Depois de Santander e Bradesco surpreenderem negativamente o mercado, com os resultados obtidos no terceiro trimestre vindo abaixo do esperado, as expectativas estavam elevadas para o balanço do Itaú Unibanco

Mas, diferentemente de seus concorrentes privados, a maior instituição financeira do País, com valor de mercado na casa dos R$ 245,5 bilhões, conseguiu lidar melhor com a deterioração da qualidade dos ativos. A inadimplência, que vem sendo o terror dos bancos privados, cresceu apenas 0,12 ponto percentual em relação ao segundo trimestre, para 2,8%.

Com isto, o banco fechou o terceiro trimestre de 2022 com lucro recorrente de R$ 8,1 bilhões, alta de 19,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. O retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio anualizado foi de 21%, aumento de 1,3 ponto percentual em base anual. 

Em meio a um cenário nebuloso para o ano que vem, o Itaú prevê uma estabilização das condições. Mas a instituição financeira vai manter o perfil cauteloso quanto à concessão de crédito. A expectativa é de uma melhora no cenário, com um aumento moderado da inadimplência em pessoa física. 

“O cenário que projetamos é de uma certa normalização dos atrasos, depois de dois anos atípicos, em 2020 e 2021”, disse o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, em entrevista coletiva, nesta sexta-feira, 11 de novembro. “Possivelmente, veremos uma normalização nos dois primeiros trimestres do próximo ano em pessoa física.”

Essa normalização deve ocorrer em um momento em que o mundo e o Brasil devem atravessar um cenário econômico complexo. Maluhy Filho destacou a perspectiva de recessão na Europa e nos Estados Unidos, além do aperto monetário para conter a alta da inflação.

No Brasil, existe a perspectiva de desaceleração da economia, além das incertezas quanto ao rumo que a política fiscal tomará a partir de 2023 sob a gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. 

Diante deste cenário, o CEO do Itaú afirmou que a instituição manterá o perfil cauteloso que impera neste ano, com continuação da estratégia de maior seletividade quanto aos públicos para quem concederá crédito. “Manteremos a cautela tanto no apetite para risco quanto na interpretação do cenário”, afirmou Maluhy Filho. 

Na conversa com os jornalistas, os executivos do Itaú destacaram que foi essa cautela a responsável pelos resultados no terceiro trimestre. A manutenção da inadimplência sob relativo controle ocorreu graças ao foco nos segmentos de menor risco, como o Uniclass e Personnalité, em que é preciso ter renda mensal a partir de R$ 4 mil e R$ 15 mil, respectivamente. 

Além disso, houve um aumento de 8% no consignado com órgãos públicos, na comparação com segundo trimestre, e 15,4% na originação de crédito em micro, pequenas e médias empresas, sendo que 70% dessa originação ocorreu em empresas com maior faturamento. 

A margem financeira com clientes subiu 6,4% em relação ao segundo trimestre, para R$ 1,4 bilhão. Em termos anualizados, a margem média consolidada passou de 8,4% para 8,6%.

“Tivemos um crescimento importante em crédito e dentro dos segmentos onde queremos crescer, que oferecem um balanço adequado entre risco e retorno”, disse o diretor financeiro do banco, Alexsandro Broedel. 

Ainda assim, o Itaú viu o custo de crédito crescer 52,7% em relação ao terceiro trimestre de 2021, por conta do aumento em 49,8% na despesa de provisão para créditos de liquidação duvidosa (PDD), diante da expansão da carteira de crédito de varejo e da originação em produtos de crédito ao consumo e sem garantias. 

"O resultado de Itaú no trimestre demonstrou um descolamento do banco frente a seus pares privados em um cenário desafiador", diz trecho do relatório da Ativa Investimentos. "A gestão mais proativa e a qualidade da carteira de crédito fizeram a diferença, onde o banco vem conseguindo crescer carteira, ganhar eficiência e manter a inadimplência controlada."

Por volta das 11h32, as ações preferenciais do Itaú Unibanco caíam 2,28%, a R$ 26,99, acumulando alta de 31,2% no ano.