Para "prever" o futuro, Ray Dalio investiga o passado. Foi olhando também pelo retrovisor que o megainvestidor balizou a estratégia de seu fundo Bridgewater Associates e acumulou um patrimônio de US$ 18 bilhões. Agora, o magnata usa a mesma tática para tentar antever os desdobramentos da crise provocada pelo novo coronavírus.
Verdade seja dita, a pesquisa de Dalio começou quando essa pandemia ainda era um pesadelo distante da realidade isolada em que vivemos. O americano de 70 anos conta que é um hábito seu estudar história e que, há 18 meses, passou a se dedicar a entender o processo de ascensão e queda de impérios.
Seus descobrimentos se tornaram particularmente relevantes agora que algumas das perguntas mais urgentes, do ponto de vista econômico, político e social, seguem sem respostas.
Compartilhando uma prévia de seus estudos nas redes sociais, Dalio pôde se aprofundar um pouco mais no assunto numa versão online do TED Talks, o TED Connects. Sob o holofote desse "evento", que aconteceu na manhã de quarta-feira, 8 de abril, Dalio resumiu o que pensa em uma frase curta e grossa: "não é uma crise, é um colapso".
Dalio menciona que, ao investigar a decadência de alguns impérios, notou certos padrões que se repetem agora:
1) altos níveis de endividamento e taxas de juros extremamente baixas, o que limita os poderes dos bancos centrais de estimular a economia
2) má distribuição de riqueza e polarização política, o que leva ao aumento de conflitos sociais
3) uma potência mundial em ascensão (China) desafiando a potência mundial existente (os EUA), que causa conflitos externos.
"O período análogo mais recente a esse foi entre 1930 a 1945. Isso foi muito preocupante para mim", escreveu o investidor em seu site, o principles.com.
O nervosismo de Dalio se deve ao fato de que aqueles foram os anos que seguiram o que ficou conhecido como a Grande Depressão, e marcou uma geração inteira de americanos. Temendo os mesmos desdobramentos e consequências, centenas de internautas enviaram dúvidas ao investidor – e algumas foram respondidas.
Sua "previsão" quanto ao valor do dólar, por exemplo, é de que a moeda tende a enfraquecer. "A moeda americana é universal. Muita gente e empresas guardam, compram e vendem em dólar. Por conta disso, a procura é muito alta e a oferta está baixa – o que nos ajuda", diz.
Mas o investidor acredita que, eventualmente, ou a demanda será equiparada com a oferta da moeda ou o aumento das dívidas levarão a uma renegociação dos valores e ao consequente declínio da necessidade do dólar. "Quando um desses acontecer, a moeda americana vai se enfraquecer", afirma.
Esse é um dos motivos pelos quais Dalio insiste em dizer que cash is trash – "dinheiro é lixo", em tradução literal. O magnata acredita que é mais eficiente apostar em ações em vez de optar por algo mais seguro, como reter valores em ouro.
"Quando o vírus se espalhou e afetou o balanço das empresas, derrubando os retornos dos investidores, o dinheiro ficou atraente. Mas o que os bancos centrais fizeram? Eles criaram uma tonelada a mais de dinheiro para comprar dívidas e reduzir as taxas de juros, o que tem o efeito de aumentar os ativos que serão mais adequados para o novo ambiente", explicou.
Para além das ânsias financeiras, Dalio cita que sua maior preocupação no período de reestruturação pós-crise não seja feita de maneira que aumente a torta e a sua divisão, o que pode ser realmente danoso para a economia e para o tecido social.
De todas as maneiras, quem tiver meios de se preparar para o impacto, o megainvestidor aconselha a diversificação, mas de uma maneira equilibrada. "O maior erro dos investidores é achar que o que eles têm feito bem nos últimos tempos é o melhor investimento", diz.
Para se resguardar, contudo, Dalio pondera que ao longo de seus anos "esteve mais errado do que certo", e que o compartilhamento de seus estudos e palpites é uma forma de levar todos à reflexão mais densa. O que pode ser uma ótima atividade para a quarentena.
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