Em fevereiro de 2021, o fim do contrato entre a Caixa Econômica e a Wiz encerrou uma parceria de 48 anos, diretamente ligada à fundação da empresa. E colocou um ponto de interrogação no mercado: com um histórico de extrema dependência do banco estatal, qual seria o futuro da corretora de seguros?
Na esteira do anúncio, o encerramento oficial das vendas novas de seguros ligadas à Caixa, em setembro, só reforçou esse desafio. Entretanto, passado pouco mais de um ano, não seria exagero dizer que 2021 foi o ponto de partida para que a Wiz mostrasse que pode caminhar com suas próprias pernas.
“Muitos diziam que, se esse contrato fosse perdido, a empresa quebrava, e conseguimos mostrar nossa força e resiliência”, diz Heverton Peixoto, CEO da Wiz, ao NeoFeed. “Tiramos o elefante da sala e, aparentemente, a sala não tem nenhum machucado. A Caixa é uma página virada na realidade da Wiz.”
Alguns números relativos ao quarto trimestre e ao ano de 2021 traduzem como essa nova página da Wiz está sendo escrita. No ano, a empresa reportou um faturamento de R$ 902 milhões. Apesar de uma ligeira queda de 0,4% sobre 2020, Peixoto faz uma outra leitura do indicador.
“Quando essa gestão assumiu, em 2018, faturávamos R$ 655,8 milhões e a Caixa representava 78% desse resultado”, afirma. “Três anos depois, temos uma empresa que fez mais de R$ 900 milhões de top line e que projeta um faturamento entre R$ 920 milhões e R$ 1 bilhão para esse ano.”
As receitas originadas com a Caixa representaram 50% do faturamento, sendo que cerca de 62% desse montante vieram de carteiras já contratadas com o banco e que, gradativamente, vão perder espaço no balanço. Outros R$ 175 milhões foram relativos a vendas novas realizadas até agosto de 2021.
Para Peixoto, os indicadores de outubro a dezembro são ainda mais representativos dessa virada. Entre eles, o lucro líquido de R$ 41,4 milhões, com alta de 23,3% sobre igual período, em 2020, quando a Wiz ainda contabilizava as operações da Caixa. No ano, o lucro líquido avançou 3,1%, para R$ 205,8 milhões.
“Essa é uma marca simbólica muito impactante”, ressalta Peixoto, que destaca ainda outra questão no balanço. “Hoje temos 16 operações, com 12 CNPJs, e a maior delas representa entre 20% e 25% do nosso faturamento. Não temos mais um brutamonte com 70% da nossa receita bruta.”
Sob essa ótica, desde agosto de 2018, quando Peixoto e novos executivos assumiram a gestão da companhia, já com a sinalização da perda do contrato da Caixa, a Wiz passou a investir em uma série de operações para abrir novas fontes de receitas, por meio de parcerias e, principalmente, joint ventures.
Em dezembro de 2021, por exemplo, a corretora criou a Wimo, uma joint venture com a Galapagos Capital na área de crédito. Antes, em setembro, fechou um acordo com a LG Informática, que resultou na BenTech, empresa de produtos de crédito, seguros e benefícios na área de recursos humanos.
Outros acordos anteriores nesses mesmos moldes já deram uma contribuição de maior peso em 2021. É o caso da BMG Corretora, operação de seguros com o banco BMG. Com um faturamento de R$ 218,2 milhões, o negócio representou 24,2% da receita bruta total da Wiz no período.
“O ano passado foi um período de maturação dessas operações novas que colocamos para dentro desde 2018 e que, agora, estão em fase de ramp up”, observa Guilherme Aguiar, diretor de relações com o mercado e de M&A da Wiz.
Ao mesmo tempo, o executivo reforça que o apetite da Wiz por novos acordos não está saciado. “A Wiz não está no ponto de só gerir o que existe dentro de casa”, diz Aguiar. “Ainda estamos ativos e temos espaço para seguir crescendo com nossa estratégia inorgânica.”
Nesses movimentos, a prioridade número um seguirá sendo buscar acordos com instituições financeiras, donas de operações incipientes ou inexistentes de seguros. “Quanto menos maduro o negócio de seguridade nesses balcões, mais mato alto terá para a Wiz”, destaca Aguiar.
Outro segmento na mira dessa estratégia de M&A é o setor automotivo, no qual a Wiz comprou, em 2019, o controle da Barigui Corretora, que deu origem à Wiz Conseg. Uma terceira frente envolve eventuais acordos com varejistas, o que abriria uma nova vertical para o grupo. “Temos conversas avançadas nessas três áreas”, conta Aguiar.
Dentro das unidades que já tomaram o lugar do “elefante na sala”, uma das principais apostas para chegar à marca de R$ 1 bilhão em faturamento em 2022 é a joint venture com o Banco de Brasília (BRB), que entrou em operação em janeiro desse ano, e na qual a Wiz tem uma fatia de 50,1%.
“Esse é um negócio onde, diferentemente da Caixa, a Wiz é protagonista na operação de seguros”, diz Peixoto. “E que, apesar do volume de crédito e de seguros ser muito menor, os resultados e a remuneração são bem superiores, na casa de cinco vezes no top line para cada R$ 1 de seguro vendido.”
A Wiz BPO, braço que atua com a oferta de back office de seguros e produtos financeiros para terceiros, é outro foco para o ano. Nas próximas semanas, a unidade, que já atende mais de 25 seguradoras, será rebatizada para simbolizar um reposicionamento da marca.
Como parte de um processo que envolveu, entre outras iniciativas, a compra de 50,1% da General Claims, insurtech dona de uma plataforma de gestão de sinistros, no fim de fevereiro deste ano, a divisão vai dar mais peso à oferta de tecnologias, plataformas abertas e inteligência artificial.
“Vamos deixar de ser um fornecedor muito exposto a atividades operacionais de baixo valor intelectual para sermos mais especializados em operações hi tech”, explica Peixoto. “Vamos oferecer serviços e tecnologia que desenvolvemos nos últimos anos para os players que não querem ser nossos sócios.”
Enquanto isso, a Wiz, avaliada em R$ 1,1 bilhão, tenta replicar o seu otimismo no mercado de capitais. Desde meados de fevereiro de 2021, quando seus papéis atingiram a menor cotação na B3, na trilha do anúncio do fim do acordo com a Caixa, as ações da empresa acumulam uma valorização de 13,2%. Em 2022, porém, a queda acumulada é de 9,9%.