O anúncio do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do País no primeiro trimestre de 2025, com crescimento de 1,4% em relação ao trimestre anterior, divulgado na sexta-feira, 30 de maio, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pode ser analisado por meio da metáfora do “copo meio cheio” e do “copo meio vazio”.

De um lado, os dados do desempenho da economia brasileira de janeiro a março confirmam uma trajetória de crescimento regular do PIB – que se repete pelo 17º trimestre consecutivo. Nesse início de ano, puxado pela agropecuária, com um salto impressionante de 12,2%, com ajuda do aumento de investimentos (3,1%, a maior taxa em um ano) e do consumo (1%).

O “copo meio cheio” ainda inclui o resultado bruto do PIB, de R$ 3 trilhões, e o avanço robusto no primeiro trimestre de 2025 na comparação com o mesmo período de 2024, de 2,9%, reflexo de outros indicadores divulgados recentemente, de emprego e renda.

Esses números positivos levaram boa parte dos analistas a prever o adiamento da desaceleração da atividade econômica esperada para o primeiro semestre e reavaliar para cima a previsão de crescimento da economia em 2025, que deve ficar entre 2,5% e 3% - abaixo dos 3,4% de 2024.

O “copo meio vazio” diz respeito aos indicadores que devem continuar impactando negativamente a economia ao longo do ano – inflação, juros e dívida pública -, por sinal, alimentados justamente pelo crescimento do PIB. Com isso, a equação não fecha, uma vez que o aumento do PIB por si só, não é suficiente para a economia manter uma trajetória sustentável de expansão.

Alex Agostini, economista-chefe da agência de risco Austing Rating, chama a atenção para essa contradição, que está virando marca do atual governo, entre resultados positivos do PIB ofuscando os efeitos deletérios no combo inflação, juros e dívida pública.

“O PIB elevado ajuda a alimentar a narrativa do governo de que está fazendo a coisa certa, ou seja, que vai continuar pisando no acelerador da expansão fiscal, o que é confirmado, pelo lado da demanda, com o crescimento do consumo das famílias”, diz Agostini ao NeoFeed.

Segundo ele, o estímulo ao consumo também ajuda a alimentar a inflação e, por tabela, a dívida pública. Isso ocorre porque o Brasil tem restrições nos fatores de produção.

“Quando o PIB cresce muito, a inflação avança na mesma proporção, porque nosso nível de produtividade ainda é muito baixo, por conta das incertezas geradas pela política fiscal frouxa e ambiente político instável, tudo isso leva os empresários a colocarem um freio nos investimentos”, afirma.

Juros altos

Com a dívida pública atrelada ao reajuste do salário-mínimo, crescendo sempre acima da inflação e drenando recursos do Orçamento, Agostini não vê esse crescimento como sustentável no logo prazo.

“Esse quadro vai exigir do Banco Central uma postura ainda mais austera para tentar trazer a inflação para a meta, ou seja, as taxas de juros devem ser mantidas num nível elevado por mais tempo do que a autoridade monetária poderia imaginar”, diz ele.

Para os próximos trimestres, porém, a economia deverá finalmente começar a frear, por causa dos efeitos dos juros elevados.

Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, afirma que o PIB forte no primeiro trimestre, com destaque, pelo lado da oferta, para o setor do agronegócio, mas desempenho ruim da indústria e dos serviços, aliado à alta de investimentos pelo lado da demanda, mostra que a desaceleração ainda não está ocorrendo.

Mas observa que a política monetária está operando com juros elevados, bem superiores ao nível neutro e, portanto, em modo claramente contracionista e já há algum tempo. Segundo ele, isso significa que a desaceleração virá ao longo do ano, colaborando para reancorar as expectativas de inflação.

“Minha visão é de que o Banco Central deve interromper as altas de juros, mas manter a Selic elevada por um tempo considerável antes de começar a reduzir, de olho nos dados novos de atividade e inflação e nas expectativas”, diz Salto ao NeoFeed.

De acordo com o economista, o PIB trimestral forte não altera, por si só, essa perspectiva, até porque a política monetária tem uma defasagem em relação à atividade econômica, mas os efeitos vão aparecer: “É o que se pretende, aliás, com uma política monetária tão restritiva, isto é, desaquecer a atividade para fazer com que as expectativas de inflação convirjam.”