O Mercado Livre fez fama e fortuna conectando milhares de lojistas a milhões de consumidores na região latino-americana. Fundado em 2012, o GuiaBolso quer agora levar essa fórmula a uma nova fronteira: o mercado financeiro.
“O mundo do e-commerce já mostrou o caminho a ser seguido”, diz Thiago Alvarez, CEO e cofundador da startup, responsável por um aplicativo de controle de finanças pessoais.
Sob a ótica de Alvarez, a aplicação do modelo no segmento traz ganhos para todos os lados. De um lado, os parceiros têm acesso a uma base de 5,6 milhões de usuários do GuiaBolso. Esses, por sua vez, passam a receber ofertas personalizadas, de acordo com as informações das suas vidas financeiras compiladas, sob consentimento, pelo aplicativo.
“Ao mesmo tempo, nós fazemos a curadoria e conseguimos rentabilizar melhor a operação”, diz Alvarez. “E o modelo permite que sejamos uma empresa muito mais leve, focada em tecnologia, sem ficar presos ao nosso próprio produto.”
Mas a guinada do GuiaBolso rumo a esse formato não aconteceu sem sobressaltos. Ela começou a ganhar força em meados de 2018, quando a empresa demitiu cerca de 30% de sua equipe.
Parte dos cortes envolvia a Just, braço próprio de empréstimo pessoal e online lançado um ano antes. Na prática, a divisão foi a primeira oferta criada internamente para rentabilizar o negócio.
Na época, a companhia anunciou que a operação deixaria de ser prioridade e daria lugar à expansão via parcerias. Hoje, a Just opera apenas com recursos de terceiros, com bancos como Votorantim e CBSS.
A mudança de rumo foi vista por parte do mercado como a consequência de uma tentativa malsucedida de implantar um modelo baseado em produtos próprios
A mudança de rumo foi vista por parte do mercado como a consequência de uma tentativa malsucedida de implantar um modelo baseado em produtos próprios. Alvarez, no entanto, tem outra explicação para o redirecionamento.
“Desde o início, nunca foi nossa intenção ter produtos próprios. Mas, até pouco tempo, não havia maturidade no mercado para parcerias”, afirma. “Criamos uma marca separada justamente para provar aos bancos que era possível operar nesse novo modelo.”
Motivações à parte, o foco do GuiaBolso agora está na construção de um ecossistema de ofertas de terceiros. Nesse contexto, além dos empréstimos, a prioridade é ganhar corpo em categorias como cartão de crédito, investimentos e seguros, entre outros produtos e serviços financeiros.
Duas parcerias recentes vão ao encontro dessa estratégia. Firmada em agosto, a primeira delas envolve o Banco Original e marcou um dos primeiros acordos sob o conceito de open banking no País.
Prestes a ser implantado no Brasil, o modelo envolve o compartilhamento de informações, produtos e serviços entre as instituições financeiras. Com um detalhe: os consumidores dessas ofertas é quem passam a permitir quais dados estão dispostos a compartilhar nesse processo.
Na parceria com o Original, os clientes do banco agora tem o recurso de organizar e controlar todas as suas movimentações financeiras a partir da integração com o GuiaBolso.
Já os usuários do aplicativo passaram a ter a possibilidade de abrir uma conta digital e acessar outros produtos e serviços do Original com alguns benefícios. Entre eles, um ano de mensalidade do Sem Parar e seis meses gratuitos em serviços como Spotify e Netflix, desde que o pagamento seja atrelado ao cartão de crédito do banco.
Fechada há duas semanas, outra parceria recente envolve a corretora Warren. A ideia é oferecer uma alternativa de investimentos para os usuários do GuiaBolso. Eles poderão abrir uma conta por meio do próprio app. Para isso, ganham um crédito de R$ 25 e conseguem começar a investir a partir de R$ 100.
Os investimentos em tecnologia são a prioridade do GuiaBolso para impulsionar as parcerias e o modelo de marketplace
Os investimentos em tecnologia são a prioridade do GuiaBolso para impulsionar as parcerias e o modelo de marketplace com curadoria. “Estamos adicionando inteligência para conseguir dar a mensagem correta, da forma correta e para a pessoa correta”, diz Julio Duran, diretor de produto e tecnologia do aplicativo.
A ideia é mapear o comportamento da base de usuários para extrair insights tanto sobre os produtos e serviços mais demandados como em relação às ofertas mais aderentes para atender às necessidades de cada consumidor.
Um dos exemplos é a possibilidade de filtrar quantos dias, em média, um usuário do aplicativo utiliza o cheque especial no mês. E, a partir dessa informação, fazer uma simulação para identificar se seria mais vantajoso recorrer a uma determinada oferta de empréstimo.
“Nosso plano é cada vez mais dar dicas personalizadas e contextualizadas para que os usuários possam fazer suas escolhas”, diz Duran, que hoje comanda uma equipe de 70 desenvolvedores, designers, cientistas de dados e profissionais responsáveis por produto e pela experiência do usuário. Atualmente, há trinta vagas abertas para reforçar esse time.
Cenário propício
Os avanços na tecnologia e o modelo de marketplace vão exigir fôlego financeiro. Desde 2012, o GuiaBolso captou R$ 215 milhões em cinco rodadas de investimento. A última delas, de R$ 125 milhões, foi realizada no fim de 2017 e foi liderada pelo fundo sueco Vostok. “Estamos com bastante caixa e não vemos necessidade de uma nova rodada”, diz Alvarez.
Ele entende que, passada a fase de maturação, o mercado oferece agora o contexto ideal para que o GuiaBolso concretize seu modelo de negócios. Esse cenário, diz ele, combina justamente a plataforma de tecnologia construída pela empresa no decorrer dos anos e a perspectiva de implantação do open banking.
Hoje, por exemplo, além de Original, Votorantim e outras instituições, o aplicativo tem conexão com os cinco maiores bancos do País.
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