Há três meses, em entrevista ao NeoFeed, João Vitor Menin, CEO do Inter, antecipou com exclusividade que a aproximação com times de futebol seria um dos novos campos de distribuição e o “grande vetor de crescimento” do banco para 2023.
Ao lado da migração das suas ações da B3 para a Nasdaq e da expansão para os Estados Unidos, a jogada que começou a ser ensaiada naquele período foi apenas um entre tantos movimentos que marcaram o ano de 2022 da empresa. Mas parece ter inspirado seus próximos lances.
Os resultados na mira do Inter foram apresentados na quarta-feira, 18 de janeiro, durante o seu Investor Day. Com um nome similar a um “esquema tático”, o plano batizado de “60-30-30” reúne os focos do banco para os próximos cinco anos.
“Não estamos falando apenas de 2023, e, sim, de um projeto de médio e longo prazo”, diz Menin, em entrevista ao NeoFeed. “A ideia é realmente mostrar aos nossos acionistas que as nossas prioridades estratégicas num horizonte de cinco anos serão crescimento, eficiência e rentabilidade.”
Os números destacados no plano traduzem metas a serem concretizadas dentro desses três pilares até 2027. A primeira, alcançar uma base de 60 milhões de clientes. A segunda? Um índice de eficiência - a variável que mensura o custo de um banco para gerar receita - de 30%.
A terceira meta, por sua vez, envolve a entrega de um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) em torno de 30% ao fim desse prazo, embalado por um lucro líquido de mais de R$ 5 bilhões e por uma carteira de crédito de R$ 100 bilhões.
Indicadores recentes mostram o caminho a ser percorrido para materializar essas entregas. No terceiro trimestre de 2022, por exemplo, o Inter reportou um prejuízo líquido de R$ 29,6 milhões, uma carteira de crédito de R$ 22 bilhões e um ROE negativo de 1,7%. Já o índice de eficiência foi de 78,3% (neste indicador, quanto mais próximo de zero melhor).
No período, para efeito de comparação, o Itaú Unibanco registrou um ROE de 21% e um índice de eficiência de 38,9% no País. Já no Bradesco, esses números foram, respectivamente, de 13% e de 46,5%. Na ponta dos players digitais, o Nubank, outro nome listado nos Estados Unidos, fechou o trimestre com um índice de eficiência de 55,1%.
Apesar do desafio, Menin entende que, após ser um dos pioneiros no espaço dos bancos digitais e de construir um ecossistema que vai além dos produtos e serviços não financeiros, o Inter está bem preparado para partir para o ataque e consolidar essas metas. A começar por um desses pilares.
“Nos últimos anos, adicionamos, em média, oito milhões de clientes e até em momentos de maior competição, com players digitais e bancos incumbentes lançando suas plataformas”, diz ele. “Fechamos 2022 com mais de 24 milhões de clientes e o que estamos mirando até 2027 é bastante exequível.”
Entre julho e setembro de 2022, o banco adicionou 2,1 milhões de clientes e chegou a um total de 22,8 milhões de clientes, o que representou um crescimento de 63,7% sobre igual período, em 2021. Outro ponto ressaltado por Menin é o fato de que, desse total, 61% já são clientes do Inter há mais de um ano.
“Nesse ritmo, em cinco anos, teremos 30, 40 milhões de clientes mais maduros, que irão representar 60%, 70% do total”, afirma Menin. “E essa base mais madura gera muito mais receita do que o cliente que acaba de entrar. É o que percebemos em 2022 e esperamos ver com mais consistência daqui para frente.”
No terceiro trimestre, a receita média mensal por cliente ativo foi de R$ 50. Em outro número, esse relacionado ao ano consolidado de 2022, que teve parte dos dados apresentada no Investor Day, 66% dos clientes atuais têm três ou mais produtos do banco.
Entre julho e setembro de 2022, a redução de 8%, para R$ 28, no custo de aquisição de clientes foi mais um dado ressaltado. Aqui, Menin cita fatores como a competição mais branda com fintechs e startups, que, até pouco tempo, inflavam a compra de anúncios no mercado. Mas que, diante de um contexto mais restrito, diminuíram esse ímpeto.
A partir da combinação desses e de outros indicadores, o CEO do Inter entende que o banco tem os alicerces para avançar também nos campos da eficiência e da rentabilidade. Parte dessa visão está ligada ao que ele classifica como um componente inercial do estágio em que se encontra a operação.
“À medida que a base amadurece, nosso nível de receita é muito maior e, consequentemente, a despesa para gerar aquela receita é mais eficiente, com diluição de custos”, diz ele. “O que construímos está feito. Está dado. Agora, temos mais espaço para escalar e melhorar a rentabilidade.”
A demanda por essas questões no balanço da operação foi justamente um dos principais pontos ressaltados em relatório do BTG Pactual sobre o resultado do Inter no terceiro trimestre de 2022. Ao mesmo tempo, os analistas destacaram que os investidores estão ficando mais impacientes com o caminho mais longo do que o esperado para a melhora de alguns indicadores do banco.
“Enquanto seguimos vendo valor no que o Inter criou e qualidade em seus ativos como destaques no trimestre, acreditamos que a melhoria do ROE no curto prazo está se tornando cada vez mais urgente”, escreveram Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, com preço-alvo para a ação de US$ 4,47.
No mercado de capitais, além das questões macro, essa visão, ao que tudo indica, está se refletindo, em parte, no desempenho da companhia. Na terça-feira, 17 de janeiro, os papéis fecharam com alta de 11,1%, cotados a US$ 2,60. E, em 2023, acumulam uma ligeira alta de 0,9%. Desde a listagem na Nasdaq, no entanto, a desvalorização é de mais de 24%. A empresa está avaliada em US$ 1,04 bilhão.