Um dos temas em alta na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP 27, em novembro de 2022, foram os pedidos aos órgãos internacionais de financiamento para que ampliassem os recursos para enfrentar os impactos climáticos, especialmente nos países em desenvolvimento.
Dois meses depois, essas mensagens parecem ter ecoado no Banco Mundial. O braço de financiamento está buscando expandir amplamente sua capacidade de empréstimos para lidar com as mudanças climáticas e outras crises globais, relacionadas a temas como segurança alimentar.
Segundo um documento obtido pela agência Reuters, o banco irá negociar uma série de propostas com seus acionistas antes de uma reunião que será realizada em abril. Um dos pontos a serem discutidos é um potencial aumento de capital.
A pauta também inclui mudanças na estrutura de capital do banco para liberar mais empréstimos e novas ferramentas de financiamento, como garantias para empréstimos do setor privado e outros formatos para atrair mais recursos da iniciativa privada.
“Para que o Banco Mundial siga desempenhando um papel central no desenvolvimento e no financiamento climático, será necessário um esforço conjunto dos acionistas e da administração para aumentar a capacidade de financiamento”, ressaltou o banco, no documento.
Como parte do roteiro traçado, o plano é ter propostas concretas de mudança de missão, do modelo operacional e da capacidade financeira prontas para a aprovação pelo comitê conjunto de desenvolvimento do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, em outubro.
Apesar de ressaltar que irá explorar todas as alternativas para ampliar sua capacidade, o Banco Mundial indica que não irá atender aos pedidos para que abandone a exigência de um rating de crédito na classificação AAA para a concessão dos empréstimos.
Em contrapartida, o banco sinaliza que as propostas em análise envolvem, por exemplo, limites estatutários de empréstimo mais elevados, requisitos de capital mais baixos e o uso de capital exigível – o recurso prometido, mas não pago pelos governos membros – para empréstimos.
Para especialistas, essas alternações no modelo criariam condições de ampliar consideravelmente o volume de empréstimos comparado com o formato atual, que utiliza apenas capital integralizado.
Outra opção em avaliação é o aumento das contribuições periódicas dos países acionistas do Banco Mundial para a Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA, na sigla em inglês), organismo de empréstimos voltados a países mais pobres.
O documento também trabalha com a alternativa de criar um novo fundo fiduciário de empréstimos para países em desenvolvimento, semelhante à IDA, com aportes regulares de fundos separados da estrutura de capital do Banco Mundial.
“Esse fundo pode atrair recursos bilaterais de doadores separados das linhas orçamentárias dos acionistas que apoiam o Banco Mundial e potencialmente incluir doadores além dos acionistas, como fundações privadas”, observa o banco.
Um dos países que demandam esses recursos, o Brasil esteve no centro de um projeto recente do Banco Mundial, com a participação do Banco do Brasil. Aprovada no fim de dezembro de 2022, a iniciativa envolveu a aprovação de um financiamento de US$ 500 milhões.
O Banco Mundial destacou que esse montante será destinado à expansão dos financiamentos vinculados à sustentabilidade e ao fortalecimento da capacidade do setor privado acessar os mercados de crédito de carbono.
O órgão acrescentou que o projeto também deverá mobilizar até US$ 1,4 bilhão em capital privado, por meio da ampliação do financiamento do Banco do Brasil e de investidores privados.