No mundo pré-pandemia, o mercado de arte vivia um cansaço pelo excesso de feiras de arte chamado "fairfatigue". Especialistas previam uma redução no número de eventos que tiveram um boom na segunda metade dos anos 2010. De acordo com um levantamento do diretor da Art Basel, Noah Horowitz, entre 2006 e 2010 aconteceram 21 feiras. De 2011 a 2017, o número saltou para 32. No entanto, após dois anos de pandemia de Covid-19, o fôlego parece ter se renovado.
De acordo com site americano Artnet, especializado em mercado de arte, estão previstas cerca de 70 feiras de arte no mundo todo em 2022 – número que deve aumentar com maior controle da pandemia. E a cidade de São Paulo está acompanhando esse embalo. Só no primeiro semestre, estão agendadas três na capital paulista: ArtSampa, dos mesmos organizadores da ArtRio; SP-Arte, já velha conhecida do público paulistano que reinava sozinha e terá mais uma edição no segundo semestre; e ArPa, que estreia neste mercado.
De acordo com a veterana no segmento Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, o aumento é uma boa notícia. "Acreditamos que o surgimento de novas feiras é um sinal de crescimento do mercado", diz ao NeoFeed. "Torcemos para que esses novos agentes integrem-se nesse movimento colaborativo de crescimento do mercado de arte e de enriquecimento do cenário cultural brasileiro como um todo."
Em 2020, a SP-Arte foi suspensa por conta da pandemia de Covid-19. Em um comunicado por e-mail, a organização avisou os galeristas sobre a decisão, detalhou os custos do evento e arrematou dizendo que os participantes receberiam de imediato apenas 30% do valor investido. Depois de uma indisposição com os participantes, ficou acertada a devolução de 100% do valor. O caso acabou abrindo espaço para as novas feiras que estreiam neste ano.
"A decisão de realizar o evento em São Paulo tem como base criar uma nova agenda de oportunidade para as galerias e artistas com o público", explica Brenda Valansi, presidente da ArtSampa e ArtRio. A diretora da ArPa, Camilla Barella, sentiu a demanda das próprias galerias. "São Paulo é o maior polo econômico e cultural da América Latina e pode comportar mais de uma feira de arte por semestre", afirma.
A especialista em mercado de arte Tamara Perlman estima que o Brasil represente menos de 0,5% do comércio de arte internacional. Em 2020, artes e antiguidades atingiram US$50,1 bilhões no mundo, uma queda de 22% em relação a 2019. Só os EUA representam 42% desse mercado, seguidos com Reino Unido e China com 20% cada.
Uma porcentagem brasileira é relativamente pequena para ser vantajosa diante do atual número de feiras programadas no país para 2022 – cinco. Perlman atribui o aumento a três fatores: o momento de euforia com o arrefecimento da pandemia, a alta do dólar, que encarece a participação em eventos internacionais, e os bons resultados do mercado de arte brasileiro mesmo durante os momentos mais críticos da pandemia.
"Os desafios das novas feiras são: passado o entusiasmo, enfrentar a questão da fadiga, que deve voltar; como se manter essencial frente às vantagens do digital; e encontrar o seu nicho dentro de um público já segmentado", avalia. Mas ressalta que há benefícios que só as feiras trazem.
“As feiras são imbatíveis na construção de relacionamentos, algo essencial no mercado. O galerista consegue mensurar bem o que vende nos eventos e conhecer quais são os clientes que compraram ali e depois voltaram." E para o público: torna o ambiente de compra de obra de arte menos intimidador, além da possibilidade de escolher obras com a segurança de que houve uma seleção prévia feita pela organização da feira por qualidade e confiabilidade.
Quem vai a tanta feira?
Apesar da indisposição com as galerias em 2020, até o momento a SP-Arte continua sendo a maior feira com cerca de 130 participantes. Dessas, apenas 16 participarão também da Art Sampa, que terá um formato menor, com aproximadamente 50 expositores e com um perfil mais jovem. É o caso da galeria OMA, localizada em São Bernardo do Campo, que em breve deve abrir uma filial na região dos nos Jardins, em São Paulo.
Para o galerista Thomaz Pacheco, participar das três feiras é um posicionamento estratégico. "Queremos consolidar a OMA como uma referência nacional. Por isso, vamos participar de todas. Há uma frase que diz: você tem de ser local para se tornar internacional. Nós temos o objetivo de estar presentes em outros países no futuro. Mas primeiro temos de ser massivos no cenário nacional", explica.
A SP-Arte já representou 80% do faturamento anual da Oma. Com o aumento do número de eventos, "diminuímos a dependência e também nossa expectativa diante dos outros. Pois o retorno pode ser diluído nas demais feiras", segundo Pacheco. Outra galeria que vai estar presente nas três feiras é a Lume, que espera um retorno financeiro 30% maior do que em 2021. "Nas novas feiras, vimos a oportunidade de fazer projetos mais ousados diferente do que é feito na galeria", planeja Victoria Zuffo, sócia da Lume, que espera nas estreantes um público diferente da SP-Arte.
A ArtRio costuma ter foco na experiência do público e Valansi planeja trazer este clima para a feira paulista, "Estamos estimulando que as galerias tragam projetos especiais e inéditos, desenvolvidos especialmente para essa primeira edição com até três artistas participando", explica.
Diversificação de público é o grande foco da ArPa, que vai ser simultânea à MADE (feira de Mercado de Arte e Design) e à inédita Feira do Livro de São Paulo, que deve acontecer de 1 a 5 junho no Complexo do Pacaembu. Com três eventos no mesmo espaço, pretende reunir diferentes perfis. A Art Sampa e SP-Arte acontecem no Parque do Ibirapuera – a primeira, na Oca, de 16 a 20 de março; a segunda, volta ao Pavilhão da Bienal, de 6 a 10 de abril.
A diferença de apenas 20 dias de uma para outra afastou galerias como a Zipper. "A gente preferiu focar todas as nossas energias na SP-Arte", justifica o galerista Lucas Cimino, que espera um faturamento 25% maior este ano na feira. E Cimino não está sozinho nessa aposta. Outras galerias tradicionais como as paulistanas Fortes D'Aloia & Gabriel, Luisa Strina, Nara Roesler, Luciana Brito e as cariocas Gentil, Anita Schwartz até o momento preferiram participar apenas da SP-Arte. A ArPa deve contar com cerca de 40 expositores, mas ainda não divulgou a lista de confirmados.