Em 2016, quem olhasse para a empresa de telefonia Oi logo após pedir recuperação judicial teria poucas dúvidas. Afogada em uma dívida de R$ 65 bilhões, cheia de problemas societários e com credores que não se entendiam, o destino parecia não ser outro se não a falência.
Mas um plano ambicioso e arriscado foi colocado em marcha a partir de 2020, com o objetivo de retirar a Oi da recuperação judicial com a venda de diversos ativos e transformá-la em uma empresa de banda larga fixa.
Em novembro do ano passado, a divisão de torres foi vendida para a Highline, em um negócio de pouco mais de R$ 1 bilhão. No mesmo mês, a área de data center foi comprada pela Piemonte Holding por R$ 325 milhões. Em dezembro, foi a vez da operação de telefonia móvel ser arrematada por R$ 16,5 bilhões por um consórcio formado por TIM, Vivo e Claro.
Na quarta-feira, 7 de julho, a Oi concluiu a venda de 57,9% da InfraCo, sua subsidiária de fibra óptica, por R$ 12,9 bilhões, para um fundo gerido pelo BTG Pactual, em conjunto com a Globenet Cabos Submarinos, praticamente encerrando uma importante etapa de sua reestruturação.
À frente deste plano está Rodrigo Abreu, ex-presidente da Cisco e da TIM Brasil, que assumiu a presidência da Oi em janeiro de 2020, depois de atuar como diretor de operações da operadora (embora, nessa época, já se sabia que quem dava as cartas na empresa era ele) e como conselheiro, onde ajudou a desatar os primeiros nós da encrencada operadora.
“Estamos concluindo uma série de operações que estavam entre os vários desafios que assumimos lá atrás, quando começou o processo de recuperação da companhia”, disse Abreu, ao NeoFeed. “Nessa jornada, mudamos a governança, trouxemos um conselho novo e elaboramos um plano de transformação.”
Com a venda desses quatro ativos, a Oi arrecadou mais de R$ 30 bilhões, recursos que vão entrar para os seus cofres para a reduzir dívida e acelerar investimentos na área de fibra óptica.
A venda da InfraCo, na qual a Oi ficou com uma fatia 42,1%, precisa ainda ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mas poucos acreditam que isso será um problema.
A transação que envolve a Oi Móvel, a operadora de telefona celular que tem 38,5 milhões de assinantes, também terá de passar pelo crivo dos órgãos reguladores. E, ao contrário da InfraCo, essa é uma análise mais complexa e que envolve riscos de que possa haver restrições – embora ninguém aposte que não seja aprovada.
Quando o caminho estiver limpo, a Oi que emergirá de seu processo de recuperação judicial é uma companhia menor, que não atuará na área de telefonia fixa e será focada em banda larga fixa de alta velocidade. “Esse trabalho não termina aqui”, diz Abreu. “Vamos trabalhar na conclusão dessas operações e estamos muito focados na construção da nova Oi.”
A nova Oi a que se refere Abreu terá, no entanto, uma série de desafios. Um deles é mudar o regime de concessão para o de autorização, o que a livrará das amarras regulatórias da telefonia fixa. Não se trata de uma solução trivial, pois há toda a questão dos bens reversíveis para ser resolvida.
“Até o fim do ano, a Anatel deve publicar essas condições para a migração”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco. “E não se sabe qual o teor de compromissos que deve atender”.
Como concessionária, a Oi tem de atender metas de telefonia fixa, além de manter em operação orelhões, equipamentos antiquados e deficitários que mais parecem peças de museu. No novo regime, os compromissos devem estar ligados à banda larga.
O grande desafio da Oi, no entanto, será o de competir no mercado que ela escolheu para sobreviver: o da banda larga fixa. Nos últimos anos, a companhia centrou seus esforços para fazer crescer a sua área de fibra óptica.
No primeiro trimestre de 2021, a Oi atingiu 2,4 milhões de assinantes de seu serviço de banda larga fixa. Há um ano, eram 944 mil. O número de casas passadas com fibra óptica chegou a 10,5 milhões, contra 5,6 milhões há 12 meses. A receita da área de fibra, que representava 13% no começo de 2020, já estava em 31% nos três primeiros meses deste ano.
A companhia está informando também uma estimativa ao mercado que conquistará entre 3,5 milhões e 4 milhões de assinantes e que chegará a 14,5 milhões e 15 milhões de casas passadas com fibra óptica até o fim deste ano. “Fizemos o lançamento e uma expansão muito bem-sucedida da Oi Fibra, que é a nossa aposta para o futuro”, afirma Abreu.
Os competidores óbvios são Vivo e Claro. Mas em fibra óptica, a arena que a Oi quer jogar a partir de agora, o grande adversário são as chamadas operadoras competitivas, milhares de pequenas empresas que somadas representaram 61,2% do mercado de internet de alta velocidade em maio de 2021, de acordo com dados da Teleco.
A Vivo, que atua em São Paulo, tem uma fatia de 20,8% desse mercado. E a Oi está em terceiro lugar, com 15,2%. “A Oi está saindo de celular, que não cresce e exige capital, e está apostando em banda larga fixa, que é o setor que mais avança no Brasil”, diz uma fonte do setor de telecomunicações.
A competição nessa área, no entanto, vai crescer. E ela virá de empresas que devem estar altamente capitalizadas. Três provedores de banda larga, por exemplo, estão tentando abrir o capital na B3. São os casos de Brisanet, Unifique e Desktop. A Vero Internet, uma aposta da Vinci Partners, e a EB Fibra, da EB Capital, também devem fazer IPO. “Elas vão ser as principais competidores da nova Oi”, diz Tude, da Teleco.
As ações preferencias da Oi, que vale R$ 9,4 bilhões, estão em queda de quase 20% em 2021. Mas, no ano passado, avançaram 117%. O prejuízo recuou 44%, mas foi de R$ 3,5 bilhões nos três primeiros meses de 2021.
A dívida líquida, por sua vez, somou R$ 25,1 bilhões no primeiro trimestre de 2021 – um valor ainda alto e que voltou a crescer 38,8%. Mas o dinheiro dessas vendas bilionárias, conduzidas por Abreu, ainda não entraram no caixa da Oi.
Caberá, agora, a ele um novo desafio: colocar a Oi, de novo, na trajetória do crescimento e do lucro.