Depois de passar os últimos cinco anos dedicada à reestruturação de suas atividades, visando reduzir a alavancagem e deixar as operações mais enxutas, a Even está agora mexendo na liderança, de olho num novo ciclo de crescimento.
A construtora e incorporadora anunciou na noite desta terça-feira, 23 de maio, que Marcio Botana Moraes assume o cargo de CEO da operação. Ele substitui Leandro Melnick, que volta a presidir o conselho de administração da Even e que também vai assumir como diretor-presidente da Melnick, incorporadora fundada por sua família, no Rio Grande do Sul, onde atualmente é presidente do conselho e na qual a Even possui uma fatia de 44,5%.
Fundador da RFM Incorporadora e membro do conselho da Even, Moraes chega com a missão de seguir com os ganhos obtidos no processo de reestruturação e reforçar a presença no mercado de alta renda da cidade de São Paulo, mercado definido pela companhia como sua "zona de competência".
"Nós entendemos que o momento seria de termos um CEO na Even com experiência de mercado imobiliário de São Paulo, que tivesse uma sinergia conosco, visto que ele já é parceiro, sócio e conselheiro", diz Melnick em entrevista ao NeoFeed. "Definimos que estava no momento de fazer uma transição, que também representa continuidade, visto que volto para ser presidente do conselho."
Com mais de 40 anos de experiência no mercado imobiliário paulista, a relação de Moraes com a companhia se fortaleceu em julho do ano passado, quando a RFM acertou com a Even a criação de uma joint venture com a incorporadora.
A parceria atua em empreendimentos residenciais de médio porte, com terrenos abaixo de 2 mil metros quadrados, em São Paulo, segmento que não se enquadra no tamanho e na tipologia de projetos foco da Even, de projetos em terrenos com mais de 5 mil metros quadrados.
A partir dessa relação, Moraes foi convidado para compor o conselho de administração em setembro daquele ano. "Participando do conselho e conhecendo a companhia, vi que havia um alinhamento de pensamento com os acionistas, o que me trouxe a oportunidade de vir para cá", afirma Moraes.
Ainda que esteja mexendo na administração, a expectativa é de que Moraes mantenha os ganhos obtidos com a reestruturação. O processo foi iniciado em 2015, quando Melnick assumiu como presidente do conselho de administração da Even. No cargo, ele diz ter encontrado uma empresa inchada e machucada pela crise econômica.
Dois anos depois, ele tomou as rédeas da operação como CEO, para acelerar as transformações. O plano era deixar a Even mais enxuta, diante do elevado nível das despesas administrativas, além de concentrar esforços na redução de seu endividamento. E conseguiu.
Dados da companhia apontam que, de 2016 a 2022, ela passou de um endividamento equivalente a 57% do patrimônio líquido para um percentual negativo de 7%, com um caixa de R$ 976 milhões, um fator positivo num momento em que os juros altos pressionam as despesas financeiras de empresas de diversos segmentos.
Ela também reduziu as despesas administrativas que, em 2017, representavam 13,3% do valor geral de vendas (VGV) de lançamento, para 7%, de acordo com a média dos últimos três anos.
A empresa também limitou seu escopo. Ao invés de atuar em várias regiões do País e segmentos, passou a focar em empreendimentos de médio-alto padrão, com valor geral de venda (VGV) acima de R$ 250 milhões, localizados em regiões nobres da cidade de São Paulo, principalmente nas zonas Sul e Oeste.
Com a reestruturação concluída no ano passado, e contando com um banco de terreno de R$ 4,7 bilhões em regiões de alto padrão da capital paulista, o plano agora é manter os ganhos de eficiência e voltar a crescer.
Mas diferentemente do que foi feito em outros anos, a companhia passará a apostar mais em parcerias com outras empresas, em projetos em que não fará a incorporação sozinha, nem vai construir todos os empreendimentos, evitando assumir riscos que coloquem todos os ganhos obtidos nos últimos anos a perder. "A nossa ideia é abrir para co-incorporações com as empresas tradicionais do mercado", afirma Moraes.
Um outro tipo de parceria firmado pela Even chamou a atenção no dia 10 de maio. Na ocasião, a empresa anunciou que, junto com o Faena, marca de hotéis de luxo do grupo Accor, desenvolverá em São Paulo um complexo que contará com hotel, residências de luxo e centro de artes.
Nesse caso, Melnick diz que empreendimentos nos mesmos moldes podem continuar no futuro, mas as decisões levarão em conta o tamanho dos terrenos e qual o projeto melhor se encaixa no local, além dos serviços que possam ser agregados.
O novo posicionamento da Even vem num momento em que a companhia enxerga uma situação mais propícia para o setor de incorporação e construção. No ano passado, por conta das incertezas provocadas pela alta da inflação e dos juros, reforçadas pelas eleições e os efeitos da Guerra na Ucrânia, a empresa preferiu esperar, fazendo com que o VGV de lançamentos total (considerando parceiros) recuasse 37,3%, a R$ 1,8 bilhão.
A companhia iniciou o ano ainda cautelosa, com o VGV total caindo 40,2%, a R$ 465 milhões, com três lançamentos no ano, todos no Rio Grande do Sul, dando continuidade a projetos passados.
Mesmo reconhecendo que o cenário ainda não é propício, considerando a Selic na casa dos dois dígitos, Melnick vê um cenário mais claro, com o fim da pandemia e sinais de que a situação macroeconômica caminha, ainda que lentamente, para uma melhora.
Ainda assim, a cautela ainda impera, fazendo com que a Even não se comprometa com um guidance de lançamento para 2023. “Estamos com um planejamento de lançar projeto a projeto e, tendo bom desempenho, podemos ter um bom número de lançamentos”, afirma Melnick. “É um otimismo com cautela.”