O CEO da Tesla, Elon Musk, voltou a causar polêmica em várias frentes. Durante assembleia com investidores na quinta-feira, 20 de julho, Musk anunciou um aporte de US$ 1 bilhão no projeto Dojo – como é chamado o supercomputador que está sendo desenvolvido pela montadora para lidar com grandes quantidades de dados, necessários para criar um software de direção autônoma.
A divulgação desse investimento e do alerta de Musk de que a Tesla pode ter de continuar a reduzir o preço de seus veículos elétricos por causa da taxa de juros assustou os investidores - as ações da Tesla chegaram a cair 9,7% na bolsa de Nova York, causando um prejuízo de US$ 20 bilhões à montadora num único dia.
Horas antes, a Nissan havia se tornado a sétima montadora de veículos elétricos a confirmar a adoção do mesmo conector de carregamento de bateria da Tesla na América do Norte.
À parte a irritação dos investidores com Musk, os anúncios da Nissan e do investimento da Tesla no projeto Dojo ajudaram a alimentar rumores de especialistas do setor, ouvidos pelo site Business Insider, sobre o que estaria por trás da decisão de Tesla de compartilhar com as montadoras concorrentes sua ampla rede de 12 mil pontos de recarga super rápida.
De acordo com o site, o motivo seriam os dados que a Tesla pode obter quando um veículo elétrico (EV, na sigla em inglês) de outra marca plugar no carregador da empresa do multibilionário Elon Musk.
O chamado fator Big Data, segundo eles, explicaria por que Musk decidiu abrir mão de um trunfo exclusivo num mercado de concorrência acirrada.
Conhecido como Supercharger, o carregador da Tesla está disponível em rodovias e pontos estratégicos de grandes cidades.
Ele leva apenas 15 minutos para adicionar 518 km de autonomia para os carros elétricos, enquanto os proprietários de outras marcas precisam usar carregadores públicos, mais escassos, lentos e cercados de problemas de confiabilidade.
Em fevereiro, a Tesla fechou acordo com o governo americano para disponibilizar a rede de carregamento de bateria para montadoras rivais, após pressão do presidente Joe Biden.
Musk evitou criticar Biden e, em maio, quando anunciou a primeira parceria, com a Ford, o empresário disse que o seu objetivo era “apoiar a eletrificação e o transporte sustentável em geral”, o que nunca foi digerido por especialistas.
Depois da Ford, General Motors (GM), Rivian, Volvo, Polestar, Mercedes-Benz e, agora, a Nissan fizeram acordo com a Tesla para que os carregadores de seus veículos elétricos sejam vendidos com um adaptador, conhecido pela sigla NACS, para ser usado no Supercharger.
Porta de dados
A conclusão da controvérsia revelada pelo site é que a Tesla será capaz de extrair dados de EVs rivais durante o carregamento.
De acordo com a reportagem, o trio de orifícios maiores do carregador da Tesla é para eletricidade. Mas outros dois menores são portas de dados, que podem rastrear não só os dados sobre os carros plugados como informações de seus usuários.
Ou seja, o Supercharger, quando acionado, não coleta apenas o estado e a taxa de carga das baterias de um carro.
Ao emparelhar com o veículo, a Tesla pode obter dados como o número de identificação do veículo e informações do cartão de crédito do motorista, além da eficiência do sistema de freios até a frequência com que o ar-condicionado é acionado.
"Suspeito que tanto a Ford quanto a GM criaram maneiras de impedir que o carregamento pelo Supercharger colha informações de propriedade, mas a Tesla provavelmente poderia descobrir isso usando outros meios", diz Mike Ramsey, analista automotivo do Gartner, citado pelo portal da Business Insider.
Outro especialista chama a atenção sobre o sistema em rede usado por todas as montadoras de EVs.
"Se você tem acesso ao sistema de gerenciamento de bateria, não é tão difícil entrar no sistema de controle do motor", diz Samrat Acharya, um engenheiro de segurança cibernética de EVs.
A rigor, não se trata de detalhes técnicos secretos, pois todas as montadoras conhecem a fundo como funcionam os veículos elétricos rivais.
O que está em jogo, advertem especialistas, é o conjunto de dados em potencial que flui pelos plugues de carregamento, e como esses dados mudam com o tempo, podendo gerar novas informações úteis.
Embora a Tesla não tenha respondido aos pedidos de posicionamento feitos pelo Business Insider, Musk nunca escondeu sua obsessão por dados, que considera a chave para a viabilidade da direção autônoma dos carros da Tesla -- como comprova o recém anunciado aporte bilionário no projeto Dojo.
Ou seja, para a Tesla, o segredo do compartilhamento da rede de carregamento não está nos elétrons do Supercharger, e sim nos bits gerados pelo veículo em recarga.