Quando a pandemia do novo coronavírus atingiu a África do Sul, em março de 2020, o governo local fechou os portos para exportação e estabeleceu uma lei seca no país que, de forma intermitente, dura até hoje. Até o fim de julho deste ano, foram 23 semanas com as vendas de bebidas alcoólicas suspensas.
A “Wines of South Africa”, que promove os vinhos sul-africanos no exterior, contabiliza prejuízos da ordem de 400 milhões de rands (cerca de R$ 142 milhões) na venda de vinhos para cada semana de lei seca e 3,7 bilhões de rands (cerca R$ 1,31 bilhão) pelo enoturismo. Pior: cerca de 80 vinícolas podem encerrar as atividades e 20 mil postos de trabalho podem ser fechados nos próximos 18 meses, segundo as estimativas da associação.
Mas não há nada que esteja ruim que não possa piorar. E o drama do produtores de vinhos sul-africanos está ganhando contornos ainda mais dramáticos. “Agora que os portos estão abertos não há contêineres disponíveis para trazer os vinhos da África do Sul”, diz Adilson Carvalhal Junior, diretor-geral da Casa Flora, que importa os vinhos Nederburg, principal marca do grupo grupo de bebidas sul-africana Distell.
Não bastasse isso, os produtores sul-africanos tiveram também que lidar com outro problema. “Algumas vinícolas tiveram que fechar por até três semanas em virtude das convulsões sociais no país decorrentes da prisão do ex-presidente Jacob Zuma”, afirma Gustavo Zerbini, diretor-geral da importadora Distell na América do Sul e na América Central, que responde por cerca de 85% dos vinhos sul-africanos importados pelo Brasil.
Segundo dados da consultoria Ideal BI, especializada em alimentos e bebidas, o mercado brasileiro recebeu 122,6 mil caixas (de 9 litros) de vinhos sul-africano em 2019. Deste total, 33,9 mil caixas eram da vinícola Nederburg. Em 2020, o volume total importado teve uma queda de quase 47%, com 64,7 mil caixas. A Nederburg importou apenas 12,6 mil caixas no ano passado.
O drama das vinícolas sul-africanas acontece em um momento bastante especial para a produção de vinhos. Uma geração de novos enólogos recuperou os vinhedos antigos em Swartland, que está a cerca de 70 quilômetros ao norte da Cidade do Cabo, usados por holandeses para produzir uvas para vinhos brancos e tintos genéricos, nas primeiras décadas de 1900.
O grande nome e precursor deste movimento foi Eben Sadie. Antes de fundar sua vinícola familiar, ele trabalhou no Priorato (Espanha), Oregon (EUA), Borgonha (França). Sadie também atuou em colheitas e vinificação na Itália, Alemanha e Áustria.
Seu primeiro vinho, o Columella 2000, alcançou a pontuação mais elevada na Wine Spectator entre os vinhos sul-africanos daquela safra, o que causou grande surpresa. Na sua trilha e com histórias parecidas, muitos outros nomes surgiram em seguida, como os casais Chris e Andrea Mullineux (vinícola Mullineux) e David e Nadia Sadie (vinícola David Sadie).
O sócio e fundador da importadora Wines4U, Andrew Crawford, que trabalha com pequenos produtores desta nova geração de vinícolas sul-africanas, acredita que ainda compensa trazer esses novos vinhos sul-africanos. “As produções são pequenas, apenas alguns milhares de garrafas, mas a qualidade e personalidade vale a pena”, diz Crawford, que importa vinhos sul-africanos para no Brasil desde 2018.
Os importadores vislumbram que, até o fim do ano, as questões logísticas devem se tornar um pouco mais previsíveis. A Wines4U deve receber um carregamento com reposição do estoques dos vinhos atualmente no catálogo e ao menos duas novidades, entre setembro e outubro.
Para conhecer a nova onda dos vinhos sul-africanos:
Alheit Cartology 2018
90% Chenin Blanc e 10% Sémillon (Western Cape)
R$ 400 - Uva Vinhos
Intellego Syrah 2017
100% Syrah (Swartland)
R$ 249 - Wines4U
Ashbourne Pinotage Cinsault 2019
84% Pinotage e 16% Cinsault (Swartland)
R$ 313,43 - Mistral