Cofundador da Microsoft, Bill Gates tem sido uma das vozes mais ativas na crise do coronavírus. Não foram poucas as oportunidades em que o bilionário americano se valeu de sua relevância para tecer críticas à maneira como os impactos da pandemia vêm sendo tratados, em particular, pelo governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
Gates voltou à tona. Mas, desta vez, com sugestões para combater a crise gerada pelo surto global. O plano em questão foi apresentado em artigo publicado pelo jornal americano The Washington Post, intitulado “Como compensar o tempo perdido no Covid-19”.
“Não há dúvida que os Estados Unidos perderam a oportunidade de se antecipar ao novo coronavírus. Mas a janela para tomar decisões importantes não foi fechada. As escolhas que nós e nossos líderes fazemos agora terão um enorme impacto em quanto tempo os números de casos começarão a diminuir, por quanto tempo a economia permanecerá fechada e quantos americanos terão que enterrar um ente querido por causa do Covid-19”, escreveu Gates, no início do texto.
O bilionário cita conversas que manteve com especialistas, por meio da Fundação Bill & Melinda Gates, que mantém com a esposa Melinda, para sugerir um plano com três passos que considera essenciais para superar essa crise.
O primeiro ponto trata das políticas de isolamento. “Precisamos de uma abordagem nacional consistente para o shutdown”, afirmou Gates. Ele alega que algumas cidades e estados americanos não adotaram completamente as recomendações constantes de especialistas em saúde pública. “Em alguns estados, as praias ainda estão abertas; em outros, os restaurantes ainda servem refeições no salão.”
Ele classifica esse comportamento como uma receita para o desastre e acrescenta que, se as pessoas podem viajar livremente pelos Estados Unidos, o vírus também pode. Como resposta, Gates sugere uma ação mais firme dos líderes em todo o país.
“Até os números dos casos começarem a diminuir nos Estados Unidos – o que pode levar 10 semanas ou mais – ninguém pode seguir com seus negócios normalmente ou relaxar o shutdown”, escreveu. “Qualquer confusão sobre esse ponto apenas estenderá a dor econômica e ampliará as chances de o vírus causar mais mortes.”
“Até os números dos casos começarem a diminuir nos Estados Unidos – o que pode levar 10 semanas ou mais – ninguém pode seguir com seus negócios normalmente ou relaxar o shutdown”
Na semana passada, durante o evento online TED Connects, Gates já havia feito afirmações contundentes criticando aqueles que defendem um relaxamento nas restrições para minimizar os impactos na economia.
“É muito difícil dizer às pessoas: ‘Ei, vá a restaurantes, compre casas novas, ignore a pilha de corpos ali no canto, queremos que você siga gastando porque talvez haja algum político que pensa que o crescimento do PIB é o que importa”, afirmou.
Testes
Em um segundo ponto, Gates diz que o governo federal precisa intensificar os testes para diagnosticar o Covid-19 e cita como exemplo o estado de Nova York, que, recentemente, expandiu sua capacidade para mais de 20 mil testes diários.
O bilionário também ressalta o progresso observado em métodos como o processo desenvolvido pela Seattle Coronavirus Assessment Network que permite aos pacientes colherem amostras sem a necessidade de exposição dos profissionais de saúde. “Espero que esta e outras inovações em testes sejam ampliadas em todo o país em breve”, afirmou.
“Forçar 50 governadores a competir por equipamentos para salvar vidas e hospitais a pagar preços exorbitantes por isso só piora as coisas.”
Ele destaca, no entanto, que a demanda por testes provavelmente excederá a oferta por algum tempo. Para Gates, nesse cenário, é preciso priorizar quem será testado. Em primeiro lugar, os profissionais de saúde e socorristas, seguidos por pessoas com sintomas agudos e que correm mais riscos caso sejam contaminadas. Em terceiro, aquelas que foram provavelmente expostas ao vírus.
A mesma abordagem, escreve ele, vale para ventiladores e máscaras de proteção. “Forçar 50 governadores a competir por equipamentos para salvar vidas e hospitais a pagar preços exorbitantes por isso só piora as coisas.”
Terceira frente
Em um terceiro componente do plano, Gates afirma que é preciso investir em uma abordagem baseada em dados para desenvolver tratamentos e a vacina para o vírus. “Os cientistas estão trabalhando a toda velocidade em ambos”, ressaltou. “Enquanto isso, os líderes podem ajudar, não alimentando rumores ou as compras por pânico.”
Nessa questão, ele faz uma referência ao fato de que, muito antes de o medicamento hidroxicloroquina ser aprovado como tratamento de emergência para o Covid-19, muitas pessoas começaram a acumular estoques do remédio, trazendo dificuldades para pacientes com doenças como lúpus, que precisam dele para sobreviver.
Recentemente, a Fundação Bill & Melinda Gates anunciou um aporte de US$ 125 milhões, em parceria com a Mastercard, em um fundo para financiar testes e pesquisas científicas para combater o coronavírus.
Gates escreve ainda que, se tudo for feito corretamente, é possível ter uma vacina em menos de 18 meses. Mas ressalta que essa conquista é apenas metade da batalha.
“Para proteger americanos e pessoas em todo o mundo, precisamos fabricar bilhões de doses”, afirmou. “Sem uma vacina, os países em desenvolvimento correm um risco ainda maior do que os ricos, porque é ainda mais difícil para eles fazerem o distanciamento social e os shutdowns.”
Para isso, o bilionário sugere que a construção das instalações onde as vacinas serão fabricadas deve começar agora. E chama a atenção para o fato de que muitos dos principais componentes são feitos com equipamentos que exigem estruturas específicas, que correm o risco de nunca serem usadas.
“As empresas privadas não podem correr esse tipo de risco, mas o governo federal pode”, afirmou. “É um grande sinal o fato de que o governo fez acordos esta semana com pelo menos duas empresas para se preparar para a fabricação de vacinas. Espero que mais negócios sejam feitos.”
Gates finaliza o artigo relembrando o alerta feito por ele em 2015, durante uma palestra pela plataforma TED. Na época, ele destacou que o mundo não estava preparado para enfrentar uma pandemia.
“Como vimos este ano, ainda temos um longo caminho a percorrer”, escreveu. “Mas ainda acredito que, se tomarmos as decisões corretas agora, informadas pela ciência, pelos dados e pela experiência dos profissionais médicos, poderemos salvar vidas e levar o país de volta ao trabalho.”
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