Quando o termo unicórnio surgiu para se referir as startups que valiam mais de US$ 1 bilhão, a ideia era representar “algo extremamente raro e mágico”, segundo o texto publicado, em 2013, por Aileen Lee, fundadora do Cowboy Ventures, fundo de investimento em early stage do Vale do Silício, no site americano TechCrunch.
Na época, o universo de startups bilionárias era, de fato, bem restrito: apenas 39 valiam mais de US$ 1 bilhão. Hoje, o mundo conta com 1.192 unicórnios, sendo que praticamente metade deles (541) "nasceu" em 2021, quando a imensa liquidez “alimentou” esses animais míticos com muitos milhões de dólares.
Agora, os unicórnios estão se tornando, de novo, seres raros no mundo do empreendedorismo. Uma pesquisa da consultoria americana CB Insights mostrou que apenas 25 startups bilionárias “nasceram” no terceiro trimestre de 2022. É o menor número desde o primeiro trimestre de 2020 e representa uma queda de 71% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
Os Estados Unidos lideraram o ranking com 14 unicórnios no terceiro trimestre deste ano. Em seguida vem a Ásia (sete startups bilionárias), Europa (três) e América Latina (1) – a mexicana Stori, uma fintech que atua com cartão de crédito que recebeu uma extensão de rodada de US$ 150 milhões de sua série C em julho deste ano.
O Brasil, país que mais unicórnios têm na América Latina, não viu nascer nenhuma startup bilionária em 2022, após o recorde do ano passado, quando nove empresas passaram a valer mais de US$ 1 bilhão.
A ascensão e, agora, queda dos unicórnios era algo esperado pelo mercado, diante do conservadorismo dos investidores, que estão mais cautelosos na hora de assinar cheques. Ao mesmo tempo, os valuations das startups, que subiram como nunca nos últimos dois anos, estão sendo ajustados para baixo neste momento de incerteza.
A pesquisa da CB Insights traz outros dados que comprovam a desaceleração dos investimentos globais em venture capital. No terceiro trimestre, os aportes somaram US$ 74,5 bilhões, o pior resultado desde o segundo trimestre de 2020 e uma queda de 34% em comparação ao mesmo período do ano passado.
No Brasil, os investimentos somaram US$ 600 milhões no terceiro trimestre. É o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2020. Nos três primeiros meses do ano, os aportes somaram US$ 1,5 bilhão. E no segundo trimestre, US$ 900 milhões, segundo a CB Insights.
Os fundos mais ativos no Brasil, de acordo com a pesquisa, foram, nesta ordem, Bossanova Investimentos, monashees, Canary, Domo Invest e Urca Angels. Todos focado em investimentos em early stage.
As casas de venture capital que investem em growth estão mais cautelosas para assinar cheques, um sinal de que vai ser mais difícil "nascer" novos unicórnios no Brasil em 2022. Notícias de startups bilionárias parecem, neste momento, se resumirem a demissões.