O aguardado discurso de Jerome Powell no simpósio econômico de Jackson Hole, nesta sexta-feira, 22 de agosto, foi visto como uma oportunidade para que o presidente do Federal Reserve (Fed) enviasse diversos recados ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem trabalhando abertamente para derrubá-lo.
Na prática, o chefe da Casa Branca recebeu uma boa e uma má notícia. O lado positivo foi a confirmação de que Powell, que tem resistido às inúmeras críticas públicas de Trump, começa a diminuir parte dessa blindagem e caminha para atender o principal pleito do presidente - a redução da taxa de juros nos Estados Unidos.
O presidente do Fed afirmou que os riscos econômicos, que ele considera “em mudança”, reforçam o argumento para o processo de redução de juros pela instituição. “Com a política em território restritivo, a perspectiva básica e o equilíbrio de riscos em mudança podem justificar um ajuste em nossa postura de política monetária”, diz Powell, segundo informou o Financial Times.
Nos Estados Unidos, o mercado financeiro reagiu com otimismo às declarações do homem-forte do Fed. O rendimento do título do Tesouro de dois anos, sensível às expectativas de política monetária, caiu 0,07 ponto percentual, para 3,72%. O índice S&P 500, referência de Wall Street, subiu 1,2%.
E não foi só nos Estados Unidos que o pronunciamento de Powell causou impacto. Os mercados internacionais apresentaram alta, principalmente índices europeus e asiáticos. As ações chinesas seguiram em elevação, levando o CSI 300, índice do mercado de ações da China, a ganhos significativos. Por volta de 13h (horário de Brasília), a valorização alcançava 2,10%.
Nesse mesmo período, o Ibovespa registrava alta de 2,16%, e ultrapassa 137 mil pontos, impulsionado justamente a partir da divulgação do discurso do presidente do Fed. O dólar também está em queda, sendo negociado a R$ 5,42.
Na avaliação de investidores estrangeiros, o discurso mostrou o presidente do Fed mais aberto a uma redução nos juros já na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FMOC), que acontece em setembro. A perspectiva é de que ele apoie um corte de 0,25 ponto percentual.
O discurso de Powell ocorre em um momento decisivo para o Fed. O presidente Donald Trump e seus principais aliados lançaram uma dura campanha contra Powell e outros dirigentes do banco central dos Estados Unidos, insistindo que a instituição deveria cortar agressivamente as taxas de juros.
O Fed, no entanto, manteve sua taxa básica na faixa de 4,25% a 4,5% neste ano, após cortes de um ponto percentual em 2024. A próxima reunião da instituição está marcada para os dias 16 e 17 de setembro.
A notícia ruim que Powell trouxe, no entanto, ao presidente Donad Trump está diretamente relacionada ao tarifaço global adotado pela Casa Branca e a escalada tarifária com vários parceiros comerciais, que vem gerando, ao longo dos meses, clima de tensão entre vários países do mundo.
O risco maior é pelo impacto na inflação dos Estados Unidos, a partir da entrada menor de produtos estrangeiros, e que têm forte influência nos preços para o consumidor. Segundo Powell, “os riscos para a inflação estão inclinados para cima, e os riscos, para o emprego, para baixo, o que gera uma situação desafiadora”.
Um relatório de julho sobre o mercado de trabalho, que mostrou forte desaceleração nas contratações nos últimos meses, levou muitos bancos americanos e investidores a avaliarem um corte de juros já em setembro.
Mas alguns dirigentes do Fed continuam preocupados que, embora ainda não mostrem grande impacto das tarifas, os preços ao consumidor possam subir nos próximos meses.
A gigante varejista Walmart alertou recentemente que as tarifas estavam começando a pressionar seus custos, à medida que a empresa gira estoques comprados antes da imposição das taxas. Uma leitura mais elevada dos preços ao produtor também apontou para um possível aumento futuro da inflação.
Os governadores do Fed Michelle Bowman e Christopher Waller discordaram da decisão do banco central de manter as taxas estáveis em julho, argumentando que já deveria começar a reduzir os custos de empréstimo a partir dos níveis restritivos.
A decisão de Adriana Kugler de renunciar como diretora do Fed, no início do mês, abriu caminho para Trump indicar Stephen Miran, assessor econômico da Casa Branca que compartilha da visão do presidente sobre juros, para o conselho do banco central. Se aprovado pelo Senado, Miran poderá participar da reunião do FOMC em setembro.