A decisão do Nubank de deixar de ser uma companhia aberta no Brasil surpreendeu os detentores dos BDRs da empresa e o mercado. Dez meses depois de optar pela dupla listagem, o banco digital resolveu manter esse status apenas em Nova York, um movimento que ainda está sendo entendido por investidores e analistas.

Por enquanto, a repercussão tem sido negativa. Por volta das 13h50, as BDRs recuavam 5,46%, para R$ 4,50. Na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse), as ações recuavam 5,54%, para US$ 5,20. No ano, os papéis acumulam queda de 44,7%, resultando num valor de mercado de US$ 24,3 bilhões. 

O Nubank anunciou na quinta-feira, dia 15 de setembro, após o fechamento do pregão, que vai descontinuar o programa de BDRs Nível III. Os papéis migrarão para o Nível I do programa de BDRs, emitidos por empresas estrangeiras que não estão listadas no mercado local.

Quando optou pela dupla listagem, o Nubank informou que a medida visava permitir que investidores brasileiros pudessem participar do IPO, além de viabilizar o programa NuSócios, que ofereceu, sem custos, BDRs a mais de 7,5 milhões de clientes. 

Agora, a empresa alega que estar em apenas um mercado vai “maximizar a eficiência e minimizar redundâncias consequentes de uma companhia aberta em mais de uma jurisdição”. A justificara não colou, porém, entre alguns analistas que acompanham o banco.

Para o Itaú BBA, a decisão é negativa para os acionistas minoritários locais e para a governança corporativa. Os analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barranjard avaliam que a medida pode resultar numa piora da divulgação de informações, dificultando a comparação com instituições financeiras locais. 

“O Nubank continua sendo negociado a valuations elevados, com a relação entre o preço e o valor patrimonial das ações em 5 vezes, e quanto mais informações disponíveis para dar maior conforto aos investidores, melhor”, diz um trecho do relatório. 

A Nord questionou a alegação do Nubank sobre os custos da dupla listagem. A casa de research contra argumentou citando um levantamento feito pela Deloitte em parceria com a B3, que identificou que os custos médios recorrentes não passam de R$ 1,5 milhão por ano. Esse valor seria pouco representativo, considerando que as despesas totais da empresa somaram US$ 388,1 milhões no segundo trimestre, enquanto a receita total alcançou US$ 1,1 bilhão. 

“Parece que o banco chegou a avaliar os custos de ser uma companhia aberta em duas bolsas, mas mesmo assim decidiu seguir adiante com o programa de sócios”, diz trecho do relatório assinado por Danielle Lopes. 

Para a analista, o motivo para a decisão tem a ver com o baixo desempenho e a necessidade de prestar contas aos acionistas. A analista cita o aumento de 0,6 ponto percentual do índice de inadimplência acima de 90 dias entre o primeiro e o segundo trimestre, chegando a mais de 5%, acima ao registrado pelos grandes bancos.

“Sua saída não é pelo custo, que é irrisório na conta final, mas sim pela escolha de manter mais clientes longe das notícias ruins do mercado de ações”, afirma Lopes.

Nem todos os analistas consideraram a decisão como extremamente negativa, com alguns avaliando que a reação dos papéis está relacionada a um “susto” com a decisão, além de estar em linha com o que se vê nesta sexta-feira pelas bolsas no mundo, muitas delas operando em queda. 

“Toda e qualquer alteração que temos em relação à listagem de um papel dentro da Bolsa, esse novo comunicado tende a trazer um pouco de instabilidade para os papéis daquele negócio naquele dia”, afirma Sidney Lima, analista de investimentos da Top Gain, startup de análises e educação financeira.

Para João Daronco, analista da Suno Research, o pequeno investidor não terá prejuízos com a medida, considerando as opções oferecidas pelo Nubank. Na primeira, os investidores receberão ações do banco negociadas na Bolsa de Nova York, desde que tenham seis BDRs Nível III, que equivalem a uma ação ordinária classe A, e uma conta ativa numa corretora nos Estados Unidos

A segunda alternativa é manter-se como detentores de BDRs, trocando os papéis do Nível III para ativos do Nível I. E a terceira é vender os ativos, num processo facilitado a ser instituído pela empresa. 

“O Nubank vai deslistar as ações no Brasil porque isso acarreta em vários custos e despesas que adicionais que talvez não agregam tanto valor”, afirma. “Entendo que a queda das ações hoje é um movimento da bolsa como um todo.”