Foi por conta de um anúncio no Instagram que o paulistano Fernando Monteiro decidiu comprar cubos de gelo translúcidos da Ice4Pros para acompanhar sua dose de uísque – hábito que cultivava no happy hour da firma e migrou 100% para o home office na pandemia.
“No bar, sempre gostei de gelo grande no uísque. E esse demora para derreter e não deixa a bebida diluir”, afirma Monteiro sobre os atributos do novo produto premium, agora apreciado no conforto do lar.
Se antes da pandemia a Ice4Pros era conhecida somente entre bartenders, pela praticidade de oferecer um gelo cristalino já lapidado, a empresa agora comemora a participação na vida de muitos clientes que, carentes pelo fechamento de bares, viram que é possível reproduzir seus drinques favoritos com a mesma qualidade.
“Hoje o cliente quer ter em casa o mesmo gelo bacana do bar”, diz Luiz Paulo Foggetti, sócio da Ice4Pros, que mudou a estratégia da empresa para atender os consumidores finais em vez de bares.
Além de investimento nas redes sociais, a Ice4Pros lançou novos produtos (gelo defumado e com flores), adaptou embalagens menores para varejo, entrou nas lojas do Pão de Açúcar na capital paulista e reformulou a parte online. “Nosso site era muito institucional e reformulamos com foco na venda direta”, afirma Foggetti.
A facilidade da compra digital foi também importante para levar aos clientes a experiência do “home bar”. Depois de conhecer o site da Easy Drinks no ano passado, o empresário Giuliano Coppini virou cliente assíduo da empresa que produz frutas frescas processadas, espumas e outros ingredientes para coquetelaria.
“Quase todo mês eu compro pelo site”, diz Coppini, que vê a praticidade como ponto forte do produto. “É muito mais fácil usar o maracujá deles que já vem adoçado, basta colocar a bebida alcoólica e gelo. E dura bem mais do que a fruta.”
Monteiro e Coppini são dois clientes que confirmam uma tendência no comportamento dos consumidores. Se você não pode ir até o bar, o bar vai até você. “Já havíamos começado a trabalhar o varejo em 2019, mas com o fechamento das lojas na pandemia, implementamos em apenas dois dias o e-commerce”, afirma Bruno Lot, sócio da Easy Drinks.
Além de oferecer praticidade, a Easy Drinks estimula o consumo de novos drinques ao mostrar a facilidade de executar receitas tradicionais. Seus mix de frutas já vêm com nomes de coquetéis, como piña colada (com pedaços de abacaxi frescos e raspas de coco) e cosmopolitan (com base líquida de cranberry e óleo de casca de laranja).
Na loja virtual, ainda é possível comprar kits completos, para o bebedor não ter desculpas. O de moscow mule, por exemplo, vem com garrafa de vodca Ketel One (a Easy Drinks tem parceria com a Diageo), base concentrada de limão e gengibre, espuma de gengibre em spray e duas canecas de cobre. Basta acrescentar água com gás para ter o drinque pronto em casa.
“Eu nunca gostei de uísque, mas depois que comprei o kit penicilin (preparado líquido de mel, limão e gengibre, acompanhado de spray de mel) virou meu drinque favorito”, diz Coppini. “Sou totalmente influenciado por eles.”
Engana-se quem pensa que o interesse pela coquetelaria de qualidade está concentrado nas classes altas. Foi o que viu na prática o casal Julia Bohatch Batista e João Paulo Fogarolli, da beGIN. Se no início o foco era no público de alta renda, a dupla se surpreendeu ao ver a adesão das classes B e C ao produto. “Vimos que esse público é carente, mas com muito potencial de consumo”, diz Fogarolli.
De olho no boom do gim-tônica, a marca lançou um blend de especiarias para dar sabor ao drinque. “Nem sempre as pessoas sabem as combinações que funcionam, por isso decidimos vender os sachês prontos”, afirma Julia, que traz sugestões curiosas como amêndoas com uva-passa e pimenta-da-jamaica no portfólio. Ela já incluiu espumas e xaropes de frutas na linha para turbinar o preparo do gim-tônica, mas sem perder o lado descontraído da coquetelaria
A brincadeira, de fato, é proposital para essas empresas que facilitam e estimulam a coquetelaria caseira. “O consumidor tem dificuldade de replicar os drinques que tomam nos bares. Mas a partir do momento que oferecemos uma parte do produto, ele quer fazer o resto. A gente acha que não resolver o problema todo é legal”, diz Lot, da Easy Drinks. “Fazemos a parte chata.”
Para aqueles que nem com a parte divertida querem ficar, há um grande leque de drinques prontos engarrafados, que já estavam ganhando bebedores frequentes e que deram um salto na pandemia.
“As pessoas passaram a aceitar melhor o drinque em garrafa”, afirma Ale D’Agostino, bartender e sócio da APTK Spirits, em São Paulo e que comandou o bar paulistano Apothek até poucos meses antes da pandemia.
A aposta no contato próximo com os apreciadores também deu certo para Henrique Medeiros, que vem aumentando as vendas de seu Negroni Repousado. “Tripliquei minha produção na pandemia e tudo foi no boca a boca”, diz o ex-bartender do Ilha das Flores, em São Paulo, que decidiu engarrafar o drinque após 60 dias de “descanso”.
No atendimento personalizado, Medeiros percebe que os clientes não se contentam somente com o prazer da bebida e querem conhecimento. “Me perguntam desde as notas de degustação até como se corta a rodela de laranja para finalizar o negroni”.
Com tanta “mordomia”, quem precisa ir ao bar para beber bem?