Um sobrado alugado na rua Califórnia, no bairro do Brooklyn, zona sul de São Paulo, no fim de 2013. Oito anos depois, a mais de 7,6 mil quilômetros dali, o endereço que marcou o nascimento do Nubank foi a referência usada por David Vélez para simbolizar a jornada da empresa até estrear na Bolsa de Nova York, na manhã desta quinta-feira.
“Nós éramos loucos. O que estávamos pensando? Um bando de pessoas trabalhando em uma casa, com um cachorro no chão, pensando que poderia desafiar as maiores empresas na América Latina?”, disse Vélez, fundador e CEO da empresa, minutos antes de tocar o sino que marcou o início das negociações das ações da fintech brasileira. “E, de alguma forma, aqui estamos nós”.
A resposta inicial do mercado a esse desembarque do Nubank foi positiva. As ações da companhia abriram seu primeiro dia de negociações cotadas a US$ 11,25, alta de 25% sobre o preço fixado no IPO, de US$ 9.
Por volta das 13h10, horário local, quase quatro horas depois de Vélez soar a campainha na Nyse, os papéis estavam sendo negociados a US$ 11,73, uma valorização de 30,3%. Com esse patamar, a empresa já supera o valuation de US$ 50 bilhões que buscava inicialmente no IPO.
Divulgado na noite da quarta-feira, o preço inicial de US$ 9 por ação mostrou que Vélez e seus pares definitivamente não estavam loucos naqueles últimos dias de 2013.
Com essa cotação, a companhia foi avaliada em quase US$ 41,5 bilhões e tornou-se a instituição financeira mais valiosa da América Latina, superando o Itaú Unibanco (US$ 37,7 bilhões) e o Bradesco (US$ 33,2 bilhões), segundo a Economatica.
“Ainda estamos no primeiro segundo, do primeiro minuto, do primeiro tempo deste jogo”, afirmou Vélez, ao lado de Cristina Junqueira e Edward Wible, os outros dois fundadores da companhia. “Estou ansioso pelos próximos 5, 10, 15, 50 anos.”
Apesar da boa recepção ao ativo, esse horizonte à frente do Nubank guarda desafios. Uma das principais questões no radar dos investidores é o fato de a empresa ainda ser uma operação deficitária. No acumulado de janeiro a setembro deste ano, a fintech reportou uma perda de R$ 528 milhões.
Além de colocar à prova o seu modelo, a companhia desembarca na bolsa em um cenário no qual as empresas de tecnologia e fintechs enfrentam um momento de grande ressaca, com a desvalorização e, para muitos, a correção de seus preços e avalições no mercado.
Diante desse contexto, o próprio Nubank teve que rever suas expectativas, quando, em 30 de novembro, acabou reduzindo em cerca de 20% o valuation buscado inicialmente na oferta.