Os vinhos rosés estão cada vez mais conquistando os brasileiros. Em 2021, a Miolo vendeu 800 mil garrafas do Miolo Seleção Rosé, tornando-se o mais vendido do País. “Nós demoramos alguns anos para ter êxito quanto à intensidade de cor desejada e ao equilíbrio em boca”, diz Miguel Almeida, enólogo da Miolo, ao NeoFeed.
Entre os importados, o sucesso de vendas é o Rosé Piscine, vinho pensado para ser bebido com pedras de gelo dentro da taça e produzido por uma cooperativa do sudoeste da França. Nos dois últimos anos, a marca está entre os três vinhos franceses mais importados no mercado brasileiro (só neste ano, de janeiro a setembro, já foram importadas mais de 365 mil garrafas, alta de 135%).
As importações de vinhos rosés bateram também um recorde histórico, superando a marca de 1 milhão de caixas (cada caixa conta com 12 garrafas) importadas entre janeiro e setembro, um crescimento de 39%, segundo dados da consultoria Ideal BI.
A inspiração de boa parte dos produtores de vinho rosés, em especial do novo mundo, é na Provence. Os vinhos dessa região souberam vender a Riviera francesa para o mundo, apoiados nas imagens dos balneários de Saint-Tropez, Nice e Cannes.
Agora, com esta base bem consolidadano Brasil, os importadores de vinhos parecem ganhar maior confiança para trazer expressões mais raras (e caras) de vinhos rosés.
"No começo dos anos 2000, quando ainda havia um certo preconceito contra o vinho rosado, já tínhamos 32 rosados diferentes de 10 países”, diz Ciro Lilla, presidente da importadora Mistral. "Hoje contamos com nada menos que 68 rótulos de 15 países diferentes."
O grande ícone do segmento e um cult entre os enófilos é o Viña Tondonia Gran Reserva Rosado. Um rosé lançado com 10 anos de idade, dos quais quatro anos estagiados em barricas de carvalho. A vinícola de Rioja (Espanha) é uma referência pelo classicismo e longevidade dos vinhos.
Em 2018, ela retomou a produção de seu raro rosé, com a safra 2008. Até então a safra anterior era a 2000. As 20 mil garrafas produzidas se esgotaram pelo mundo rapidamente e as safras seguintes, 2009 e a “atual" 2010, também estão praticamente esgotadas. Seu importador no Brasil, a Mistral, vendia a safra 2009 a preço próximo de R$ 580 cada garrafa e elas chegaram praticamente já vendidas.
Com o mesmo conceito, mas em Portugal, o enólogo Osvaldo Amado lançou no ano passado sua linha autoral de vinhos, batizada de Raríssimo. Após mais de três décadas se dedicando à produção de vinhos, Amado criou seus vinhos pensando justamente na longevidade dos mesmos, uma característica comum dos grandes vinhos.
O Raríssimo Clarete Clássico Dão 2013 (R$ 754, na Mosto Flor) repousou por 48 meses em tanques de inox antes de ser engarrafado e o nome “Clarete" corresponde à forma que os tintos de Bordeaux eram chamados nos séculos XIV e XV.
Na época, os vinhos tinham coloração pálida para um tinto, porém seus taninos e acidez garantiam longa vida aos vinhos. Das 3 mil garrafas produzidas apenas algumas centenas chegam ao Brasil.
Mesmo na Provence, o olhar parece ambicionar as gamas e valores mais altos. No fim de 2019, o conglomerado de luxo LVMH adquiriu o controle do Château d’Esclans, badalada vinícola da região que ficou conhecida por produzir alguns dos mais caros rosés provençais.
O projeto decolou em 2006, quando Sacha Lichine, cuja família era proprietária do Château Prieure Lichine, Cru Classé de Margaux (Bordeaux), decidiu comprar a propriedade e levou o reputado enólogo Patrick Léon (ex-Mouton Rothschild e falecido em 2018) para assessorá-lo.
Com a aliança, os planos agora estão na ampliação dos vinhedos e na distribuição global através da Moët Henessy. Recém-desembarcado no mercado brasileiro, o Château d’Esclan Whispering Angel Rosé tem o preço médio de R$ 300.
Ainda na Provence, o Domaine de Saint Ser adotou um caminho ainda menos ortodoxo em seu principal vinho. “Decidi batizar o vinho de Petite Folie (pequena loucura), porque é como as pessoas viam minha ideia”, diz a proprietária Jacquiline Guichot, que decidiu vinificar seu rosé em ânforas de terracota, que estão enterradas no chão da vinícola.
Os vinhedos estão aos pés do maciço calcário de Saint-Victorie e esta proteção natural facilita o cultivo das videiras segundo o biodinamismo (um passo mais rigoroso que o orgânico).
O uso de ânforas e recipientes sem quinas faz parte da filosofia biodinâmica e o desafio para a vinícola foi escolher uvas com ainda melhor acidez e intensidade, para suportar a oxigenação proporcionada por estes tanques (Petite Folie 2018, R$ 259, na Chez France).