Os acionistas da Via, grupo controlador das varejistas Casas Bahia e Ponto (ex-Ponto Frio), abriram os negócios desta quinta-feira, dia 11 de novembro, com um gosto amargo na boca e uma queda no papel de quase 12% por vota das 12h45, cotado a R$ 6,22.

Não só porque ontem à noite, a companhia mostrou que a receita líquida caiu 5,9% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano passado, para R$ 7,35 bilhões.

Mas principalmente porque a empresa surpreendeu o mercado ao anunciar, em fato relevante, que os recursos dedicados a cobrir perdas em ações trabalhistas dobraram de tamanho, para R$ 2,5 bilhões, com um aumento de R$ 1,2 bilhão.

Após o anúncio, quatro dos principais bancos que analisam as companhias brasileiras de capital aberto - Credit Suisse, Goldman Sachs, Itaú BBA e BTG Pactual - publicaram relatórios nos quais lamentaram a revisão, que acaba pesando no balanço financeiro.

Segundo a companhia, o novo montante é reflexo de um aumento de 32% no tíquete médio dos casos sentenciados no acumulado de 2021, em relação aos que foram realizados em períodos equivalentes em 2019 e 2020. E também de um crescimento de 82% em novas reclamações trabalhistas no primeiro semestre deste ano, em comparação à primeira metade do ano passado.

A empresa também informou que o impacto da provisão no balanço do terceiro trimestre foi de R$ 810 milhões. No quarto trimestre, será de R$ 100 milhões a R$ 200 milhões. Em 2022, deve ficar entre R$ 900 milhões e R$ 1 bilhão. Em 2023, entre R$ 500 milhões e R$ 600 milhões.

Um dos bancos, o Credit Suisse, chegou a rebaixar a sua avaliação para a companhia, revisando o preço-alvo da ação de R$ 9,5 para R$ 5,5 em 12 meses. Com isso, a Via deixou de ser vista pelo banco como uma ação “outperform” (acima da média do mercado) e passou para “underperform” (abaixo da média do mercado).

Os analistas do banco suíço lembram que as questões trabalhistas fazem parte de um debate antigo na Via. No fim de 2019, a empresa já havia anunciado uma provisão de R$ 1,3 bilhão para derrotas em ações trabalhistas.

"O mercado, e nós, estava confortável, considerando os números precisos e sem esperar que nenhuma outra notícia ruim surgiria sobre isso. O anúncio (de ontem) mudou essa visão", escreveram os analistas do banco suíço, Victor Saragiotto e Pedro Pinto.

No fato relevante, a companhia informou que espera compensar o desembolso das provisões com a monetização de créditos tributários, que, no caso da Via, somam R$ 9,5 bilhões.

Não foi o suficiente para convencer o Itaú BBA. "Dada a relevância desta notícia, nós sentimos que nossas estimativas para a empresa e de preço-alvo não refletem mais a nossa visão e, por isso, estamos pondo a Via sob revisão neste momento", escreveram os analistas Thiago Macruz, Helena Villares, Maria Clara Infantozzi e Felipe Amancio. O BBA, até então, estava com uma estimativa de R$ 16,50 para o preço-alvo até o fim de 2021.
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O Goldman Sachs, que já tinha uma posição de venda para a Via antes mesmo do anúncio, manteve a sua recomendação, com um preço-alvo de R$ 7,70 em 12 meses.

"A notícia vem em um contexto de incerteza no cenário macroeconômico, que resultam em quedas nas receitas líquidas na comparação anual, causada principalmente pelo resultado mais fraco no canal físico e pela intensa competição no canal online", afirmaram Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini.

Para o BTG, que recomenda a compra do papel e estima um preço-alvo de R$ 21 em 12 meses, todos os olhos agora vão se voltar os esforços da Via para compensar o aumento das provisões, além do desempenho da companhia na reabertura da economia.

"Uma potencial revisão de Via dependerá não apenas da monetização dos créditos tributários, mas também de uma recuperação sustentável do tráfego de pedestres em suas lojas, do desempenho de seu negócio de e-commerce", afirmam Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis.

No terceiro trimestre, afetada pelo impacto de R$ 810 milhões das provisões no período, a Via registrou prejuízo líquido de R$ 638 milhões, após ter tido lucro líquido de R$ 590 milhões em igual período do ano passado.