Os EUA não estão em recessão, mas podem caminhar para ela. E probabilidade é alta e depende do Federal Reserve (Fed), o BC americano.
O alerta é do economista, vencedor do Nobel de Economia em 2008, colunista do The New York Times e pesquisador na Universidade de Princeton, que participou, nesta quarta-feira, 10 de agosto, da Febraban Tech, feira de tecnologia do setor bancário.
“Os EUA estão, sim, desacelerando porque o Fed precisa esfriar a economia e aumentar o juro para combater a inflação”, afirmou Paul Krugman.
Em painel sobre a economia mundial, Krugman chamou atenção para o fato de a economia americana ter se retraído por dois trimestres, mas mantendo um mercado de trabalho com crescimento consistente. “E esse é o estado da economia”, disse o prêmio Nobel.
Embora a inflação ao consumidor tenha desacelerado em julho – de 9,1% para 8,5% em base anualizada – Krugman lembra que a inflação segue pressionada e que “o Fed pode perder sua credibilidade” se não trazer a inflação para a meta de 2%.
“O Fed não tem escolha a não ser aumentar o juro”, afirma Krugman, para quem o Fed errou no ano passado ao considerar a inflação um evento transitório. “Eu perdoo o Fed porque também acreditei nisso.”
O aumento do juro nos EUA, pondera, tem efeitos relevantes. Um deles é o fortalecimento do dólar ante outras moedas. “O mundo não é mais tão dependente do dólar como no passado. Não há concorrente [para a moeda] e muitos países passaram a usar suas próprias moedas para obter financiamento. Mas ainda há muita dívida em dólar e isso gera pressão financeira muito grande.”
Para Krugman, o efeito do dólar sobre as dívidas pode estar criando uma crise global. Ele não acredita que está em gestação “uma crise tão severa quando a de 2008, porque não há disrupção financeira”.
Ele, contudo, alerta que a inflação “zero” nos EUA em julho não significa que as pressões estão sob controle. “Reduzir a inflação não vai ser difícil, mas vai custar. E uma crise vai tornar o mundo mais difícil num futuro próximo”, afirmou Krugman.
O economista apontou EUA, China e União Europeia como os três poderes econômicos do mundo e lembrou que o processo por que passa a Europa é muito diferente dos EUA.
“A Europa cometeu um grande erro que foi depender demais do gás russo. Os preços explodiram. Muita gente esperava que a Europa adotasse sanções contra a Rússia, mas é a Rússia que está fazendo uma espécie de embargo no fornecimento de gás à Europa para vencer resistências contra a invasão da Ucrânia.”
O resultado dessa dependência, diz Krugman, é que nos próximos meses a inflação na Europa ser mais séria do que nos EUA. “A Europa já deve estar em recessão”, disse Krugman. “A China, com sua importância global e fonte de crescimento, não está indo muito bem. A política de Covid zero enfraqueceu a economia. Os EUA estão se saindo melhor. E a Europa é uma grande decepção, no sentido de reagir, no pós-pandemia, e crescer.”
Quanto aos países emergentes, o economista afirma que estão “sob forte estresse” e chama atenção para os que são importadores devido ao dólar forte.
O Brasil, na avaliação de Krugman, é “relativamente autossuficiente em energia e um grande exportador de commodities.” Ele entende que o fato de o Brasil ter “significante superposição” com exportações da Ucrânia traz para o país “uma oportunidade” – referindo-se ao comércio mundial.
Para o economista, não está claro, porém, se o Brasil será um player no mercado de energia. “Até um tempo atrás, as pessoas eram otimistas com o Brasil, mas isso mudou após um período de recessão” e acrescentou que “nada dá certo se não tiver estabilidade política e estado de direito”.