O Federal Reserve (Fed) é o protagonista do simpósio de Jackson Hole, que reúne banqueiros, financistas e acadêmicos do mundo inteiro de quinta-feira a sábado, 25 a 27 de agosto. Mas quem saiu na frente nesta segunda-feira, 22 de agosto, foi o Banco Central da China, que cortou os juros dos empréstimos em meio a forte tensão nos mercados.
O foco em Jackson Hole é notório, uma vez que o evento anual, lançado pelo Fed de Kansas City em 1978, é palco para sinalização sobretudo da política monetária do Fed que patrocina, neste momento, um ciclo de aperto monetário no combate à inflação.
Jerome Powell, presidente do Fed, faz a abertura do evento na sexta-feira pela manhã. Há um ano, em Jackson Hole, Powell acenou com a retirada de estímulos da economia como consequência da redução do balanço do Fed.
Ali foi dado o primeiro sinal de normalização da política monetária americana. Neste ano, porém, a política de juro da instituição ganha relevância pela pressão inflacionária compartilhada no mundo inteiro.
A expectativa que cerca a fala de Powell é se ele vai manter um rígido discurso contra a inflação e com chance de renovar a perspectiva de um terceiro aumento da taxa básica americana em 0,75 ponto percentual.
A contagem regressiva para o seminário de Jackson Hole diminui o destaque à redução de juro de empréstimos pela China, nesta segunda-feira, 22 de agosto, mas a sinalização de Pequim não perde a relevância. Ao contrário, reforça a indicação de uma semana atrás, quando o BC chinês reduziu sua taxa básica, de 2,85% para 2,75%.
Nesta segunda-feira, uma semana depois do primeiro movimento, a China reduziu as taxas de empréstimos de um e cinco anos, um sinal de que o governo pretende estimular a economia e evitar uma desaceleração mais acentuada do PIB.
A taxa preferencial de empréstimo de um ano caiu 0,05 ponto percentual (de 3,7% para 3,65%) e a taxa de cinco anos 0,15 ponto (de 4,45% para 4,30%). O mercado esperava cortes de 0,10 ponto em cada prazo.
“Redução do juro para empréstimos de prazos mais longos faz sentido, uma vez que há uma rotação interna [de investimentos setoriais], praticamente abandonando o investimento mobiliário já saturado e investidores buscam novos modais de investimento”, avalia, em relatório, o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, especialista em economias asiáticas.
Vieira pondera que a busca pela eletrificação e o investimento “verde” faz parte do foco do governo chinês, que demanda maciça atuação não só governamental, mas também do setor privado, especialmente estrangeiro, na infraestrutura dentro do cenário que exige uso de energia limpa.
A se confirmar uma desaceleração mais intensa do PIB chinês, o país atuará como fator deflacionista no mundo e a colaborar, indiretamente, para que os bancos centrais do Ocidente – sobretudo o Fed – arrefeça o ritmo de alta de sua taxa de juro.
Neste início de semana, o risco de recessão global paira como preocupação renovada, sobretudo, na Europa por ameaças de interrupção no fornecimento de gás russo.
Na sexta-feira, 19 de agosto, a Gazprom informou que paralisou o gasoduto Nord Stream 1 por três dias, a partir de 31 de agosto, para uma manutenção não programada. Desde 27 de julho, o fornecimento de gás pelo Nord Stream 1 para a Europa, via Alemanha, está a 20% de sua capacidade original, informam agências internacionais.
Uma ação mais contundente da Rússia torna ainda mais relevante as próximas definições dos maiores bancos centrais sobre taxa de juro – tema que estará no centro do debate sobre política monetária em Jackson Hole no fim de semana
Também na sexta-feira, 26 de agosto, será divulgado o índice de inflação que o Fed mais observa: índice de preços de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) referente a julho. Atualmente, esse índice acumula alta de 6,8% em 12 meses até junho.
O índice de preços ao consumidor americano teve variação zero em julho, quando o dado anualizado recuou de 9,1% para 8,5%. A semana também será de divulgação de atividade no setor de serviços e o sentimento do consumidor nos EUA.