Em junho do ano passado, a Suprema Corte dos Estados Unidos ratificou de forma definitiva a condenação da Monsanto, do grupo alemão Bayer, a pagar US$ 25 milhões para o agricultor californiano Edwin Hardman, de 73 anos.
Na ação, ele alegava ter desenvolvido câncer por usar durante anos o RoundUp, um herbicida utilizado para combater uma praga conhecida como carvalho venenoso. Na mesma ocasião, os juízes americanos rejeitaram o recurso da gigante de medicamentos e defensivos agrícolas para encerrar milhares de processos, como os de Hardman.
As decisões aumentaram ainda mais a pressão dos acionistas pela saída de Werner Baumann da liderança da Bayer. A permanência dele se tornou insustável.
Na quarta-feira, 8 de fevereiro, foi anunciada sua saída e a chegada do novo CEO da companhia; o americano Bill Anderson, de 56 anos, ex-executivo da farmacêutica Roche, assumirá a cadeira. Com a notícia, as ações da Bayer fecharam em alta de 6%, atingindo seu nível mais alto desde junho de 2022. Essa alta virou a trajetória do papel, que agora acumula ganho de 3,98% em 12 meses.
Recentemente, os principais acionistas da companhia alemã manifestaram-se publicamente contra a permanência de Baumann. Entre os quais estão os fundos Union Investments, Deka e os ativistas Inclusive Capital Partners e Bluebell Capital.
A Bluebell tem um longo histórico de ativismo. No final do ano passado, a gestora pediu a saída de Larry Fink da chefia da BlackRock, a maior gestora do mundo, acusando-o de ser “hipócrita” na condução das políticas ESG. A mesma Bluebell liderou uma exitosa campanha pela derrubada de Emmanuel Faber do comando da Danone, em 2021.
“As ações da Bayer estão em uma crise de confiança pela qual o conselho é responsável”, disse Ingo Speich, chefe de sustentabilidade e governança corporativa da Deka, no mês passado, em entrevista à Reuters. “A Bayer precisa levar as demandas dos investidores mais a sério. As ações da empresa estão reagindo mais fortemente às notícias dos investidores do que aos resultados operacionais. Isso é um sinal evidente de que algo está errado.”
Como se vê, a companhia pode ter demorado, mas, ao fim e ao cabo, acatou o pedido dos acionistas ativistas. Há quase sete anos na Bayer, Baumann liderou a compra por US$ 63 bilhões da americana Monsanto pelo grupo alemão, em 2018, em um negócio definido pelos analistas de mercado como “conturbado”.
Fundada em 1863, na cidade de Barmen, no norte da Alemanha, a Bayer se consolidou como uma das mais relevantes empresas farmacêuticas do mundo. Avaliada em cerca de US$ 62,5 bilhões, é a fabricante de remédios amplamente consumidos no mundo inteiro, como o analgésico Aspirina, o anticoncepcional Yasmin e o anticoagulante Xarelto.
Em 2018, porém, com a aquisição da Monsanto, a Bayer assumiu processos judiciais contra o RoundUp, o que acabou comprometendo a imagem da companhia alemã e interferindo no valor de suas ações.
“Parecia que estávamos na grelha de um churrasco”, lembrou Klaus Kunz, head de estratégia de ESG, da companhia alemã, em entrevista ao portal americano Business Insider. Desde a compra, a farmacêutica perdeu cerca de 40% de valor de mercado.
Ainda que não haja provas contundentes sobre os riscos do agrotóxico à base de glifosato para a saúde humana, o produto impacta negativamente o meio ambiente.
Lançado em meados da década de 1970, o produto, por exemplo, já foi associado à morte de abelhas. A União Europeia proibiu seu uso em 2018. Um dos agrotóxicos mais usados pela agricultura brasileira, por aqui, o RoundUp segue permitido.