos fiscais faturados por seus usuários
“Uma loja de food service precisa de um PDV específico, um restaurante por quilo precisa de integração com a balança e uma loja de sapato tem um PDV diferente”, diz Lombardo. “Descobrimos rápido que não existe uma solução única para o varejo.”
Agora, com a Devi, ela retoma seu antigo plano e parte para uma estratégia de enfrentar a Linx, a principal empresa dessa área, que foi absorvida pela Stone, em um negócio de R$ 6,7 bilhões.
“O mercado de varejo é grande e pulverizado”, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria especializada em varejo Varese Retail. “Há muito espaço ainda para ser ocupado, principalmente entre os pequenos estabelecimentos.”
A solução da Devi é focada em pequenos negócios, sendo que aproximadamente 90% dos clientes faturam menos de R$ 10 milhões. Esse é um público que interessa a Omie. Mas, durante a pandemia, a startup reformulou sua estratégia e passou a atuar com empresas maiores.
O escopo de atuação cresceu para empresas que faturem até R$ 200 milhões. Com esse novo posicionamento, a empresa passou a atacar clientes de companhias como Totvs, SAP e Linx. Atualmente, mais de 30% da receita da Omie, que não é divulgada, vêm desses clientes de médio e grande porte.
A Linx, por sua vez, tem forte presença em redes varejistas maiores e em grandes franquias. Ao ser incorporada pela Stone, ela passará, no entanto a atender um perfil de cliente de menor porte. “A sinergia com a Stone vai permitir à Linx penetrar em uma faixa de mercado de clientes que não atendia”, afirma Serrentino.
Com o cheque milionário do Softbank, a Omie vai também reforçar sua área financeira. A companhia já oferece uma conta digital aos seus 73 mil clientes que assinam o pacote de ERP na nuvem. O plano agora é se posicionar também como uma banco digital para pequenas e médias empresas.
Atualmente, a conta digital é oferecida só dentro do ERP, mas o objetivo é também ofertá-la sem a necessidade de ter uma assinatura do sistema de gestão. A companhia já fornece, via parcerias, produtos de crédito como antecipação de recebíveis, empréstimo parcelado e empréstimo com garantia de imóveis.
Os recursos do aporte serão também usados para a expansão do número de funcionários. Hoje, a Omie conta com 1,1 mil pessoas, incluindo os empregados das franquias. Até o fim do ano, a meta é chegar a 1,6 mil. Mas ao contrário de boa parte das startups, que buscam profissionais de tecnologia, as contratações serão concentradas na área comercial. No momento, a empresa conta com 200 vagas em aberto.