Quando Vinicius de Moraes escreveu sobre “uma casa muito engraçada que não tinha teto, não tinha nada”, ele não sabia, mas sua letra musical poderia facilmente ser utilizada para descrever uma propriedade virtual no metaverso. Pouco importa para os investidores, porém, já que as transações imobiliárias no mundo virtual estão crescendo.
Um estudo realizado pela MetaMetric Solutions, empresa que atua com um provedor de dados do metaverso, aponta que as vendas de imóveis nas principais plataformas imobiliárias que atuam com este mundo virtual superaram US$ 501 milhões em 2021.
O valor pode ser ainda maior neste ano. Somente em janeiro foram comercializados US$ 85 milhões em transações imobiliárias envolvendo propriedades virtuais. A previsão da MetaMetric é de que as vendas possam chegar a quase US$ 1 bilhão em 2022.
Para chegar a essa conclusão, a empresa de pesquisa coletou e analisou dados de vendas de imóveis digitais nas quatro maiores plataformas que fazem este tipo de trabalho. São elas: Sandbox, Decentraland, Cryptovoxels e Somnium.
Consideradas plataformas imobiliárias, essas empresas fazem mais do que apenas o trabalho de uma imobiliária. Elas atuam também como construtoras e cada uma opera dentro de seu próprio universo virtual.
A Sandbox, por exemplo, está desenvolvendo 100 ilhas chamadas de Fantasy Islands, cada uma com suas próprias vilas, barcos e jet-skis. Noventa ilhas foram vendidas no primeiro dia por US$ 15 mil cada. O valor de revenda dos terrenos já ultrapassa US$ 100 mil em alguns sites.
O valor pedido é alto, mas está longe do recorde. Em novembro do ano passado, um terreno digital da Decentreland foi vendido por US$ 2,4 milhões. O valor ativo digital é maior do que os praticados em terrenos reais em Nova York.
Esta supervalorização do ativo virtual é o que parece movimentar uma nova corrida pelo ouro. Assim como aconteceu com as criptomoedas, investidores podem enxergar as propriedades no metaverso como um ativo de especulação e que vai se valorizar no futuro.
Essa crença é apoiada por estudos que mostram que o mercado imobiliário virtual vai decolar nos próximos anos. Uma análise da empresa indiana de pesquisas BrandEssence Market Research mostra que o mercado imobiliário do metaverso deve crescer 31% ao ano até 2028.
Os investimentos de gigantes de tecnologia no metaverso também animam os investidores. A mudança de nome do Facebook para Meta no fim de outubro, por exemplo, desencadeou um movimento massivo de compra de ativos na realidade virtual. Durante o mês de novembro houve um recorde nas vendas, totalizando US$ 133 milhões em imóveis virtuais vendidos.
Mas há algumas diferenças entre esse mercado e o de criptomoedas, por exemplo. A principal delas é que, enquanto o bitcoin, que é a principal moeda virtual em circulação, tem sua produção limitada e controlada, não há limites para a criação de novas propriedades no metaverso.
Isso pode significar, caso a oferta não seja controlada, a queda nos preços dos ativos. Mas ainda é cedo para fazer qualquer projeção em relação a isso.
Ao todo as quatro maiores plataformas de propriedades do metaverso já contabilizam mais de 268 mil encomendas de imóveis de diferentes tamanhos e em diferentes localizações. A Sandbox domina o mercado com 62% dos terrenos disponíveis.
Ainda que imprevisível, este mercado tem atraído diferentes empresas. Andrew Kiguel, CEO da startup canadense Tokens.com, por exemplo, levantou um fundo de US$ 16 milhões para o investimento em imóveis no metaverso onde pretende realizar eventos virtuais de moda.
A Tokens.com é conhecida no mercado por já ter firmado parceria com diferentes clubes do futebol brasileiro para comercializar tokens digitais que funcionam como criptomoedas digitais – o que permite a revenda – e possibilita aos torcedores participarem de votações e sorteios exclusivos
O Brasil, aliás, já tem seus próprios investidores no mercado imobiliário do metaverso. Em janeiro, InspireIP comprou um terreno no metaverso por algo em torno de R$ 80 mil. O valor foi pago com criptomoedas – como de praxe – e a plataforma utilizada na transação foi justamente a Sandbox.
Com sede em Salvador, a startup é descrita como uma plataforma para o registro de direitos autorais em blockchain. A ideia é utilizar a propriedade virtual para a exposição de NFTs – que também podem ser vendidos.
Em outras palavras, trata-se de um lugar de exposição virtual para a venda de um ativo virtual para ser visto somente no mundo virtual – mas tudo pago com dinheiro real.