Coreia do Sul, Emirados Árabes, Brasília, Rio de Janeiro. Em outubro, esse foi o roteiro de viagens de negócios cumprido por Pedro Miguel, fundador e CEO da MedBeauty, startup de produtos de beleza e estética. E, a partir de agora, suas passagens pelos aeroportos do País e do mundo devem se intensificar.
O passaporte para essas novas escalas é uma captação de R$ 100 milhões que acaba de ser concluída pela empresa, por meio de uma emissão de debêntures. A oferta foi subscrita integralmente pela Galapagos Capital, gestora fundada por Carlos Fonseca, ex-BTG Pactual e C6 Bank.
Pelos termos acordados, os títulos terão vencimento em agosto de 2025 e a operação tem como garantia uma participação de 20% das ações da MedBeauty. Para emitir as debêntures, a startup tornou-se uma S/A e, durante a estruturação da oferta, foi avaliada em R$ 300 milhões.
“Uma parcela desses recursos será usada para a aprovação e o lançamento de produtos”, afirma Miguel, com exclusividade ao NeoFeed. “E outra parte passa por investimentos em marketing, tecnologia, no digital e na expansão do nosso time, de 150 para 200 profissionais.”
Essa é a primeira captação realizada pela MedBeauty desde a sua criação, em 2010. Miguel decidiu fundar a companhia depois de uma carreira de mais de 20 anos como executivo na indústria de dermatologia e estética, no Brasil e no exterior.
Com essa bagagem, o modelo proposto pela empresa tem como ponto de partida as pesquisas que Miguel faz mundo afora – o motivo por trás de boa parte de suas viagens - para identificar as demandas do setor e o que está sendo criado ou já existe para endereçá-las.
Ao descobrir caminhos, materiais, aplicações e tecnologias, uma equipe de P&D da empresa formada por engenheiros, cientistas e médicos faz testes e validações de soluções que podem ser aprimoradas ou desenvolvidas e resultar em inovações e produtos.
Esse trabalho conta com o apoio de um squad regulatório. Caso esse time identifique algum eventual risco em termos de quebra de patentes e de propriedade intelectual, o processo é interrompido e a startup parte em busca de novos projetos.
Em contrapartida, se a empresa é bem-sucedida nesse processo e desenvolve, de fato, algo novo, o produto passa por todos os trâmites e aprovações regulatórias necessárias para ser lançado. A produção desse portfólio é terceirizada com empresas na Coreia do Sul, em Israel e nos Estados Unidos.
“Temos mais de 100 produtos aprovados e cerca de 40 já disponíveis no mercado”, afirma Miguel, sobre os números contabilizados por trás desse modelo. “E já temos um pipeline de lançamentos entre 200 e 250 itens para os próximos anos.”
Hoje, o carro-chefe desse portfólio é a linha i-Thread, composta por fios usados em tratamentos estéticos faciais e corporais. Ela segue a ótica da startup de desenvolver opções de procedimentos menos invasivos e com resultados mais naturais, complementares a outras soluções do mercado.
“O botox, por exemplo, mascara os sinais da idade, mas a pele segue envelhecendo”, explica Miguel. “O que nós desenvolvemos, a partir de substâncias que eram usadas em suturas e fechamento de feridas internas, é uma linha que estimula a produção de tecido novo.”
Ao apostar nesse modelo, a MedBeauty tem atualmente um volume de receita anual de cerca de R$ 300 milhões e uma base de 10 mil clientes ativos no mercado brasileiro, entre clínicas de estética, dermatologistas, cirurgiões plásticos e dentistas.
A empresa já prepara, no entanto, sua entrada em outros países, de olho em um mercado endereçável que Miguel estima em US$ 2 bilhões. O plano de voo inclui desembarques em mercados da América Latina e nos Estados Unidos.
No mercado latino-americano, a estratégia será concretizada por meio de parceiros em distribuição. A empresa já tem três contratos fechados no México, Argentina e Peru e negocia outros acordos para entrar em 17 países da região em 2022, com o apoio de um centro de distribuição no Panamá.
Outro passo importante é a abertura de uma operação direta nos Estados Unidos, programada para o fim de 2022. Nessa direção, a empresa já está em processo de aprovações junto à Food and Drug Administration (FDA), a agência americana equivalente à Anvisa.
O mapa da expansão internacional inclui ainda a aquisição recente de uma participação em uma das fabricantes dos produtos da startup na Coreia do Sul. O nome da parceira, assim como o valor do acordo, não foi revelado.
Com a captação, a MedBeauty quer ainda acelerar o plano de ir além dos produtos para se consolidar como uma welltech, startup de bem-estar que desenvolve softwares e serviços digitais para clínicas e profissionais do setor, usando conceitos como inteligência artificial e reconhecimento facial.
O pacote já em desenvolvimento inclui, por exemplo, um sistema já em projeto-piloto que mescla funcionalidades de gestão, relacionamento com os clientes e ainda de treinamento de profissionais para as clínicas clientes.
“Ainda estamos avaliando se tocamos esses projetos apenas com um squad interno ou se partimos para a compra de uma fábrica de softwares”, afirma Miguel. Ele também ressalta que a empresa está em busca de mais recursos, o que pode envolver aportes de fundos de venture capital ou de indústrias do setor.
“A captação das debêntures chamou a atenção para o nosso projeto”, conta. “E, atualmente, já temos conversas, por exemplo, com laboratórios do exterior para um possível investimento na operação.”