Em 2021, muitas empresas de tecnologia compartilharam um roteiro: a abertura de capital nas bolsas de valores americanas. Segundo a consultoria Dealogic, 132 companhias fizeram esse percurso até o início de dezembro, captando cerca de US$ 86 bilhões, quase o dobro da cifra observada em 2020.
Agora, novos dados compilados pela consultoria americana mostram que esse aquecimento no setor foi replicado em outra esfera do mercado de investimentos: os aportes realizados pelas gestoras de private equity.
De acordo com a Dealogic, os investimentos liderados pelas empresas de private equity em companhias de tecnologia no mercado americano, até meados de dezembro de 2021, somaram US$ 401,71 bilhões, um salto de aproximadamente 104,5% sobre o montante registrado em 2020, de US$ 196,34 bilhões.
A cifra foi a maior da série histórica divulgada desde 1995 pela Dealogic. Em outro componente dessa equação, os aportes nos Estados Unidos representaram 40,5% do volume recorde de US$ 990,25 bilhões em investimentos globais de private equity no segmento no decorrer de 2021.
Em entrevista ao The Wall Street Journal a respeito desses dados, David Humphrey, codiretor de private equity da Bain Capital, destacou que o forte desempenho do setor durante a pandemia e a demanda reprimida dos investidores ajudam a explicar esse crescimento exponencial.
A Bain Capital foi, inclusive, um dos nomes que impulsionaram esses números. Ao lado da Hellman & Friedman LLC, a empresa fechou a aquisição da Athenahealth, em novembro de 2021, em um acordo de US$ 17 bilhões.
Também em novembro, a Clearlake Capital desembolsou US$ 5,4 bilhões para comprar a Quest Software, enquanto a Advent e a Permira Advisers fizeram uma proposta, ainda pendente de aprovações, de cerca de US$ 12 bilhões pela McAfee, de segurança da informação.
Ao mesmo tempo em que muita gente tem criticado o exagero nos múltiplos, em muitos casos acima de 30 vezes o ebitda, os preços mais inflados dos ativos têm sido acompanhados pela captação de recursos com mais rapidez e em maior volume. É o caso, por exemplo, de gestoras como Vista Equity Partners, Thoma Bravo e Silver Lake, que estão iniciando ou no meio da captação daqueles que seriam seus maiores fundos até então.
Em contrapartida, há quem esteja mais cético quanto à manutenção desse cenário movimentado em 2022. E que já manifeste sua preocupação quanto ao retorno dos investimentos no setor, em função das avaliações elevadas dos ativos.
Sócio da gestora 3i Group, Andrew Olinick disse ao WSJ que o mercado já está avaliando com mais atenção os negócios potenciais em tecnologia e que houve um aumento nas transações que fracassaram nos últimos meses.
“À medida que as taxas [de juros] sobem, haverá um pouco mais de discernimento”, acrescentou. “Acho que as empresas que apresentam um forte desempenho ainda comandarão avaliações muito completas”.