Após a eclosão da crise bancária nos Estados Unidos, havia a expectativa nos mercados globais sobre a reação do Federal Reserve (Fed). Na quarta-feira, 22 de março, o banco central dos Estados Unidos aumentou em 0,25 ponto percentual a taxa básica americana de juros, cuja banda passou a oscilar entre 4,75% e 5% ao mês – o nível mais alto desde setembro de 2007.
A decisão pelo nono aumento consecutivo dos juros foi unânime por parte dos integrantes da autoridade monetária. Em um forte sinal de que o banco central dos EUA está quase encerrando a sequência mais agressiva de aumento de juros em décadas, o comunicado sutilmente removeu o aviso frequentemente repetido de que “aumentos futuros seriam necessários” para controlar a inflação crescente.
Em vez disso, o comitê disse que “algumas políticas adicionais podem ser apropriadas” para trazer a inflação de volta à meta de 2% estipulada pelo Fed.
Ao conversar com jornalistas após a distribuição do comunicado oficial, o presidente do Fed, Jerome Powell, reconheceu as tensões recentes nos bancos do país.
“Nosso sistema bancário é sólido e resiliente. O Fed está preparado para usar todas as suas ferramentas para mantê-lo são e salvo”, disse Powell. “Mas é muito cedo para dizer, realmente, se esses eventos tiveram algum efeito.”
Powell admitiu que o Fed “considerou” interromper os aumentos das taxas de juros por causa da turbulência bancária. E atribuiu o consenso em torno da elevação da taxa com base nos dados intermediários sobre a inflação e o mercado de trabalho, que vieram mais fortes do que o esperado.
“Estamos comprometidos em restaurar a estabilidade de preços e todas as evidências dizem que o público tem confiança de que faremos isso para reduzir a inflação para 2% ao longo do tempo”, disse Powell.
Analistas veem aspectos positivos após o anúncio da autoridade monetária. “A sinalização do Fed, que trocou a expressão “aumentos futuros seriam necessários”, de comunicados anteriores, por “pode haver algum ajuste na política de juros” agora animou o mercado, pois pode representar o fim do ciclo de alta de juros”, disse o economista Enzo Pacheco, da Empiricus Research.
Mudança de rumo
Há duas semanas, pouco antes da quebra do Silicon Valley Bank (SVB), Powell previa o aumento dos juros - o mercado falava em até 0,5 ponto percentual.
O presidente do Fed citou a persistência da inflação – de 6% ao ano em fevereiro, três vezes acima da meta estabelecida pela autoridade monetária – e o ritmo ainda aquecido da economia americana, que avançou 2,7% no último trimestre de 2022, fechando o ano com crescimento médio de 2,1%.
Após a quebra do SVB e a ampliação da crise para bancos pequenos e médios dos EUA – responsáveis por quase 40% de todos os empréstimos concedidos no país -, vários analistas passaram a considerar desnecessário um aumento elevado dos juros.
Economistas do Goldman Sachs estimam que a redução de empréstimos concedidos por bancos pequenos e médios em virtude da crise causaria um impacto equivalente a um aumento de 0,25 ou 0,50 ponto percentual na taxa de referência do Fed.
No comunicado, as autoridades do Fed anunciaram que agora esperam que o crescimento econômico seja ligeiramente mais lento este ano e a inflação um pouco mais alta do que previram em dezembro.
Eles também preveem aumentar as taxas de juros para 5,1% (valor mínimo) até o final de 2023, inalteradas em relação às projeções de dezembro, antes de cair para 4,3% até o final de 2024.
“Essas previsões indicam que o Fed parece estar vendo um grande impacto na atividade advindo desse choque do setor bancário”, diz o economista Kaian Oliveira, da Parcitas Investimentos. “Já estávamos caminhando para uma redução da concessão de crédito e o que o Fed sinaliza é uma possibilidade de contração ainda maior.”
A rigor, a crise bancária deverá fazer o que a política monetária do Fed ainda não conseguiu: abrir caminho para uma recessão da economia americana, o que ajudaria a derrubar a inflação.
Até a quebra do SVB, a expectativa do mercado financeiro americano era de um cenário “sem pouso”, o que significa que a economia continuaria crescendo, apesar dos sinais de desaceleração.
Com a crise bancária, os prognósticos mudaram para cenário de “pouso forçado”, ou seja, uma desaceleração abrupta, causada pela redução da oferta de crédito e de condições financeiras mais apertadas – o que ampliaria as chances de recessão já a partir de julho, de acordo com vários analistas.
Essa expectativa foi confirmada pelo Goldman Sachs, que revisou seus cálculos de probabilidade de economia entrar em recessão nos próximos 12 meses para 35%, ante 25% antes da quebra do SVB. Outro estudo estima redução de 0,5% do PIB dos EUA nos próximos 18 meses.