Nos dois primeiros anos após a chegada e o avanço da Covid-19, a aceleração de tendências como o home office turbinou as vendas da Positivo, que saltou de uma receita bruta de R$ 2,2 bilhões, em 2019, para R$ 3,9 bilhões, em 2021.

Em contrapartida, esse crescimento expressivo alimentou no mercado a dúvida sobre a capacidade de a empresa sustentar tal ritmo de expansão passado o período mais crítico da pandemia. Parte dessa resposta pode ser encontrada no balanço de 2022, que acaba de ser divulgado pela companhia.

Nesse intervalo, o faturamento da Positivo alcançou a marca de R$ 5,8 bilhões, alta de 47,2% sobre 2021. O número veio acompanhado do guidance para 2023, com a projeção de seguir nessa toada e encerrar o ano com uma receita bruta entre R$ 5,5 bilhões e R$ 6,5 bilhões.

“Nós faturávamos R$ 2 bilhões há três anos e, agora, estamos chegando na casa dos R$ 6 bilhões. Esse é o nosso novo patamar”, diz Helio Bruck Rotenberg, CEO da Positivo, ao NeoFeed, que ressalta o fato de uma fatia considerável da projeção de 2023 já estar contratada.

“Em instituições públicas, já temos R$ 1,2 bilhão contratados”, afirma. Essa conta não inclui o fornecimento de urnas eletrônicas para as eleições de 2024, um projeto no valor total de mais R$ 1,2 bilhão, e que terá parte das entregas faturada nesse ano, especialmente no segundo semestre.

Se as vendas para consumidores foram as protagonistas no resultado da empresa entre 2020 e 2021, a projeção é de que a divisão de commercial, que reúne as ofertas para empresas públicas e privadas, siga sendo o motor de expansão da fabricante em 2023, assim como aconteceu no ano passado.

No ano passado, a Positivo reportou um faturamento de R$ 3,75 bilhões nessa vertente, um avanço anual de 80,4%. Em instituições públicas, a evolução foi de 76,2%, para R$ 2,2 bilhões. Já no âmbito das empresas privadas, o desempenho foi 86,7% superior, com uma receita bruta de R$ 1,5 bilhão.

Na área pública, Rotenberg destaca outros editais recentes vencidos pela Positivo. Entre eles, uma licitação de 12 mil tótens para o Banco do Brasil. Para o ano, um dos certames previstos no radar da empresa envolve o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para a oferta de servidores.

“As empresas públicas compraram menos na pandemia e ficaram com seus parques obsoletos”, explica o executivo. “Essa renovação começou em 2022 e está tendo sequência nesse ano. E passa por todas as esferas, da prefeitura de Curitiba ou de Quixeramobim até o governo federal.”

Nas empresas privadas, uma das grandes apostas são as máquinas de pagamento, que ganharam força a partir do fim de um contrato de exclusividade que a empresa mantinha com a Cielo. Outra é a Positivo Tech Services, braço de serviços lançado há um ano e que envolve, inclusive, máquinas de rivais.

“Hoje, em máquinas de pagamento, já temos contrato com a Stone e praticamente todos os grandes players. E estamos avançando nos subadquirentes, com a oferta de hardware como serviço”, ressalta Rotenberg.

Na Positivo Tech Services, a carteira tem nomes como Santander, Usiminas, Claro e Telefônica. O executivo diz que os contratos estão ganhando outro status, com a Positivo assumindo todo o parque de equipamentos dos clientes e entrando em áreas como software e consultoria para projetos em nuvem.

Entre as prioridades no plano das empresas é encorpar a oferta em áreas como softwares de segurança, redes e armazenamento, especialmente via parcerias. Rotenberg não descarta, porém, o caminho das aquisições.

“Nesse caso, o que faria mais sentido seria um acordo exatamente nessa área de serviços”, observa. “Nós somos uma empresa de hardware e não temos essa cultura de serviços. E, muitas vezes, comprar é mais rápido do que desenvolver essa competência.”

Fábrica da Positivo, em Manaus (AM)

Já na divisão de consumer, cujo faturamento teve uma retração de 42,5% em 2022, para R$ 1,05 bilhão, com o cenário macro pesando no bolso dos clientes, a perspectiva é de uma melhora gradual em 2023. Puxada, em parte, pela reação, nesse início de ano, nas vendas da categoria de notebooks.

Nessa engrenagem, as principais fichas, no entanto, estão depositadas em smartphones, mais especificamente, na linha Infinix, fruto de um acordo de licenciamento realizado com a marca homônima chinesa, no fim de 2021.

“A Infinix está tendo uma boa curva de crescimento em um segmento em que não atuávamos, de aparelhos na faixa de R$ 1 mil a R$ 3,5 mil, que representa de 75% a 80% do mercado”, afirma. “A LG deixou um espaço vago e estamos conquistando market share.”

Rotenberg também enxerga um cenário mais favorável no varejo. Ele entende que, após uma redução substancial nos estoques no decorrer de 2022, não há mais espaço para medidas nessa direção e a tendência de normalização no fluxo de fornecimento.

Balanço

No quarto trimestre de 2022, a Positivo apurou um lucro líquido de R$ 136,9 milhões, alta de 227,1% sobre igual período de 2021. No ano consolidado, a empresa reportou R$ 306,4 milhões na última linha do balanço, um avanço de 51%.

Entre outubro e dezembro, a receita líquida cresceu 17,9% na comparação anual, para R$ 1,26 bilhão. Já em 2022, o desempenho foi 48,4% superior, com o indicador mostrando R$ 4,99 bilhões.

No ano, o Ebitda alcançou o recorde de R$ 675 milhões, um salto de 97,3%, enquanto no trimestre, essa linha registrou R$ 241,5 milhões, alta de 161,8%. A margem Ebitda ficou em 19,1% entre outubro e dezembro, contra 8,6%, um ano antes, e saiu de 10,2%, em 2021, para 13,5%, em 2022.

A empresa fechou o ano com uma dívida líquida de R$ 1,1 bilhão, 104,8% superior ao montante de 2021, sendo que 57,2% dessa cifra é de longo prazo.

A Positivo informou que o aumento da dívida foi necessário para sustentar seu crescimento no período. Em 2022, a alavancagem da operação foi de 1,6 vezes, o mesmo nível registrado em 2021.

As ações da Positivo encerraram o pregão dessa terça-feira cotadas a R$ 6,59, alta de 3,13%. Em 2023, no entanto, os papéis da empresa acumulam uma desvalorização de 29,8%. A companhia está avaliada em R$ 922 milhões.