Antes de se tornar empreendedor, o brasileiro Felipe Szpigel passou 21 anos trabalhando no mercado de bebidas. Na cervejaria AB Inbev, dona da Ambev no Brasil, chegou a comandar a divisão High End, responsável por cervejas como as belgas Stella Artois e Leffe, a alemã Franziskaner e a americana Goose Island no portfólio.
Nessa época, Szpigel observou o crescimento da categoria "ready to drink" e decidiu fundar sua própria empresa. Em 2018, ele saiu da AB Inbev e se uniu aos sócios Jeremy e Chris Cox, fundadores da cervejaria 10 Barrel Brewing Co., Gustavo Sousa, ex-sócio da agência Mother, e Roberto Schuback, ex-executivo da ZX Ventures, braço de venture capital da AB Inbev, para criar a F!ve Drinks.
A proposta da F!ve Drinks, que nasceu nos Estados Unidos, é oferecer drinques em lata feitos com destilados de verdade, produzidos por destilarias artesanais, em vez do álcool de cereais tradicionalmente usado nesse tipo de bebida pronta.
Desde que foi criada, a F!ve recebeu US$ 1 milhão em uma rodada liderada pela VO2 Capital, um multi family office fundado pelos brasileiros Guilherme Decca e Andre Ikeda, executivos com passagens por instituições financeiras como HSBC, Santander, Nomura e Lehman Brothers. Na ocasião, a VO2 Capital comprou uma fatia de 10% da companhia, avaliando-a em US$ 10 milhões.
No ano passado, a F!ve Drinks vendeu 1,2 milhão de latas, oito vezes mais do que 2019. E a meta desse ano é quase multiplicar por mais de oito a produção, chegando a 10 milhões de latas. E o Brasil será fundamental nessa estratégia.
A F!ve Drinks desembarcou por aqui em dezembro de 2020 e já vem mostrando sinais de crescimento. O primeiro lote, com 60 mil latinhas, foi vendido em apenas três meses. Agora, a produção que chega às gôndolas é de 500 mil latas.
"Vimos que havia um potencial enorme em unir a qualidade de um produto que você tomaria em um bom bar com a conveniência da lata", diz Szpigel, ao NeoFeed. "Do lado da marca, buscamos criar uma comunicação moderna, com design e conteúdo mais orgânico, longe dos rituais e da tradição."
O portfólio brasileiro, por enquanto, tem três drinques: gin tônica, uma receita de mojito elaborada com maracujá e a Voilà Tonic, feita em parceria com a marca de vinhos Voilà, que leva suco de cranberry, menta, água tônica, limão e vinho.
A empresa compra os destilados usados nas receitas da San Basile, destilaria artesanal localizada no interior de São Paulo. A produção do produto final é feita na fábrica da New Age Bebidas, também no interior paulista.
As receitas foram produzidas em parceria com o bartender Márcio Silva, ex-sócio do bar Guilhotina, que ficou em 15º lugar no ranking mundial The World's Best Bars em 2019.
As latas podem ser compradas diretamente no site da empresa e estão disponíveis em caixas com quatro unidades, vendidas a R$ 39,60. Os drinques também podem ser encontrados nas unidades da rede St. Marche, em São Paulo, e Zona Sul, no Rio de Janeiro. Szpigel conta que nas próximas semanas eles serão vendidos também em grandes redes de supermercados, mas o anúncio oficial será feito em breve.
A estratégia da marca também prevê o lançamento de novidades periódicas. Um novo drinque será lançado por aqui em maio. E outras duas colaborações estão previstas para 2021. "A gente acredita em oferecer novidades. A meta é lançar entre três e cinco receitas por ano", afirma Szpigel.
Nos Estados Unidos, a startup lançou três receitas feitas em parceria com o Dante, eleito o melhor bar do mundo em 2019 pelo ranking The World's Best Bars - em 2020, caiu para a segunda posição.
O portfólio americano da marca é um pouco maior e inclui receitas populares por lá, como moscow mule, mojito, margarita e paloma, feito com tequila e toranja.
São produtos voltados para um público mais jovem, na faixa dos 25 anos a 35 anos, que normalmente compram os destilados para misturar em receitas e que gostam da praticidade que a lata oferece. Segundo Szpigel, o perfil de seus consumidores é mais feminino: as mulheres representam 55% dos clientes.
O setor "ready to drink", conhecido também como RTD, vem ganhando força nos Estados Unidos e no Brasil. Um levantamento feito pela consultoria IWSR, especializada em bebida, aponta para o crescimento de 43% da categoria em 2020. Outro estudo, da consultoria Grand View Research, diz que o mercado de coquetéis prontos superou US$ 714 milhões em 2020. E pode bater US$ 1,6 bilhão até 2027.
O Brasil, embora não tenha dados consolidados desse segmento, vem mostrando maturidade. A pandemia fez com que muitos bares apostassem em coquetéis engarrafados, mas o fenômeno não é recente. O Bar Apothek, do premiado mixologista Alê D'Agostino, lançou a marca APTK Spirits, de drinks para viagem.
O Grupo Jungle Bitter surgiu em 2019 a partir da fusão Jungle Gin e Bitter&Co justamente com a proposta de oferecer drinques engarrafados e destilados artesanais. Até grandes marcas de destilados, como a Tanqueray e Gordon's, ambas da gigante Diageo, também oferecem versões de gin tônica em embalagens individuais e prontas para beber.
"O bom momento da categoria é uma somatória de fatores", diz Alan Kuhar, professor de marketing da ESPM. Em sua visão, a indústria de envase está apta a produzir lotes menores por conta da popularidade das cervejarias artesanais. O consumidor também busca opções além da cerveja e está mais acostumado a drinques. E os fabricantes, de olho no mercado, têm lançado opções para todos os bolsos.
O fortalecimento da categoria, no entanto, não significa que os bares tradicionais vão perder clientes. "São ocasiões de consumo diferentes", afirma Kuhar. O próprio Szpigel reforça que seus produtos não vieram para substituir a experiência de tomar um drinque preparado por um mixologista no balcão de um bar. "Por favor, sempre que você puder ter essa experiência, vá", diz ele.
No futuro, quando a pandemia estiver sob controle, Szpigel espera levar a marca para o setor de entretenimento. A estratégia é colocar as latinhas que produz em eventos e shows. “Queremos estar conectados com o mundo das artes e da música”, afirma. Ele quer também abrir uma destilaria da F!ve no bairro de Wynwood, em Miami. O projeto estava prestes a sair do papel no ano passado, mas a pandemia provocou uma mudança de planos.