Logo na abertura, o documentário “The YouTube Effect” já dá uma ideia do crescimento vertiginoso da plataforma de vídeos online. Em 2005, seu ano de lançamento, o YouTube registrava dois milhões de visualizações por dia. Em 2006, o número saltou para 25 milhões de visualizações e, hoje, a plataforma conta com 2,6 bilhões de usuários ativos mensalmente pelo mundo.
Toda a trajetória do YouTube, hoje o segundo site mais acessado do mundo, atrás apenas do Google, de acordo com levantamento da Alexa Rank, é revisitada no documentário roteirizado e dirigido por Alex Winter. Ainda sem data para estrear no Brasil, o filme desembarca em julho nos cinemas dos EUA e do Reino Unido.
“The YouTube Effect” repassa desde a origem modesta, no segundo andar de uma pizzaria em San Mateo, na Califórnia, até o impacto fenomenal da plataforma ao redor do globo, ajudando a desenhar a cultura digital que existe hoje.
Por um lado, o YouTube é endeusado no documentário por dar voz aos seus usuários. Aqui eles narram as próprias experiências e compartilham as suas ideias, criando um espaço para o diálogo. Sem falar que muitos dos usuários fizeram dele o seu ganha-pão, já que a plataforma foi a primeira a remunerar as mentes mais criativas, estabelecendo um modelo de negócio para o produtor de conteúdo.
Mas como o título adianta, “The YouTube Effect” (O Efeito YouTube), a análise não seria completa sem os efeitos colaterais. Como o seu uso para a radicalização, principalmente com os conteúdos extremistas de cunho político e religioso que os próprios algoritmos recomendam.
Ou a desinformação, com a avalanche de fake news, e a exploração da violência, com vídeos de conseguem milhares de visualizações com as piores imagens possíveis, incluindo assassinatos.
“Vejo muitos dos benefícios, como a comunidade de educação e a conexão entre comunidades diversas, que não teriam outro modo de fazer contato”, conta no filme Susan Wojcicki, a ex-CEO do YouTube. Ela representava a plataforma durante a filmagem, tendo exercido o cargo de 2014 a 2023.
“Ao mesmo tempo, nós pensamos em quais são os riscos e as desvantagens. E em como podemos administrar isso”, afirma Wojcicki, que ocupou no ano passado o 20º lugar na lista das mulheres mais poderosas da revista Fortune. “Acredito que vamos encontrar um jeito, por ser uma exigência da sociedade, da imprensa e de governos. Vejo na tecnologia uma grande oportunidade para o bem a longo prazo.”
O YouTube foi fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, que se conheceram trabalhando no PayPal. “Na época, nós nos inspiramos no hot or not.com, onde o usuário olhava a foto de uma pessoa e votava”, conta Chen, em depoimento no filme, referindo-se ao site que media a capacidade de atração dos usuários em uma escala de 1 a 10.
“Nós pensamos que seria uma ótima oportunidade criar uma versão em vídeo desse website. Essa é a verdadeira história por trás do YouTube que conhecemos hoje”, lembra Chen, rindo. O hot or not.com também foi uma das influências na criação do Facebook, em 2004.
O primeiro vídeo da história do YouTube é relembrado aqui. Um registro de 18 segundos de Jawed Karim no zoológico de San Diego, admirando os elefantes. E, aos poucos, o conteúdo produzido por pessoas comuns, que passaram a divertir, educar e chocar uns aos outros nessa comunidade digital, não parou mais de crescer.
Inicialmente, elas eram atraídas pela chance de compartilhar vídeos de modo simples e relativamente mais rápido na internet, o que até então era complicado. Os poucos sites que permitiam a hospedagem de vídeos demoraram muito para carregar e não ofereciam a opção de busca, funcionando como uma biblioteca.
O Google logo se interessou pela plataforma, comprando-a em outubro de 2006 por US$ 1,65 bilhão. Naquele momento, o número de visualizações diárias ultrapassava 100 milhões e o faturamento anual era de US$ 15 milhões.
Em novembro de 2006, a revista Time elegeu o site de compartilhamento de vídeos como a “Invenção do Ano’’, deixando para trás candidatos fortes. Como a invenção da Gardasil, a vacina que protege contra o vírus HPV, causador de câncer no colo do útero.
Vários depoimentos ajudam a esquentar as discussões sobre os efeitos do YouTube, incluindo acadêmicos, jornalistas, YouTubers, advogados e pessoas que se declaram vítimas da plataforma. Uma delas é Andy Parker, pai de Alison Parker, repórter de TV morta a tiros durante transmissão ao vivo, em Moneta, no Estado de Virginia, em 2015. Desde então, ele tenta tirar o vídeo do assassinato da filha de circulação.
Segundo Becca Lewis, pesquisadora de mídia digital, se o YouTube desaparecesse amanhã, “muito conteúdo nocivo não estaria mais na internet”. “Mas, ao mesmo tempo, uma tonelada de criadores que ganha a vida com seus vídeos não teria mais um espaço para fazer isso”, resume ela, nos minutos finais do documentário.