Em agosto de 2022, o indiano Gautam Adani alcançou o terceiro lugar no pódio do seleto clube do Bloomberg Billionaire Index, ranking organizado pela agência Bloomberg e que retrata as pessoas mais ricas do mundo. A “medalha de bronze” veio com uma fortuna estimada, na época, em US$ 137 bilhões.
Esse patrimônio tem origem no Adani Group, holding com tentáculos, em especial, no setor de infraestrutura da Índia. Nesta semana, porém, alguns eventos abalaram esse império e, por consequência, a conta bancária do bilionário que, aos 60 anos, é também o homem mais rico da Ásia.
O estopim dos problemas veio à tona na quarta-feira, 25 de janeiro, a partir de um relatório da consultoria Hindenburg Research. Entre outras questões, o material acusa o Adani Group de manter companhias de fachada em paraísos fiscais para lavagem de dinheiro.
A empresa também acusa o grupo de estar no centro “da maior fraude corporativa da história”, além de destacar que a operação tem uma “situação financeira precária”, em função de um endividamento excessivo com alto risco de falta de liquidez no curto prazo.
As reações iniciais do mercado dão uma boa medida do impacto causado pela publicação. As ações de diversos ativos listados do Adani Group registraram uma queda acentuada na bolsa de valores da Índia. Cinco dessas empresas fecharam a sexta-feira com recuos entre 16% a 20% em suas cotações.
Juntas, as sete operações que compõem o grupo perderam o equivalente a cerca de US$ 47 bilhões em valor de mercado. Como reflexo, o Nifty 50, indicador de referência do mercado de ações indiano, registrou o seu menor índice em três meses.
O montante é superior ao valor de mercado da Ambev, que estava em US$ 42,4 bilhões, e do Itaú Unibanco, que na mesma data valia US$ 45,4 bilhões.
Na esteira dessa derrocada, Adani foi superado por Jeff Bezos, o fundador da Amazon, e caiu para o quarto lugar no ranking dos bilionários. Segundo a Bloomberg, ele já acumula uma perda de US$ 7,1 bilhões em seu patrimônio em 2023, estimado agora em US$ 113 bilhões.
No mercado, parte da liquidação das ações foi atribuída a Bill Ackman, fundador e CEO da gestora Pershing Square Management. Por meio de um tuíte, o investidor manifestou seu apoio ao material da Hindemburg Research, ao classificá-lo como “altamente confiável e extremamente bem pesquisado.”
O entendimento é de que a postagem teria assustado os investidores que, a princípio, haviam adotado o benefício da dúvida e uma postura cautelosa em relação ao relatório, à espera de que o Adani Group refutasse, ao menos, parte das acusações.
Na quinta-feira, além de informar que estuda processar a Hindenburg Research, o Adani Group afirmou que o relatório da empresa é uma “combinação maliciosa de desinformação seletiva e de alegações obsoletas, infundadas e desacreditadas”.
A holding também acusou a consultoria de tentar abalar sua reputação e inviabilizar um follow on da Adani Enterprise, principal ativo listado da holding. Na oferta em questão, prevista para ser concluída na próxima terça-feira, 31 de janeiro, a Adani Enterprise está buscando levantar cerca de US$ 2,5 bilhões.
Assim como os últimos desdobramentos, o enriquecimento de Gautam Adani aconteceu, guardadas as devidas proporções, rapidamente. Em 2013, de acordo com a Bloomberg, sua fortuna estava na casa de US$ 1,9 bilhão.
Parte dessa escalada é atribuída por seus detratores à proximidade do magnata com Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. Nesse contexto, o partido indiano de oposição já solicitou que o órgão regulador do mercado de capitais e o banco central do país investiguem o caso.
Fruto ou não dessa conexão, Adani tem investimentos em negócios como aeroportos, portos, usinas de energia e minas de carvão. No segmento de aviação comercial, por exemplo, o grupo controla aeroportos que, na prática, respondem por cerca de 25% de todo o tráfego aéreo da Índia.
Em movimentos mais recentes, o bilionário vem expandindo sua atuação além do país, em mercados como o Sri Lanka, nesse caso, com a construção de terminal portuário. Em paralelo, em seu país, essa ampliação do leque também passa pelo investimento em novos negócios, como os segmentos de data centers, mídia e de energia renovável.
Essas iniciativas vêm na sequência da pandemia, um período no qual Adani turbinou seus ganhos. Um dos números que traduzem essa escalada é o fato de que, em 2022, ele foi a pessoa que mais ganhou dinheiro em todo mundo, ao adicionar US$ 60,9 bilhões ao seu patrimônio.